Uma de suas vantagens (em comparação com os vetores virais) é que eles veiculam informação genética sem inserir um gene de forma definitiva no DNA de uma pessoa, animal ou planta de uma pesquisa – e assim evita-se a ocorrência de mutações. São usados para multiplicar genes específicos e para produzir grandes quantidades de proteínas. E ainda para entender a função dos genes.
Uma vez construídas em laboratório, essas moléculas podem durar para sempre – desde que conservadas de maneira adequada. Os pesquisadores podem e costumam com frequência compartilhar os plasmídeos exclusivos desenvolvidos em seus laboratórios.
Mas, para isso, é preciso que estejam corretamente identificados e armazenados. Após ouvir muitas histórias de perdas de material – seja por falta de espaço no freezer, por mudanças do local de trabalho ou de etiquetas com identificações precárias –, Melina Fan, PhD em Biologia Celular pela Harvard University, Benjie Chen, PhD em Ciência da Computação pelo MIT, e Kenneth Fan, formado em Engenharia da Computação pela Tufts University, criaram em 2004 nos Estados Unidos a organização sem fins lucrativos Addgene.
Com sede em Cambridge, no estado de Massachusetts, a organização montou um repositório de plasmídeos que busca facilitar a localização, o pedido e o recebimento dessas moléculas por pesquisadores. Os cientistas podem manter aí seus plasmídeos (de preferência os que já tiveram pesquisas publicadas) – de graça – e encomendar moléculas que julguem interessantes para suas pesquisas.
A maior parte dos plasmídeos tem um custo de US$ 65 por pedido. De acordo com a organização, há descontos para pedidos grandes. “As taxas são para operacionalizar o repositório e fazer um controle de qualidade dos plasmídeos”, disse em um artigo da revista Lab Times Joanne Kamens, diretora executiva da organização e PhD em Genética de Harvard, que ainda tem experiência de 15 anos no centro de pesquisas da indústria farmacêutica Abbott. “Ao cobrar uma pequena taxa para cada uma das solicitações, a Addgene se mantém e não depende de fundos externos.”
Atualmente, apenas organizações não governamentais e universidades podem encomendar plasmídeos, mas a ideia é abrir ao menos parte da coleção também para a indústria. Nesses quase dez anos, a organização já distribuiu 320 mil plasmídeos pelo mundo. Somente em 2012, foram 60 mil.
No fim de setembro de 2013, estavam disponíveis mais de 25 mil plasmídeos e kits para pesquisadores, que haviam sido depositados por mais de 1,6 mil laboratórios de todo o mundo. Metade dos pedidos vem de pesquisadores de fora dos Estados Unidos, informou a organização. Entre as instituições brasileiras que mais fazem solicitações estão Universidade de São Paulo (USP), Centro Infantil Boldrini (de Campinas), Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), Centro Nacional de Pesquisa em Energia e Materiais (CNPEM), Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e A.C. Camargo Cancer Center.
Entre os principais depositantes de plasmídeos estão pesquisadores da École Polytechnique Fédérale de Lausanne, na Suíça, da Universidade de Kyoto, no Japão, e da Harvard Medical School, nos Estados Unidos.
Todos os depositantes recebem uma lista detalhada dos laboratórios que encomendaram seus plasmídeos, o que, segundo a diretora executiva, pode ser útil depois, no momento de pedir financiamento à pesquisa, além de permitir o rastreamento do material produzido por eles.
“Muitos depositantes se surpreendem em ver o quanto seus plasmídeos são utilizados quando são encontrados como facilidade no banco de dados e em como isso leva a mais publicações e citações do artigo original”, disse Kamens.
Além de arquivar e distribuir plasmídeos, a Addgene também promete padronizar as informações (ela dispõe de um banco de dados on-line), facilitar os acordos legais exigidos para transferências e desenvolver práticas de controle de qualidade. O site da Addgene recebe cerca de 11 mil visitantes por dia. A organização informa que o tempo médio de aprovação dos pedidos, por meio de acordos de transferência de material, é menor que 36 horas.
“Se um centro de recurso biológico como a Addgene não estivesse arquivando e distribuindo esses valiosos reagentes, eles seriam muito menos acessíveis à comunidade científica”, afirmou Kamens em outro artigo, publicado na Nature Biotechnology.
Os diretores da organização perceberam em 2013 um aumento na distribuição de plasmídeos a pesquisadores brasileiros, em especial aos paulistas, mas acreditam que o serviço ainda não seja muito conhecido pela comunidade no país.
“Os cientistas brasileiros são muito bem-vindos para depositar plasmídeos na Addgene ou solicitar plasmídeos publicados, aumentando a eficiência de sua pesquisa, colaborando com cientistas e pesquisadores internacionais, aumentando a visibilidade de suas publicações e, por fim, fazendo avançar a ciência e as descobertas”, afirmou Shikhar Bhattarai, analista financeiro da Addgene, à Agência FAPESP.
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