“Em reunião da nossa Pós-Graduação, sugeri um sistema de trabalhos que nos permitisse montar uma espécie de observatório da crise mundial. O que vamos fazer hoje é discutir as novas feições de um processo que já dura três anos e com o qual, seguramente, vamos conviver pelos próximos cinco ou seis anos”.
Laplane observa que a crise já passou por várias etapas: a do setor imobiliário, seguida do setor financeiro dos Estados Unidos, com as inevitáveis repercussões globais, apresentando agora aspectos vinculados à sustentabilidade da dívida pública dos países da União Europeia e também aos desajustes cambiais. “Desajustes que nada mais são do que o reflexo da tentativa de cada governo em resolver o seu problema, ou seja, da falta de coordenação que está resultando na deterioração do padrão monetário internacional”.
Melin de Carvalho e Silva, como representante da Fazenda, participa diretamente das discussões do G20 desde a sua criação, conhecendo bem os bastidores dos debates e embates entre os governos nacionais sobre como enfrentar a crise. “Vim dividir com o pessoal da Unicamp a nossa preocupação com um momento de dificuldades da economia internacional. Depois da fase mais aguda da crise em 2008-2009, em que houve um esforço internacional conjunto articulado no âmbito do G20, o ritmo da recuperação não foi aquele que se esperava. E dificuldades que não foram antevistas começaram a surgir ao longo do caminho”.
Melin refere-se às dificuldades tanto no sistema financeiro europeu, que estão na ordem do dia, quanto às constatadas nos EUA, que dizem respeito ao ritmo da retomada econômica. “Ninguém vê qualquer ameaça exógena que possa reverter o rumo da recuperação dos Estados Unidos, ao menos por enquanto. Mas essa recuperação está sendo lenta, com sinais de perda de fôlego em alguns setores, forçando as autoridades americanas a buscarem maneiras de reimpulsionar a economia. Na Europa o cenário é de cunho mais ameaçador, na medida em que pode envolver movimentos especulativos de maior magnitude”.
Além de questionar a atuação do FMI, que em sua opinião deveria assumir papel muito mais construtivo, Melin atenta para os cuidados que o Brasil deve tomar. “Apesar do horizonte de crescimento bastante robusto para os próximos anos, precisamos nos conscientizar de que isso vai acontecer num contexto de economia mundial ainda em recuperação, com uma demanda internacional ainda enfraquecida do lado produtivo e comercial; e, do lado financeiro, com uma quantidade enorme de ativos buscando rentabilidade, o que o torna o Brasil um porto natural, podendo gerar pressões em nosso balanço de pagamentos”.
Outro convidado para o painel “Situação internacional, G20 e a guerra cambial” foi Francisco Eduardo Pires de Souza, professor da UFRJ e assessor do diretor de Planejamento do BNDES, João Carlos Ferraz. Para ele, a crise está longe de ser resolvida. “Até o início deste ano, os esforços de governos do mundo inteiro, com políticas bastante agressivas, pareciam estar sendo bem sucedidas e chegaram a ser comemoradas como o início da saída da crise. No entanto, ao longo do ano, vários problemas começaram a surgir em vários planos”.
O importante, na opinião de Pires de Souza, é que os países não adotem políticas próprias, independentes e contrárias aos interesses dos demais, detonando a chamada guerra cambial. “Evitar esta guerra implica construir acordos de cooperação entre os países e, para usar um termo pomposo, uma nova ordem monetária mundial. E acho que o Brasil está em condições hoje – mais do que em qualquer época no passado – de contribuir para a construção desta ordem, induzindo ao processo. O país deve endossar e melhorar a proposta de redução dos desequilíbrios globais”.
Comunicação Social
Unicamp