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Eram 17h17 quando a terra de Mara Rosa tremeu. E, como uma onda, fez tremer o solo de outras cidades goianas, tocantinenses e do Distrito Federal. Atento, o Observatório Sismológico da Universidade de Brasília registrou: terremoto de 4,6 pontos na escala Richter. O fenômeno que durou entre 20 e 30 segundos estava há anos sendo programado pela natureza. A instabilidade da região foi apontada, mais de uma vez, pelo professor do Instituto de Geociências, José Oswaldo de Araújo Filho. Estudos conduzidos por ele mostram que Mara Rosa fica sobre uma falha de pelo menos 2,7 quilômetros de extensão. Ela atravessa o Brasil do Nordeste ao Centro-Oeste e Sudeste e pode chegar até à Argentina. “Outros tremores podem ocorrer”, avisa.
Há sete anos, o professor estuda os deslocamentos de blocos geológicos localizados ao longo da abertura, formada há aproximadamente 500 milhões de anos, muito antes da existência do oceano Atlântico. Em entrevista à UnB Agência, ele derruba a ideia de que o Brasil está livre de terremotos. “A diferença é que aqui eles ocorrem com menor intensidade”, afirma.

UnB Agência: O que causou o terremoto?

José Oswaldo: A cidade de Mara Rosa, epicentro do tremor, fica em cima de uma falha geológica que começa no litoral noroeste do Ceará, é encoberta por rochas da bacia do Parnaíba e aparece de novo de centro de Tocantins e em Goiás e é encoberta novamente por rochas da bacia do Paraná, nos estados de Mato Grosso do Sul e oeste de São Paulo. A falha é, na verdade, é formada por uma serie de falhas menores, paralelas, chamada de Lineamentos Transbrasilianos. Estudos indicam a possibilidade de que ela se estenda até o noroeste da Argentina. O terremeto foi causado por uma movimentação de blocos geológicos localizados na região dessa falha. Há sete anos, estudo essa falha e tenho falado sobre a instabilidade da região por onde ela aparece.

UnB Agência: Como essa movimentação ocorre?

José Oswaldo: Como a falha é muito grande, é comum que blocos menores tentem se deslocar para se acomodar melhor. Mas para se movimentar eles têm de vencer o atrito que existe entre suas próprias superfícies, que são irregulares. Então, passam períodos, que podem ser curtos ou longos, resvalando uns nos outros, tentando se deslocar. Enquanto fazem isso, vão acumulando energia. Quando a energia atinge um ponto crítico, o deslocamento acontece e a energia é liberada, causando o tremor que chamamos de terremoto. Esse deslocamento pode ser pequeno, porém causar grande impacto. A intensidade vai depender da energia liberada e de sua profundidade de geração.

UnB Agência: Podem ocorrer novos terremotos?

José Oswaldo: Sim, mas as estatísticas indicam que os tremores associados à falha são de pequeno e médio porte, o que não significa que não podemos ser surpreendidos por um tremor um pouco mais intenso. A geologia parece um pouco com a medicina. Falamos em probabilidades, não em certezas. O Brasil não está livre de terremotos, mas aqui eles ocorrem em baixa intensidade. Agora, é importante destacar que a Terra treme a todo o tempo. Tenho certeza de que neste instante Mara Rosa está tremendo, mas com uma intensidade que não podemos sentir. Há outras cidades goianas sobre a falha, como Porangatu, Novo Planalto, Estrela do Norte, Santa Terezinha de Goiás. Seria interessante que tivéssemos construções mais reforçadas pelo menos naquela região.

UnB Agência: Há quanto tempo a falha é conhecida?

José Oswaldo: A falha é conhecida pelos geólogos há pelo menos 40 anos, mas, por ser muito grande, é pouco estudada. Nos últimos três anos, houve uma retomada do interesse, especialmente pela Petrobras. Por atravessar terrenos muito antigos, há uma suspeita de que existam minérios importantes na região da falha, talves até Petróleo e gás natural.

UnB Agência: Qual a origem da falha?

José Oswaldo: A falha é mais antiga que o oceano Atlântico. Surgiu quando os continentes americano e africano ainda estavam interligados. A separação não a eliminou, apenas a dividiu. Na África, ela tem aproximadamente 2,3 mil quilômetros de extensão. Ela se inicia no Golfo de Guiné, em Togo e Benin, e segue pela parte ocidental da África até o sul da Argélia. Ao longo dos anos, a falha foi reativada por outros deslocamentos mais recentes.

UnB Agência

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