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A interação entre materiais geossintéticos e diferentes tipos de solos foi o tema do artigo eleito como o melhor de 2009 pela conceituada revista britânica Geotextiles and Geomembranes. O autor da publicação premiada, anunciado na semana passada, é o professor Ennio Marques Palmeira, do Departamento de Engenharia Civil e Meio Ambiente da Universidade de Brasília. É a segunda vez consecutiva que ele é reconhecido como o melhor do ano pelos editores da revista especializada, que circula há 30 anos e recebe por ano cerca de 80 artigos. Geossintéticos são malhas feitas com um tipo de plástico de alta resistência, usadas em obras de Geotecnia, como barragens, fundações e construção de estradas.
A Geotecnica lida com a interferência de obras de infra-estrutura com a sua fundação. Ennio explica que, quando colocados no solo, os geossintéticos aumentam a resistência da massa de terra e diminuem a sua chance de achatamento, chamada tecnicamente de compressibilidade. “É uma técnica que garante mais estabilidade ao solo e, consequentemente, mais segurança para as obras”, afirma.

No artigo premiado, o professor, que há 23 anos leciona na UnB, demonstrou como a aplicação dos geossintéticos pode reforçar o solo. Para isso, Ennio analisou dois tipos de malhas: a geotêxtil e a geomalha. A primeira, uma espécie de tecido, é usada principalmente quando há a intenção de separar diferentes tipos de solo. “Num local pantanoso, onde se deseja aplicar brita para uma construção, essa malha pode ajudar na estabilidade e na separação das camadas”, explica.

No caso da geomalha, que lembra um tipo de grade, a vantagem está na alta capacidade de estabilização do solo. Por exemplo, se um barranco por onde passa uma estrada cai, a geomalha é uma boa opção para, misturada ao solo, reerguer o monte de terra com segurança. “Fora esses, há diversos outros tipos de malhas que podem ser usados de acordo com as peculiaridades de cada solo”, ressalta o especialista, pioneiro na pesquisa com geossintéticos no Brasil, ainda no fim da década de 1970.

NA PRÁTICA – Quem já dirigiu por estradas com alto fluxo de caminhões no Brasil pode perceber aquelas deformações no asfalto provocadas pelo peso dos veículos. “Isso poderia ser evitado com uma aplicação de geossintéticos sob a pista”, explica Ennio. Segundo ele, o uso da técnica pode aumentar a vida útil de rodovias em até nove vezes. “O custo da obra pode aumentar entre 5% e 10% com a colocação da malha, mas a economia com a manutenção depois compensa o investimento”.

Em Brasília, duas obras que receberam a aplicação das malhas foram os viadutos próximos aos balão do Aeroporto e do Torto. Membro da Academia Brasileira de Ciências, Ennio ressalta que o uso dos geossintéticos não se limita à construção civil. “Hoje esse materiais já são aplicados no meio ambiente”. Segundo o professor, as malhas podem evitar erosões em locais degradados. “Há um tipo que se assemelha uma borracha e já é aplicado para evitar a penetração de contaminantes no solo”.

Ennio vai apresentar o artigo em uma cerimônia promovida pela revista no início do próximo ano, em local e data inda não definidos. “Fico feliz com o reconhecimento”, declara. “Mas esse não é um mérito só meu”, ressalta. O professor que carrega o nome da UnB por onde anda faz questão de ressaltar o trabalho de estudantes e colegas na construção do artigo. “A pesquisa e a construção da ciência é um esforço coletivo. Agradeço a todos que, de alguma forma, colaboraram com o trabalho”.   

UnB Agência