De Roma, onde participa da Assembleia Especial para o Oriente Médio do Sínodo dos Bispos, Dom Damasceno falou à UnB Agência para contar como recebeu a ordenação. Pelo telefone, o professor aposentado pelo FIL em 1991, também relembrou dos tempos de UnB. “Notícia como essa a gente recebe sempre com muita emoção e com um certo temor pela responsabilidade que o cargo representa”, conta. “Cardeal é aquele que é chamado a colaborar mais de perto com o Papa no governo da Igreja”.
Atualmente, Dom Damasceno é arcebispo metropolitano de Aparecida, em São Paulo, e presidente do Conselho Episcopal Latinoamericano (Celan). Para o novo cardeal, a nomeação mostra a visibilidade da Igreja da América Latina e, especialmente, do Brasil. “Como Arcebispo de Aparecida, estou na cidade onde está a sede nacional da padroeira do Brasil e vejo a nomeação como uma manifestação do apreço do Santo Padre pelo país”.
TEMPOS DE UNB – Da época em que era professor de Filosofia na Universidade, lembra-se do memorável episódio ocorrido nos anos 1970, em que o secretário norte-americano da Guerra do Vietnã, Henry Kissinger, veio à instituição fazer uma palestra e saiu sob chuva de tomates e ovos jogados por estudantes. “Quase fui atingido”, relata. “A saída foi bastante tumultuada e o secretário teve de sair de camburão para não ser atingido”. Na época, o Brasil vivia sob a ditadura e o reitor da Universidade era o militar José Carlos Azevedo.
Dom Damasceno sente saudades dos anos em que foi professor na UnB. “De certa forma, a Universidade de Brasília sempre me acompanha porque foi um lugar onde fiquei muito tempo e vivi um período muito feliz”, diz. “O magistério nos coloca em contato com o jovem e isso nos obriga a ficar a par da atualidade, o que é muito bom”.
Os professores do FIL lembram do colega com deferência. Ubirajara Calmon Carvalho, já aposentado, conta que Dom Damasceno era bastante conciliador. “Não tinha posições radicais e era moderado”, relata. “Tinha abertura tal que fazia a conciliação entre posições ideológicas extremadas”. Ubirajara afirma ainda que o colega era adepto da ortodoxia católica sem ser conservador e que conseguia mediar os confrontos entre as diferentes ideologias políticas dos professores e alunos.
Nelson Gonçalves Gomes, professor do FIL, relembra a trajetória de Dom Damasceno na UnB, que foi contratado pelo então Departamento de Geografia e História (GEH) em 1976. “O GEH que reunia Geografia, História e Filosofia”, conta. “Ele dava aulas de Introdução à Metodologia Científica e Introdução à Filosofia”. Não havia curso de Filosofia na época e as disciplinas que Dom Damasceno lecionava eram oferecidas para a universidade inteira.
Em 1984 o curso de Filosofia foi criado no GHE, e o eclesiástico passou a assumir a disciplina de Estágio Supervisionado. Em 1986, mesmo ano em que o Departamento de Filosofia foi criado, ele foi ordenado Bispo Auxiliar da Arquidiocese de Brasília. Os poucos professores que faziam parte do FIL na época fizeram uma vaquinha para comprar o anel que Dom Damasceno usa até os dias de hoje. “Ele era muito querido no departamento”, diz Nelson. “Era competente como filósofo, bom colega, bom homem e muito profissional”.
“O anel é uma lembrança que eu guardo com muito carinho e muita gratidão”, afirma Dom Damasceno, que usa a jóia diariamente. “Sempre lembro-me dos professores quando olho para ele”.
TEMPOS DE CNBB – O reitor da UnB, José Geraldo de Sousa Junior, teve a oportunidade de conviver com o eclesiástico entre 1987 e 2000, quando fazia parte de duas comissões organizadas pela Confederação Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB). “Ele é fiel aos princípios que apoiavam os valores de cidadania e Direitos Humanos”, afirma o reitor, que também reconhece o papel mediador de Dom Damasceno e prepara uma mensagem para parabenizar o cardeal.
UnB Agência