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unb_logoUm médico, um economista, uma historiadora, uma estudante e um rapper. Todos negros e pensadores da realidade brasileira. O vice-reitor da UnB, professor João Batista de Sousa, o rapper Gog, Ana Flávia Magalhães, pós-graduanda da Unicamp, o pesquisador Mário Theodoro e a aluna de Letras Tatiana dos Santos – que entrou na UnB pelo sistema de cotas – estiveram juntos na abertura da Semana da Consciência Negra na UnB para dizer que somos, sim, racistas.
“O Brasil era visto como um país sem conflitos étnicos. Depois da Segunda Guerra Mundial a ONU financiou cientistas sociais para estudar a ‘maravilha’ que era o país”, afirma Mário Theodoro, pesquisador do Instituto de Pesquisas Econômicas Aplicadas (Ipea). “Verificou-se justamente o contrário, que os negros eram um setor da sociedade extremamente constrangido”. Para o especialista, o único meio capaz de acabar com o racismo no país são as cotas raciais.

O pesquisador do Ipea defende que a política é necessária para inserir o negro em espaços que antes não eram ocupados por eles. “Na UnB, por exemplo, de 2,100 professores, apenas 15 são negros”. Segundo o pesquisador, é quando o negro ocupa lugares que não eram vistos como dele que a discriminação acontece. "Por isso as cotas incomodam tanta gente”. Além disso, a luta contra o racismo é essencial para acabar com as desigualdades no país. “Quando a elite começar a parecer mais com a população a miséria vai ser realmente combatida”, diz Mário.

O vice-reitor João Batista contou da sua própria experiência, quando ele ingressou na Faculdade de Medicina. "Logo que entrei, um professor me disse que eu teria que estudar oito vezes mais". João Bastista defendeu que o sistema de cotas seja usado também na pós-graduação. "As cotas na graduação são só um piso, um primeiro passo, o sistema tem que continuar crescendo", afirmou.

O rapper Genival Oliveira Gonçalves, o Gog, recordou o início da sua vida como músico na década de 1970. “Eu era do movimento hip hop, mas não tinha consciência da minha negritude”. Para o cantor, essa consciência deve ir além da música. “A arte pela arte não resolve, é preciso a construção do debate”, defende. “Nesse sentido são essenciais as discussões sobre políticas afirmativas.” Para Gog, as cotas são uma forma de reparação ao negro. “O Estado joga a discussão para sociedade para abrir mão da sua responsabilidade histórica”.

CONSCIÊNCIA - Para Ana Flávia Magalhães, doutoranda em história da Unicamp, a consciência negra é “uma atitude mental que passa pela reflexão de pensar o que é ser negro”. A brasiliense de Planaltina, que completou o mestrado em História na UnB, no ano de 2006, entende que essa consciência se constrói desde criança a partir da negação. “Primeiramente, você entende-se como não-branco. Percebia isso quando ia para escola e para festas de família”, recorda.

A historiadora, que fez parte do grupo Enegrecer enquanto estava na UnB, defende que os estudantes cotistas precisam organizar-se para lutar pelos seus direitos. “Temos que nos colocar como sujeitos de pensamento em uma sociedade que nos vê apenas como representantes de problemas sociais”.

A posição é compartilhada pela estudante de Letras Tatiana dos Santos, que entrou na UnB em 2004 pela política de cotas. Ela acredita que os cotistas devem unir-se para lutar contra o racismo apesar das dificuldades. “Já tive que abandonar disciplinas porque os professores eram muito racistas”. A aluna lembrou de uma crítica feita por um professor de teoria literária. "Ele falou que o hip hop só é importante para a favela, mas não pode ser considerado arte". Para a estudante, implementar as cotas na pós-graduação seria uma forma de haver mais gente pensando a condição do negro na pesquisa.

UnB Agência