O instituto tem apoio da FAPESP e do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). Os participantes defendem a necessidade de conhecer mais profundamente as instituições e sociedade norte-americanas.
De acordo com Reginaldo Nasser, do Departamento de Política da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC/SP) e coordenador da mesa temática “Instituições e Sociedade Norte-Americana”, o objetivo do evento é fazer um balanço e discutir perspectivas de estudos brasileiros sobre os Estados Unidos. “Nossa meta é criar uma agenda de temas que possam fomentar pesquisas entre os alunos de graduação e da pós-graduação”, disse.
Os palestrantes abordaram temas como imprensa, política exterior, cultura e sociedade. Carlos Eduardo Lins e Silva, consultor de comunicação da FAPESP, focou sua análise no jornalismo norte-americano, destacando a pouca presença da temática nas universidades brasileiras. “Muitas vezes a defesa de se estudar os Estados Unidos é vista como adesão à ideologia americana. Esse é um erro recorrente”, afirmou.
Autor de O adiantado da hora: a influência americana sobre o jornalismo brasileiro – resultado de trabalho desenvolvido entre 2007 e 2008 no Woodrow Wilson International Center for Scholars, em Washington –, Lins e Silva destacou que, apesar de a imprensa brasileira se basear em grande parte na experiência norte-americana, seus veículos se adaptaram à realidade local.
Segundo ele, um tema que mereceria estudos é o modelo de negócios adotado na mídia impressa. “Sabemos que o modelo de negócios da mídia impressa nos Estados Unidos faliu. Eles sabem que precisam mudar ou o jornal se tornará irrelevante do ponto de vista político e cultural, e inviável economicamente”, disse.
Ele cita como exemplo anúncio de um novo jornal, o Daily, da empresa News Corp, cujo conteúdo será produzido exclusivamente para dispositivos do tipo tablet, como o iPad, e custará US$ 0,99 por semana.
“A questão é tentar entender, por exemplo, por que eles chegaram a esse ponto e a mídia impressa brasileira continua saudável. Não acho que tudo aquilo que aconteça nos Estados Unidos deverá acontecer aqui tardiamente. A história mostra que não é assim. Mas entender esse processo pode nos ajudar também”, disse.
Matias Spektor, da Fundação Getúlio Vargas no Rio de Janeiro, abordou a política externa norte-americana. Segundo ele, que também apresentou assuntos relevantes para estudo na área de relações internacionais, é preciso entender como se formou o caráter liberal da política norte-americana.
“O sistema político norte-americano é pulverizado em relação à política externa, ou seja, o executivo não tem capacidade de definir sozinho a agenda política. A sociedade e as instituições dos Estados Unidos têm um papel decisivo nesse processo”, disse.
Spektor também destacou algumas áreas temáticas nas relações internacionais como o papel da religião e o papel dos lobbies na política externa americana. “São áreas que carecem de estudos", disse ao acrescentar que uma outra vertente de pesquisa seria analisar como a sociedade e instituições americanas atuam na política externa sob a perspectiva do "pensamento econômico".
O historiador Antonio Pedro Tota, da PUC-SP, falou da importância de pensar a “cultura americana” e deu como exemplo o papel do empresário e político Nelson Rockefeller, lembrando de sua relação com o Brasil, quando por aqui esteve como enviado especial do governo dos Estados Unidos nos anos 1960.
“Rockefeller teve uma atuação importante no Brasil como um homem preocupado com a cultura e memória. Nos Estados Unidos, cheguei até mesmo a encontrar a planta original do Museu de Artes de São Paulo”, contou.
Tota pesquisou durante anos documentos no Rockefeller Archive Center e no National Archive Building, em Washington, e publicou artigos sobre a atuação de Rockefeller no Brasil. “Existe uma infinidade de documentos históricos sobre o Brasil que ainda precisam ser analisados”, disse.
Agência FAPESP