O dinheiro será destinado à pesquisa de novas moléculas para o desenvolvimento de agentes anti-infeciosos e de medicamentos contra o câncer.
A Embrapii financiará R$ 1,8 milhão por empresa com recursos não reembolsáveis, ou seja, sem a necessidade de devolução do montante. Cada farmacêutica investirá aproximadamente um terço do montante do projeto. A Unicamp vai oferecer infraestrutura física e recursos humanos para a realização dos trabalhos.
“O objetivo do CQMED é desenvolver projetos de inovação em parceria com a indústria farmacêutica. Nossa meta é firmar contratos com pelo menos cinco empresas nos próximos seis anos”, disse Katlin Massirer, pesquisadora da Unicamp e coordenadora do CQMED ao lado de Paulo Arruda.
O modelo open science adotado desde a criação do centro será mantido, bem como a colaboração com o Structural Genomics Consortium (SGC) – parceria público-privada que reúne mais de 300 cientistas de universidades, indústrias farmacêuticas e entidades sem fins lucrativos de apoio à pesquisa de vários países.
O escopo das pesquisas, porém, foi ampliado. Originalmente, o objetivo era estudar as proteínas quinases – classe de enzimas responsável por regular processos importantes do organismo e, portanto, alvo prioritário para o desenvolvimento de fármacos.
Agora, os projetos poderão ter como foco qualquer proteína-chave para o tratamento de doenças, entre elas câncer, leishmaniose, malária e Chagas.
“A principal tarefa do centro continua sendo o desenvolvimento de sondas químicas, que são compostos capazes de inibir a atividade de proteínas-alvo de forma muito específica, sem interagir com outras moléculas do organismo e que são capazes de penetrar em células. Para isso, contamos com a colaboração das farmacêuticas, que sintetizam os compostos que pretendemos testar e nos auxiliam nas análises dos resultados”, contou Massirer.
A proposta é que todos os achados sejam divulgados abertamente até que uma molécula de interesse da farmacêutica seja identificada. A partir desse ponto, a empresa assume a tarefa de aperfeiçoar e validar o composto em modelos de doenças, além de cumprir as demais etapas necessárias para o desenvolvimento de um fármaco.
O fato de o centro estar vinculado à rede SGC facilita a colaboração internacional e o intercâmbio de experiências, conhecimentos e profissionais. Traz ainda outras vantagens para as empresas, como divisão de risco, economia de recursos financeiros e redução da redundância na pesquisa, evitando testes desnecessários com moléculas que já falharam em estudos anteriores.
Como explicaram os coordenadores do CQMED, o foco das pesquisas no modelo de ciência aberta são as primeiras etapas do desenvolvimento de fármacos, nas quais cerca de 95% das moléculas candidatas falham.
Parceria público-privada
O grupo da Unicamp já mantinha colaboração com o Aché desde 2016, no âmbito de projeto apoiado pelo programa PITE-FAPESP.
“Os trabalhos em andamento continuam e novos alvos de estudos foram incluídos graças ao novo financiamento. A partir deste momento, alocamos também um coordenador científico [Rafael Counago] do grupo dedicado a estes dois projetos Embrapii”, disse Massirer.
Segundo ela, a experiência adquirida na parceria com o setor privado foi fundamental para que o projeto do CQMED fosse selecionado no edital lançado pela Embrapii.
“Para poder concorrer, a universidade precisa mostrar que é capaz de atrair dinheiro privado. O fato de termos um projeto PITE-FAPESP nos ajudou nesse aspecto, além de nos garantir a infraestrutura adequada de equipamentos e pessoal”, disse.
O centro, que começou com apenas cinco integrantes, já conta com uma equipe de 30 pessoas. Além dos projetos PITE e Embrapii, o grupo também conquistou, em 2017, financiamento por meio do programa Institutos Nacionais de Ciência e Tecnologia (INCTs) – mantido pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e apoiado pela FAPESP. O objetivo, nesse caso, é fomentar parcerias de perfil mais acadêmico para explorar o potencial de genes relevantes para a medicina.
Agência FAPESP