Por meio de análise integrativa do transcriptoma e do microRNoma, Garcia e colegas revelaram que há um remodelamento da matriz extracelular durante a atrofia muscular na caquexia associada ao câncer, o que pode levar a novos alvos terapêuticos para combater a síndrome.
A caquexia acomete principalmente pacientes com alguns tipos específicos de tumores, como de pulmão, pâncreas e de cabeça e pescoço. Pode ocorrer ainda em outras doenças, como a Aids. É caracterizada por uma progressiva perda de massa muscular que não pode ser completamente revertida com suporte nutricional e que fragiliza ainda mais os pacientes.
Sarah Santiloni Cury foi outra das 10 selecionadas por um comitê para apresentação oral. Ao final do evento, os resultados de seu estudo foram indicados entre os destaques da conferência.
Durante o mestrado de Cury, atualmente fazendo estágio na Universidade do Sul da Dinamarca (SDU), o grupo de pesquisa identificou potenciais biomarcadores de caquexia por meio da análise de tomografias de pacientes com baixa muscularidade e de proteínas secretadas pelo tumor de pulmão dos mesmos.
O cruzamento das informações levou à identificação de algumas proteínas que podem ser as responsáveis por causar a atrofia dos músculos nos pacientes com câncer de pulmão. Mais de 60% dos portadores desse tumor sofrem de caquexia, que leva a um aumento da morbidade e a um pior prognóstico da doença.
Novos caminhos
Para chegar aos resultados que lhe renderam o prêmio de melhor apresentação oral, Garcia realizou uma análise molecular dos músculos de camundongos caquéticos, em decorrência de câncer de pulmão, e de outros saudáveis.
“Ao integrar a informação dos RNAs mensageiros e dos microRNAs, detectou-se que existe uma alteração em um conjunto de moléculas da região que envolve a célula muscular, a chamada matriz extracelular, nos animais com caquexia”, disse Carvalho, que coordenou o estudo.
O modelo experimental traz novos caminhos para entender o que causa a caquexia em pacientes não só com câncer de pulmão, como com outros tumores.
Já o trabalho de Cury analisou o perfil de mRNAs e proteínas secretadas pelos carcinomas que acometeram pacientes com perda de massa muscular e de outros que, apesar do tumor, não tiveram perda.
Os pacientes foram selecionados a partir de tomografias publicadas em outro trabalho que analisou apenas os tumores. “Como eram tomografias da região torácica, percebemos que poderíamos usar as mesmas imagens para avaliar os músculos dessa região e separar pacientes potencialmente caquéticos dos que não sofriam desse problema”, disse Carvalho, que também coordenou o estudo.
As proteínas que são secretadas nos pacientes com perda de massa podem ser potenciais mediadores ou biomarcadores da caquexia em portadores de câncer de pulmão. Esse é outro caminho para encontrar possíveis tratamentos e realizar o diagnóstico precoce dessa síndrome.
Agência FAPESP