A perseguição ideológica, avassaladora em seus primeiros anos, resultou na demissão coletiva da maioria de seus mestres em 1965 e foi descrita com detalhes no livro de autoria do físico de renome internacional, Roberto Salmeron: A Universidade Interrompida”.
Em várias ocasiões, a universidade foi invadida de forma truculenta, tendo como alvo seus professores, estudantes e técnicos-administrativos. É pertinente lembrar as palavras do ex-reitor João Claudio Todorov: “Darcy Ribeiro sofreu com a universidade reprimida e quase dizimada do primeiro período pós-revolucionário. Das cinzas desse momento trágico, mas ainda no período autoritário, uma Universidade de Brasília aos poucos renasce e se constitui. No seu interior, forças conservadoras e forças democráticas. Muitos momentos doloridos, frustrantes, mas muitos momentos que antecipam a abertura democrática nacional e a democratização interna e com certeza a produção intelectual”.
Há 15 anos, na ocasião da outorga do título de Doutor Honoris Causa a Darcy Ribeiro, o homenageado inspirava novamente o futuro da universidade. “Antevejo algumas batalhas. A primeira delas é reconquistar a institucionalidade da lei original, que criou a Universidade de Brasília como organização não-governamental, livre e autoconstrutiva. Simultaneamente, cumpre libertar-nos da tutela ministerial, assumindo plenamente a responsabilidade na condução de nosso destino. Inclusive e principalmente, seu caráter de universidade experimental, livre para reinventar o ensino superior de graduação e pós-graduação, fazendo deles instrumentos de liberação do Brasil. Olhando para o futuro, nostálgico dos velhos tempos, o que peço é que voltem ao Campus Universitário Darcy Ribeiro com uma convivência alegre, aquele espírito fraternal, aquela devoção profunda ao domínio do saber e a sua aplicação frutífera.”
A UnB sempre conviveu com greves. Todas, inclusive a atual, são causadas, de forma direta ou indireta, pelo aprisionamento da universidade pela tutela ministerial, como enfatizou Darcy. É verdade, como aponta o editorial do Correio, que a greve prejudica as atividades da universidade. No entanto, a UnB não está paralisada. Apesar da greve ela está viva e atenta assumindo os compromissos de uma instituição pensante. As teses de mestrado e doutorado são defendidas dentro dos prazos normais, as aulas nos cursos de graduação e pós-graduação estão sendo ministradas. A UnB está viva.
Nas duas últimas semanas, ocorreram, entre outros, eventos onde uma diversidade de temas foram debatidos: “Fluxos de modelos em escala global”, “Explorando o cenário da Antártica”, “Uma abordagem pós-colonial e emancipatória dos movimentos sociais”, “Psicologia e educação nos (contra)tempos da inclusão”, “ Colóquio internacional de teoria teatral”, “Federalização dos crimes contra os direitos humanos no Brasil”, “Políticas públicas no enfrentamento da exploração sexual de crianças e adolescentes”, “Ensino de física e diversidade: aspecto central para a promoção de inclusão de alunos com deficiências”, "Língua, cultura e representação”, "As bases neurais e moleculares da comunicação vocal em pássaros canoros”.
Nesse período, professores e estudantes foram premiados, tais como: “Prêmio Pitanga Santos 2010 – (Proctologia)”, “Prêmio Costa Nunes (Geotecnia)”, “Prêmio Políticas Públicas e Equidade (Fundação Getulio Vargas)”. As greves, independente de suas motivações e méritos, não devem ser utilizadas por pessoas que estão de mal com a vida e que investem seu tempo em discursos destrutivos. A greve terminará e a UnB continuará a ser um patrimônio da educação brasileira. Ponto final.
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Isaac Roitman é doutor em Microbiologia e coordenador de Comunicação Institucional da UnB. Coordena também o Grupo de Trabalho de Educação da SBPC.