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Coordenadores dos 122 Institutos Nacionais de Ciência e Tecnologia (INCTs) se reuniram em Brasília nos dias 23 e 24 de novembro para fazer um balanço das ações desenvolvidas pelos institutos nos últimos dois anos. Participaram também pesquisadores, avaliadores e consultores, totalizando mais de 500 participantes. O Centro de Gestão e Estudos Estratégicos (CGEE) é o responsável pela coordenação da avaliação. O Programa INCT foi lançado em dezembro de 2008 pelo Ministério da Ciência e Tecnologia (MCT), por meio do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), com recursos de R$ 607 milhões obtidos em parceria com as fundações de amparo à pesquisa estaduais.
A FAPESP financia 50% dos recursos destinados aos 44 institutos sediados no Estado de São Paulo. Responsável por R$ 113,4 milhões do total de recursos investidos nos INCTs, a Fundação só fica atrás do Fundo Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (FNDCT) – R$ 190 milhões – entre as fontes financiadoras.

Os projetos aprovados têm as características dos Projetos Temáticos da FAPESP – modalidade que se destina a apoiar propostas de pesquisa com objetivos suficientemente ousados, que justifiquem maior duração e maior número de pesquisadores participantes.

Espalhados por todo o país, os INCTs funcionam de forma multicêntrica, sob a coordenação de uma instituição-sede que já tenha competência em determinada área de pesquisa – no caso paulista, vários dos INCTs foram integrados aos Centros de Pesquisa, Inovação e Difusão (Cepids) da FAPESP.

A mesa de abertura do evento em Brasília contou com a participação do presidente do CNPq, Carlos Alberto Aragão, do secretário executivo do Ministério da MCT e presidente do Comitê de Coordenação do Programa INCT, Luis Antonio Rodrigues Elias, do secretário da Ciência e Tecnologia e Insumos Estratégicos do Ministério da Saúde, Reinaldo Guimarães, do presidente do Conselho Nacional das Fundações Estaduais de Amparo à Pesquisa, Mário Neto Borges, e do diretor do CGEE, Fernando Rizzo. O diretor científico Carlos Henrique de Brito Cruz representou a FAPESP.

O evento foi encerrado pelo ministro da Ciência e Tecnologia, Sergio Rezende. Simultaneamente ao Encontro de Avaliação, foi realizada uma exposição com os principais resultados das pesquisas dos INCTs.

Segundo Aragão, o encontro foi uma oportunidade de trocar experiências entre os INCTs. “É a primeira vez que o país lança um programa com essa abrangência, com esse tipo de formato, tentando nos estruturar em rede. Acho que é uma experiência que tem tudo para dar certo, está dando certo, pode ser aprimorada, mas já está sendo reconhecida não apenas no Brasil, mas internacionalmente”, disse.

Guimarães destacou que o principal desafio da área é investir o dinheiro adequadamente. “Eu acredito que o INCT seja talvez a ferramenta mais importante para fazer com que esses recursos sejam gastos com inteligência, com mais competência e responsabilidade”, afirmou.

“A FAPESP contribui decididamente para o Programa INCT, sendo o segundo maior financiador. Fizemos isso porque o programa tem qualidades importantes, entre as quais facilitar a interação em redes de pesquisadores em todo o país, o que traz importante contribuição aos mais de 400 projetos temáticos que a FAPESP apoia”, disse Brito Cruz.

Conquistas e dificuldades

De acordo com um dos participantes, José Carlos Maldonado, professor do Instituto de Ciências Matemáticas e de Computação (ICMC) da Universidade de São Paulo (USP) e coordenador do INCT em Sistemas Embarcados Críticos (INCT-SEC), a avaliação geral é que os primeiros resultados da iniciativa já começaram a aparecer.

“A avaliação foi muito positiva, considerando todos os institutos. No nosso caso, por exemplo, os 130 pesquisadores e doutores envolvidos com o INCT-SEC aprofundaram sua articulação com outros parceiros, o que constituiu uma base muito forte de competência na área de sistemas embarcados críticos. Além de muitos resultados tecnológicos e publicações, realizamos 12 cursos e temos mais de 300 alunos envolvidos”, disse à Agência FAPESP.

No entanto, segundo Maldonado, a reunião mostrou que também existem dificuldades enfrentadas pelos INCTs, em especial na gestão das próprias redes e em aspectos legais da aplicação de recursos.

“Essas dificuldades fazem parte do processo de aprendizagem inerente à implantação dos institutos. Isso é natural, porque se trata de um programa inovador, que mudou os paradigmas de relações estruturantes e de articulação das instituições científicas no Brasil”, afirmou.

A reunião permitiu que cada participante conhecesse o trabalho de outros INCTs, estabelecendo interfaces entre eles. De acordo com Maldonado, além de possibilitar a discussão de problemas comuns, o encontro foi uma oportunidade para avaliar em que grau pode haver migração de conhecimento entre os institutos.

“No nosso caso, isso fica ainda mais nítido: percebemos que há uma necessidade de contribuição da computação em diversos institutos. Aproveitamos para identificar essa demanda de ação multidisciplinar e, a partir daí, vamos procurar organizar a formação de recursos humanos do nosso INCT”, afirmou.

Excelência fortalecida

O Programa INCT estimulou a abertura de novas vertentes em programas que já estavam estruturados e avançados, de acordo com Mayana Zatz, que coordena o INCT de Células-Tronco em Doenças Genéticas Humanas. Associado ao Centro de Estudos do Genoma Humano (CEGH), o instituto é também um dos Cepids da FAPESP.

“É difícil avaliar com precisão o impacto do INCT na nossa pesquisa, pois ela já estava muito bem estruturada. O trabalho foi uma continuidade do que era feito no Cepid e o INCT, no nosso caso, ajudou a alavancar a área de células-tronco. Trata-se de uma área de altos investimentos e difícil implantação. O INCT permitiu uma ação mais robusta dentro da linha de pesquisas na qual já estávamos trabalhando”, disse.

Segundo Mayana, o INCT permitiu associar os estudos de genômica – que é a área de excelência do Cepid – à pesquisa com células-tronco. “Toda vez que se escreve um grande projeto novo surgem novas ideias. A partir do projeto do INCT, tivemos a ideia do projeto 80 Mais. A proposta é coletar amostras de pessoas saudáveis com mais de 80 anos e formar, assim, um banco de dados que nos permitirá estudar a função da genética na manutenção da longevidade com saúde”, disse.

Para esse projeto, o INCT está estudando uma parceria com o Hospital Albert Einstein para que todos os pacientes sejam submetidos a ressonância magnética funcional. Por enquanto, a equipe está apenas coletando o DNA dos pacientes para o banco de dados.

“Fazer essa coleta agora é fundamental, porque em cinco anos, se for possível sequenciar o genoma humano completo com US$ 1 mil, teremos uma demanda gigantesca, com uma imensa quantidade de dados que vão precisar de análise. Nesse momento, o banco de dados que estamos começando a formar agora nos fornecerá um parâmetro importantíssimo para essas análises”, afirmou.

Segundo Mayana, a avaliação dos INCTs foi satisfatória, em termos gerais. Os resultados mais importantes, no entanto, deverão aparecer dentro de mais alguns anos.

“Os recursos foram liberados no fim de 2008 e nós ainda não concluímos 2010. Sabemos que os resultados de fato vão aparecer depois de três ou quatro anos – foi o que ocorreu com os Cepids, que, segundo o próprio ministro Sergio Rezende, foram o modelo que inspirou a criação dos INCTs”, disse.

Impacto na Amazônia

O coordenador do INCT Madeiras da Amazônia, Niro Higuchi, explicou que o instituto tem buscado consolidar o manejo florestal sustentável na Amazônia por meio da exploração da floresta primária em faixas com o menor impacto ambiental possível.

Entre as iniciativas, destacou os tratamentos silviculturais, a realização de um inventário de insetos e plantas, o desenvolvimento tecnológico de processamento de madeiras da Amazônia e de produtos alternativos para aproveitamento de resíduos de indústrias madeireiras e de técnicas inovadoras para manufatura de produtos de madeira de alta qualidade e maior valor agregado.

“Se formos comparar a produção de madeira na Amazônia e o desmatamento, vemos claramente uma correlação entre ambas. A produção de madeira na Amazônia é altamente predatória: 68% da produção de madeira vem do corte ilegal e apenas 25% vem do corte legal. Temos nesse INCT dois grandes grupos relacionados, um de manejo florestal e o outro de tecnologia da madeira. Se não melhorarmos as tecnologias da madeira, não teremos nunca um manejo florestal sustentável. Nosso grande desafio é melhorar o rendimento da floresta”, disse.

O pesquisador do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa) e coordenador do INCT dos Serviços Ambientais da Amazônia (Servamb), Philip Fearnside, apresentou os principais resultados do instituto, que tem cinco grupos de pesquisa envolvendo temas como “Mudança de uso da terra e emissões”, “Florestas secundárias, Agroflorestas, Fragmentação e efeitos de borda” e “Hidrologia”. “O que temos em maior quantidade são os dados relacionados ao carbono e aos efeitos da floresta em evitar o aquecimento global”, disse.

Segundo ele, o Servamb está tentando promover uma nova base para a economia na Amazônia, pois atualmente essa economia utiliza muito a destruição da floresta. “Também é importante quantificar quanto de carbono ganhamos quando se cria uma reserva e quanto se perde quando desmatam a floresta”, afirmou.

Recursos humanos

Segundo Glaucius Oliva, professor do Instituto de Física de São Carlos, da USP, e coordenador do INCT de Biotecnologia Estrutural e Química Medicinal em Doenças Infecciosas (INBEQMeDI), os institutos já estão cumprindo um papel importante na aproximação de pesquisadores brasileiros com parceiros de outros países.

“Estamos recebendo instituições e agências de vários países, como Alemanha, França, Holanda, Canadá e Espanha, em busca de acordos de cooperação. Os INCTs são uma porta de entrada para colaborações internacionais, que não só promovem a integração dos pesquisadores como ajudam a criar massa crítica, a dar visibilidade para nossa pesquisa e a abrir canais para captação de recursos”, afirmou.

O INCT de Técnicas Analíticas Aplicadas à Exploração de Petróleo e Gás, coordenado por Colombo Celso Gaeta Tassinari, professor do Instituto de Geociências da USP, está permitindo a formação de uma rede de pesquisadores que já existia no papel há algum tempo, mas não conseguia efetivamente estabelecer-se, segundo o pesquisador.

“A meta é formar massa crítica significativa e de alta qualificação para dar sustentação às próximas décadas nas atividades ligadas aos estudos exploratórios e de reservatórios de óleo e gás”, disse.

No caso do INCT para Mudanças Climáticas, coordenado por Carlos Nobre, do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais, o investimento está permitindo estimular a formação de uma ampla rede de 250 pesquisadores espalhados por 70 instituições brasileiras e dez internacionais e patrocinar estudos que vão além da tradicional pesquisa sobre o clima, abordando aspectos como a adaptação às mudanças climáticas, a mitigação de seus efeitos, além de avançar na determinação das causas do aquecimento global.

“Observar as mudanças climáticas não nos dá o direito de afirmar que todas as causas são antropogênicas. Temos alterações de vegetação muito significativas que nos levam a mudanças de caráter regional. Para entendermos, é importante ter pesquisa de caráter interdisciplinar, que envolva não só o climatologista, mas também o agrônomo, o biólogo e o cientista social”, disse.

* com revista Pesquisa FAPESP, Inpa e CNPq.

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Agência FAPESP