Após reformulação no departamento, duas novas modalidades de transplante foram realizadas no Hospital São Paulo, visando contornar a falta de doadores. O pequeno Arthur da Silva Farias, de 5 meses, que sofria de atresia das vias biliares (problema congênito, que consiste na inexistência do canal da bile), necessitava urgentemente de um transplante de fígado. Seu pai, Marcelo Araújo Farias, marceneiro de 25 anos, se prontificou a ser o doador, caso seus exames apontassem a compatibilidade com o filho.
No dia 27 de fevereiro, os cirurgiões Adriano Miziara, coordenador do
transplante de fígado, e Alcides Salzedas, coordenador de transplante
de fígado pediátrico, realizaram o primeiro transplante inter vivos de
fígado do Hospital São Paulo, pelo Sistema Único de Saúde (SUS).
“Constatada a compatibilidade do pai, retiramos 25% do órgão e
implantamos no bebê. A parte do fígado implantada já começa a trabalhar
assim que é realizada a cirurgia e o fígado do pai se regenera em
aproximadamente um mês”, afirma Miziara.
Os transplantados passam bem e Marcelo, pai de Arthur, diz se sentir
aliviado com a recuperação do filho. “De uma semana para outra ele
ganhou peso e está mais esperto”. De acordo com o cirurgião pediátrico
Salzedas, a recuperação do receptor, na maioria dos casos, é muito boa
e, saindo da fase aguda do pós-operatório, a qualidade de vida é quase
como a de um indivíduo normal.
O transplante entre pessoas vivas é uma das soluções encontradas para a
insuficiência de órgãos conseguidos de cadáveres. “É uma chance de
acelerar e diminuir a espera angustiante por um órgão e pela possível
cura”, explica Salzedas. O número de pacientes que aguardam um fígado
soma, entre adultos e crianças, 3.438 pessoas (dados da Secretaria de
Estado da Saúde).
Até hoje, foram realizados cerca de 400 transplantes pediátricos no
Estado de São Paulo e, destes, 26 no HSP. Em relação ao transplante
entre pessoas vivas, 148 foram contabilizados pela Associação
Brasileira de Transplante de Órgãos (ABTO) no ano de 2007.
Dentre os tipos de transplantes de fígado que o HSP está apto a
realizar estão os de cadáver, redução (usa-se apenas uma parte do
fígado), split (divide-se o fígado em dois) e, mais recentemente, os
chamados dominó (reaproveitamento de órgão entre pessoas vivas) e inter
vivos (em casos extremos).
Efeito Dominó
Esse tipo de transplante recebe esta denominação porque o fígado de uma
pessoa viva é repassado para outra, enquanto a primeira receberá o
órgão de um cadáver. Ou seja, nesse caso, duas pessoas são
beneficiadas. O fígado do paciente A, funciona bem, mas, durante a
vida, aproximadamente 20 a 30 anos, desenvolveu um problema e agora
necessita de um transplante para poder se curar.
O paciente B, que tem uma patologia grave, necessita urgentemente de
transplante e já tem uma idade avançada, pode ser um candidato a
receber o fígado do paciente A. “Esse transplante salva a vida do
paciente B, considerado grave, e dá a ele uma perspectiva de vida de
mais 20 anos”, explica Marcelo Linhares.
Esse tipo de transplante é realizado há 15 anos no Brasil e, no mês
passado, o HSP realizou o primeiro, também pelo SUS. “O transplante foi
um sucesso e a paciente, uma mulher de 60 anos, passa bem”, conta
Miziara. Mais um paciente está sendo preparado para esse mesmo
procedimento, que será realizado no próximo mês de junho.
Unifesp Agência