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A Antártica é um exemplo do poder pacificador da ciência. Especialistas convidados para seminário na Universidade de Brasília nesta quinta-feira, 2 de setembro, afirmam que o fato de o continente branco ser um verdadeiro laboratório a céu aberto, acessível a cientistas de todo o planeta, assegura sua proteção diante da cobiça internacional por território. “Em um mundo marcado por guerras, a necessidade de pesquisas sobre meio ambiente e mudanças climáticas fazem da região um fenômeno extraordinário na cooperação entre as nações”, afirma Eduardo Viola, professor do Instituto de Relações Internacionais (IREL) da UnB.
Situado no extremo sul do globo e com 98% de sua área coberta por gelo, a Antártica é uma das regiões mais sensíveis ao aquecimento global. Dados do Painel Internacional para Mudanças Climáticas (IPCC) revelam que o aumento acelerado da temperatura no planeta pode levar ao derretimento de até 22% das geleiras até 2050. O impacto alarmado por cientistas  implica em alterações na regulação do clima e no ciclo de nutrientes no ambiente polar. “É uma catástrofe climática que tem a Antártica como centro das atenções”, pontua Viola.

Chefe da divisão do Mar, Antártica e Espaço do Ministério das Relações Exteriores, Fábio Vaz Pitaluga destaca como a ciência protege o continente cobiçado por suas riquezas minerais e biológicas espalhadas por cerca de 14 milhões de km². “Já no Tratado Antártico, firmado em 1959, o princípio norteador do acordo era a liberdade de pesquisa científica”, observa. Hoje, o acordo internacional para exploração do Pólo Sul conta com 28 membros consultivos, entre eles o Brasil. “É um tratado consolidado, que não sofre ameaças. A Antártica está livre do territorialismo”, conta.

O artigo quatro do documento é o que freia as reivindicações de países como Argentina, Chile, Nova Zelândia e Noruega por soberania na Antártica. “Criou-se uma zona desmilitarizada, onde impera o princípio da paz em prol das pesquisas sobre o meio ambiente”, explica Fábio. Um dos convidados para o seminário Explorando o Cenário da Antártica, realizado pelo Departamento de Antropologia da UnB, o diplomata destaca a convivência harmônica entre grandes potências que disputam espaço no mercado mundial, como Estados Unidos, Japão, Alemanha e Rússia.

ALERTA – Apesar dos esforços para manter a Antártica uma nação pós-soberana, a professora Maria Cordélia Machado, coordenadora para Mar e Antártica do Ministério da Ciência e Tecnologia (MCT), alerta para a ameaça da bioprospecção. “A coleta de material biológico na região pode despertar interesse econômicos relacionados à patente”, afirma. “É preciso regular e fiscalizar essa área da pesquisa para que a finalidade científica não perca a prioridade”, disse a especialista, que apresentou informações sobre a participação do Brasil no continente gelado.

Só nos últimos sete anos, o Brasil investiu R$ 118 milhões em ciência e tecnologia voltadas para a exploração da Antártica. “É um laboratório vivo preservado para áreas como Ciências da Vida, Geociências e Monitoramento Ambiental”, diz. Um dos últimos investimentos do Programa Antártico Brasileiro (PROANTAR) foi a compra do navio polar Almirante Maximiano, adquirido em 2008 e incorporado à Marinha do Brasil para auxiliar projetos desenvolvidos na Estação Científica Comandante Ferraz, localizada no continente.

UnB Agência