“Havia uma percepção em Brasília de que a questão da nanotecnologia deveria ser tratada de uma forma mais ampla. Foram tomadas duas atitudes extremamente interessantes, com a criação do SisNano – cuja função é credenciar laboratórios que já atingiram um nível elevado na área – e do Comitê Interministerial de Nanotecnologia (CIN), que tem sido chamado de ‘governança da nanotecnologia’ e concentra as demandas canalizadas por nove ministérios”, explicou Alves ao portal da Unicamp.
“Foi aberto um edital para laboratórios nacionais, como o LNNano [Laboratório Nacional de Nanotecnologia] e o CBPF [Centro Brasileiro de Pesquisas Físicas], e para laboratórios associados, categoria na qual participamos”, disse Alves.
De acordo com o regulamento do SisNano, laboratórios associados como o NanoBioss deverão dedicar 15% do seu tempo disponível ao relacionamento com o setor produtivo, na forma de atividades em pesquisa e desenvolvimento e serviços técnico-tecnológicos de alta complexidade.
Trabalhando há muitos anos em colaboração, LQES e LQB, agora fundidos, somam mais de 60 patentes, com transferência de tecnologia e produtos já comercializados.
“A nanotecnologia não pode estar dissociada do setor empresarial. Esse envolvimento é o ponto mais importante. Antigamente fazíamos ciência e publicávamos artigos em revistas internacionais, mas isso já não basta. Nosso grupo produz muitas patentes, o que significa que a invenção e a inovação estão inseridas em nossas pesquisas”, disse Durán.
O início das atividades do NanoBioss foi marcado pela realização do “Workshop on Nanobiotechnology”, em 27 de março, no Instituto de Química. O evento atraiu 35 participantes, entre professores, pesquisadores e alunos de pós-graduação, e teve apoio do Instituto Nacional de C,T&I em Materiais Complexos Funcionais, da FAPESP e do CNPq.
“Foi muito proveitoso, principalmente porque os nossos trabalhos foram apresentados pelos estudantes, que puderam interagir com pesquisadores mais experientes da Índia, Argentina e Chile”, disse Alves.
De acordo com Alves, tanto o seu grupo de pesquisadores como o de Durán vêm trabalhando em diferentes aspectos das nanotecnologias, sobretudo os relacionados com os riscos que ela pode oferecer.
“Decidimos fundir os dois laboratórios tendo como proposta de trabalho, basicamente, a síntese avançada de nanoestruturas e a interação destas com sistemas biológicos. Isso para gerar um conjunto importante de dados que eventualmente possa ser utilizado para subsidiar o marco regulatório da nanotecnologia – processo que se tornou bem mais intenso com a entrada muito forte da Anvisa no sistema”, explicou.
Durán, que também coordena a Rede Brasileira de Nanotoxicologia (Cigenanotox), observa que depois de desenvolver, caracterizar e verificar as aplicações de um produto é necessário atentar para o que ocorre em termos de toxicidade na sua interação com o meio ambiente.
“A Cigenanotox está dedicada a resolver esse tipo de problema, ainda pouco estudado no Brasil e um pouco mais na Europa. Temos certo pioneirismo nas pesquisas sobre essa interação entre nanotecnologia e sistemas biológicos. Tanto que estamos lançando pela Editora Springer o livro Nanotoxicology: Materials, Methodologies and Assessments, organizado por mim, Oswaldo Alves e Silvia Guterrez”, disse Durán.
Na opinião de Alves, o atendimento da proposta apresentada ao SisNano colocará o NanoBioss em posição de destaque, pois foram solicitadas máquinas praticamente inexistentes no país.
“O foco do laboratório é a produção de amostras de alta qualidade que possam servir de substratos para ensaios biológicos complexos. Vamos continuar fazendo pesquisa básica e um dos pontos que queremos atingir futuramente é o nosso credenciamento na FDA [Food and Drug Administration], órgão do governo dos Estados Unidos, ingressando no processo interlaboratorial mundial”, disse Alves.
“A nanotecnologia passa por um grande momento e deve contar com uma regulação equilibrada para evitar preocupações em termos de opinião pública ou descontinuidade de recursos financeiros. Precisamos dar uma resposta positiva em relação à segurança dos produtos com nanotecnologias embarcadas”, disse.
Agência FAPESP