O escritor carioca Gabriel Perissé afirma que a cultura do analfabetismo literário, embora ainda muito forte no país, pode e deve ser mudada por meio da criatividade de professores em sala de aula. “Professores leitores podem estimular alunos criativos que no futuro constituirão famílias leitoras criativas e assim por diante”, conta o autor do livro Ler, Pensar e Escrever (1996).
Para ilustrar o poder transformador da literatura, Perissé contou uma experiência de infância. Aos nove anos, ele foi reprimido por uma professora ao escrever o plural de irmã como “irmães”. O garoto cresceu traumatizado com a grosseria da mulher. Aos 19, no entanto, Perissé leu um trecho do livro Grande Sertão - Veredas, de Guimarães Rosa, onde o autor escrevia "Enfim, cada um o que quer aprova, o senhor sabe: pão ou pães, questão de opiniães" e decidiu escrever seu primeiro ensaio literário. Hoje, aos 48 anos, tem 18 livros publicados.
A palestra de Perissé estimulou a piauiense Conceição Soares, 31 anos, a publicar o livro Cecita Concita, resultado da experiência que adquiriu em seis anos como educadora. Ela conta que a primeira versão da publicação já está pronta, mas, por se tratar de um material direcionado às crianças de zero a seis anos, não encontrou apoio para concretizar o projeto. “Aqui achei motivação para dar continuidade. O primeiro contato da criança com o livro é importante e deve acontecer ainda na primeira infância”, defende.
HISTÓRIAS - A cearense Magnólia Araújo Santos, 36 anos, defendeu a contação de histórias como uma forma de incentivar o hábito da leitura em crianças e adolescentes. Coordenadora do projeto Protagonistas da História, ela conta com o apoio de alunos do ensino médio para visitar turmas do ensino fundamental. “O ato de contar histórias pode ser mais que uma leitura, pode ser a emoção do aprender a compartilhar”, afirma. “Não quero ser uma professora comum, quero que minha prática seja significativa”, completa.
ISOLADOS – A falta do hábito da leitura também faz parte do cotidiano de universitários e pós-graduandos. É o que afirma a professora Graça Paulino, da Faculdade de Educação da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Segundo ela, a medida que a pessoa se especializa o repertório literário empobrece. “A literatura especializada afasta os intelectuais da realidade brasileira”, afirma.
“Ter olhos apenas para a literatura especializada é como se fechar para a vida social e ignorar aspectos importantes da vida das pessoas”.
Organizadora do encontro, a professora Hilda Lontra, do Departamento de Teoria Literária e Literaturas da UnB, ressalta que as abordagens dos colegas traduzem a importância do congresso. “Nosso objetivo é solidificar entre educadores de todos os níveis a importância da formação leitora”, esclarece. De acordo com ela, após o encerramento do congresso, as discussões e os debates do encontro serão disponibilizados no site do evento. “O site será um canal aberto de comunicação entre os professores e o Ministério da Cultura para o engrandecimento da cultura literária brasileira”, observa.
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UnB Agência