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Não é só para produção de energia e bombas atômicas que serve a pesquisa nuclear. A área médica é um campo em que se aproveita bastante desse conhecimento e sua presença é mais próxima do que muitos de nós imaginamos: um simples exame de raio-x envolve tecnologia nuclear e radioativa. Segundo o vice-diretor da Escola Politécnica (Poli) da USP, José Roberto Castilho Piqueira, mais de dez mil atendimentos médicos são feitos no Brasil por dia, a partir de tecnologia nuclear.
“A tecnologia nuclear é importantíssima na vida das pessoas, e inclui atividades que abrangem desde energia e defesa, até saúde e agricultura”, afirma o profesessor.

É neste contexto que a Poli vem se preparando para entrar no rol das instituições que formam engenheiros nucleares desde a graduação.  Não há uma data definida para a abertura do novo curso, ou sua inclusão no vestibular da Fuvest, mas já se sabe que,  de início, serão 60 vagas, oferecidas em Iperó (região de Sorocaba, em São Paulo), mesmo local do Centro Experimental de Aramar (CEA). É lá que a Marinha, uma das parceiras da Poli na empreitada, desenvolve parte do programa nuclear brasileiro. A infra-estrutura física para o curso ainda está  sendo projetada, e estima-se que em 2013 as obras sejam iniciadas.

Piqueira explica que os engenheiros especialistas nessa área formaram-se praticamente sozinhos, buscando cursos no exterior e pesquisando. “Queremos dar essa formação para o jovem, facilitar seu caminho”, diz o professor. Ainda de acordo com ele, dominar esse tipo de tecnologia é estratégico para o Brasil se consolidar como uma liderança econômica e política global. “Quando [um país] desenvolve tecnologia, é levado mais a sério”, completa.

    “Quando [um país] desenvolve
    tecnologia, é levado mais a sério".

Muitos ainda consideram o manuseio da tecnologia nuclear um risco que não vale a pena, mas o vice-diretor rechaça o que vê como preconceito: “há essa ‘demonização’ da energia nuclear por parte de algumas pessoas”, lamenta. Segundo ele, mesmo estas pessoas devem concordar que quanto mais se conhece sobre a energia e a tecnologia nuclear, melhor.

Parceria

Baseado em um conceito multidisciplinar da engenharia nuclear, o curso estuda a construção de uma grade curricular abrangente, mas sem perder a profundidade do tema. Para isso, fazem parte do projeto além da Poli, a Marinha do Brasil e o Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares (Ipen). “A Marinha é uma parceira de longa data da Escola. O curso de Engenharia Naval surgiu de uma associação entre Marinha e Poli. Já o Ipen, nasceu aqui dentro e há mais de 50 anos mantemos projetos em parceria. Somos praticamente irmãos”, explica o professor.

A Marinha já doou uma parte de seu terreno em Aramar para construção das instalações para o novo curso. Nessa mesma região, o Ipen constroi o Reator Multipropósito Brasileiro (RMB), utilizado para a produção de radioisótopos ligados à medicina. Assim, unem-se Marinha, Ipen e Poli no desenvolvimento da pesquisa nuclear brasileira, que têm entre os objetivos finais a construção de um submarino nuclear, com entrega prevista para 2025 . Segundo Piqueira, professores, pesquisadores e alunos da Poli “terão papel de liderança nos projetos nucleares brasileiros pela expertise que a Escola têm nessa área”.

Estrutura curricular e a Universidade

A grade do curso ainda está em fase de elaboração, mas já se tem as diretrizes do tipo de profissional que o curso formará. “Não vamos ensinar nossos alunos a fazer usinas, embora ele seja capaz disso”, explica Piqueira. O curso está baseado em três pilares: o primeiro, da mineração e materiais, mostrando os processos de enriquecimento de urânio e outros elementos. O segundo é a parte de informática, já que a Engenharia Nuclear requer uma Engenharia Computacional “bastante sofisticada” para se desenvolver. Por último, a parte mais evidente, que é a energética. Além disso, os primeiros anos reservam um ciclo básico de Cálculo, Física e Química comum aos outros estudantes da Poli.

Nesse sentido, uma das ideias para a estrutura curricular do curso, é um ciclo inicial de três anos, realizados quase integralmente na Cidade Universitária, em que o aluno recebe uma habilitação – ainda não se sabe qual – em que ele poderá desenvolver alguns tipos de trabalhos, mas não todos. Para os que quiserem avançar no curso, mais dois anos que serão realizados em Aramar, onde haverá um foco maior para as subáreas da Engenharia Nuclear. Um diploma mais específico será oferecido.

Piqueira explica que essa é apenas uma possibilidade e que ainda não há nada definido. “Estamos conversando com professores da Poli, pesquisadores do Ipen e especialistas da Marinha sobre a melhor forma de habilitarmos nossos alunos. O processo ainda está sendo discutido”, enfatiza. No entanto, ele explica que o sistema do “três mais dois [anos]” é bastante comum em universidades da Europa.

Com o novo curso de Engenharia Nuclear, ganham também os outros cursos da Poli e da USP, com uma gama maior de optativas livres e eletivas disponíveis, além das pesquisas. “O Instituto de Física (IF), o [Instituto] de Matemática e Estatística (IME) e o [Instituto] de Química (IQ) da USP serão um dos mais beneficiados, além dos alunos da própria Escola”, prevê o vice-deiretor.