A metodologia foi desenvolvida pela urbanista Karin Regina de Casas Castro Marins para sua tese de doutorado, defendida na FAU no último mês de abril sob a orientação do professor Marcelo Romero. A pesquisadora aplicou a metodologia no caso da Operação Urbana Água Branca, na Zona Oeste da Capital Paulista.
Operação Urbana é um mecanismo de intervenção em determinadas áreas de uma cidade, executada pelos setores público e privado, visando um melhor aproveitamento do local. A Operação Urbana Água Branca está localizada na região da Barra Funda, em uma área de 5,40 quilômetros quadrados (km²), e é formada por grandes terrenos desocupados e galpões industriais. Trata-se de uma região com grande potencial de aproveitamento: está próxima a estações de trem e de metrô, e de rodovias. De acordo com a Lei da Operação Urbana Água Branca (nº11.774/95) estão sendo propostos 300 mil metros quadrados (m²) direcionados para o uso residencial e 900 mil m² para uso não residencial, além daquilo que já pode ser construído pela Lei de Zoneamento.
Metodologia
A metodologia criada por Karin consiste em inserir em planilhas eletrônicas diversos parâmetros arquitetônicos, urbanísticos, de tecnologias de geração e distribuição de energia, de densidade populacional, meio ambiente, e de transporte do local analisado. Entre esses dados estão: o formato das quadras, a largura das vias, o acesso da luz do sol pelas construções, as formas de circulação e os meios de transporte (público, privado, motorizado ou não), além de aspectos ligados à poluição do ar, assim como a geração de gases de efeito estufa.
Por meio de uma série de procedimentos de cálculo chega-se, dentre outros, às estimativas de consumo de energia total com edifícios e transporte urbano da área selecionada, além de áreas construída, ocupada, verde, características das vias, número de edificações, lotes e quadras, população, emissões de poluentes e gases de efeito estufa. Com isso, é possível encontrar as soluções energéticas mais eficientes.
A pesquisadora explica que a partir do padrão de consumo energético é possível gerenciar esta demanda e planejar como será a geração e a distribuição de energia em escala urbana. Entre as opções estão, por exemplo, o uso de coletores solares, painéis fotovoltaicos e até redes distritais de distribuição de água quente e gelada. “Soluções em redes distritais ainda são pouco difundidas no Brasil, mas são comuns na França, no Japão, Suécia e Canadá. Consiste em usar, por exemplo, o biogás de aterros sanitários em termelétricas para gerar calor e aquecer ou gelar água e então distribuí-la para edifícios, para condicionamento dos ambientes internos”, descreve.
Segundo a pesquisadora, a metodologia foi sistematizada em planilhas eletrônicas para otimizar os procedimentos de cálculo. “Nossa intenção agora é desenvolver um software com a metodologia. Estamos, inclusive, buscando parceiros para o desenvolvimento deste projeto”, informa a urbanista.
Operação Água Branca: estimativas
A pesquisadora considerou 216 cenários urbanos alternativos, possíveis de serem implantados na área da Operação Urbana Água Branca, e inseriu na planilha os parâmetros relacionados a estes cenários.
A análise dos 216 cenários alternativos mostrou que existe um potencial de redução do consumo de energia total com edifícios comerciais e residenciais e transporte urbano estimado entre 15% e 17%, em comparação com o que se tem hoje planejado para a região. Esta estimativa leva em conta a implantação de edifícios comerciais e residenciais com eficiência energética mas, principalmente, a preferência pelo uso dos modos coletivos de transporte de média (ônibus) e alta capacidades (metrô e trem). “Este valor é bastante representativo. Equivale a uma economia média de 240 GigaWatts-hora ao ano”, estima.
Em relação aos edifícios, a ventilação e a iluminação naturais são itens que tornam o consumo energético mais eficiente, pois reduzem o uso de lâmpadas e de ar-condicionado, por exemplo, bem como o uso de equipamentos elétricos adequados. “Mas é necessário observar o espaço livre entre os edifícios para que essa iluminação seja efetiva”, lembra a pesquisadora.
Karin destaca que o transporte individual motorizado (carro) é o que consome mais energia. “Se 5% das pessoas deixarem de usar seus carros para se locomoverem por meio de um transporte de média capacidade [como o ônibus], a redução no consumo de energia com transporte será de 11% a 13%. Apesar de os ônibus consumirem mais combustível em relação aos carros, eles transportam muito mais pessoas”, destaca.
De acordo com a pesquisadora, fica a cargo do Ministério de Minas e Energia do governo federal e de seus órgãos vinculados definir o modelo de distribuição de energia a partir das centrais de geração elétrica. Já as Companhias de energia elétrica são responsáveis pelo fornecimento para as diversas regiões do País, atuando em nível operacional, executando os planos estabelecidos pelo governo federal.
“A metodologia proposta na pesquisa pode ser usada tanto pelos setores público e privado para auxiliar na elaboração das diretrizes que vão nortear o planejamento energético, urbano e ambiental em cidades”, aponta Karin. Segundo a urbanista, no Brasil, este tipo de planejamento não é comum. Entretanto, há exemplos de iniciativas preocupadas com essas questões em outras partes do mundo, como Estocolmo (Suécia), Londres (Inglaterra) e Sidney (Austrália).
Agência USP