Submit to FacebookSubmit to Google PlusSubmit to TwitterSubmit to LinkedIn
Dois autores e duas autoras catarinenses estão entre os finalistas do Prêmio Jabuti, na lista dos indicados divulgada na quarta-feira, dia 1º de setembro pela Câmera Brasileira do Livro. Ganhar o Jabuti, o mais importante prêmio nacional na área literária, é uma consagração para pouquíssimos escritores. Mas participar da condecoração como finalista já equivale a uma indicação para o Oscar da literatura brasileira. A literatura feita em Santa Catarina ganha visibilidade inédita no 52º Prêmio Jabuti, com a seleção de quatro autores entre os 10 finalistas da edição de 2010 para duas categorias diferentes: poesia e ensaio/teoria literária.
Na lista dos contemplados, divulgada na tarde de quarta-feira (1º/9), pela Câmara Brasileira do Livro, figuram obras dos autores Eduardo Capela e Sérgio Medeiros, e das autoras Dirce Waltrick do Amarante e Leonor Scliar Cabral.

Todos os autores são ligados ao Centro de Comunicação e Expressão e aos Cursos de Pós-Graduação em Literatura e Linguística da Universidade Federal de Santa Catarina. Na categoria poesia, concorrem como finalistas o diretor da Editora da UFSC e professor de Literatura, Sérgio Medeiros, com a obra O Sexo Vegetal, publicada pela Iluminuras, e Leonor Scliar Cabral, professora aposentada de Linguística, com Sagração do alfabeto, da Scortecci Editora.

Uma surpresa incomum na história literária: o Jabuti de 2010 premiou um casal, selecionando Para Ler Finnegans Wake, também da Iluminuras, de Dirce Waltrick do Amarante, esposa de Medeiros, entre os 10 melhores na categoria teoria e crítica literária do país. Dirce é tradutora de James Joyce para a língua portuguesa e pós-doutora em Literatura. Na mesma categoria concorre o professor de Literatura Carlos Eduardo Capella, com Juó Bananére: Irrisor, irrisório, da Editora da Universidade de São Paulo e Nankin Editorial.
Os quatro escritores radicados em Santa Catarina concorrem ao lado de autores brasileiros de ficção e ensaio reconhecidos, como Bernardo Carvalho, Benedito Nunes, Luís Fernando Veríssimo, Milton Hatoum, Ruy Guerra, Luiz Costa Lima, Moacir Scliar, Beatriz Bracher, Davi Arrgucci, Eric Nepomuceno, Bernardo Azgemberg, João Gilberto Nol e Adauto Novaes, que tiveram obras publicads em 2009. No dia 1º de outubro, a CBL divulga o nome dos três melhores livros de cada uma das 21 categorias, que são: Tradução; Arquitetura e Urbanismo; Fotografia; Comunicação e Artes; Teoria/Crítica Literária; Projeto Gráfico; Ilustração de Livro; Infantil ou Juvenil, Ciências Exatas, Tecnologia e Informática; Educação; Psicologia e Psicanálise; Reportagem; Didático e Paradidático; Economia, Administração e Negócios; Direito Biografia; Capa; Poesia; Ciências Humanas; Ciências Naturais e Ciências da Saúde; Contos e Crônicas; Infantil; Juvenil; Romance e Tradução de Obra Literária Espanhol-Português.

O primeiro lugar em cada categoria receberá, além do troféu devido ao segundo e terceiro lugar, um prêmio no valor de R$ 3.000.

No dia 4 de novembro serão finalmente conhecidos os nomes dos autores vencedores do Prêmio Livro do Ano, quando as demais categorias serão reagrupadas na classificação geral de Ficção e Não Ficção. Não concorrem a essa distinção as categorias Tradução, Ilustração de Livro Infantil ou Juvenil, Capa, Projeto Gráfico e Tradução de Obra Literária Francês-Português. Os contemplados com os Prêmios Livro do Ano receberão, cada um, o valor de R$ 30.000.

Criado em 1958, o Jabuti é o mais concorrido prêmio do livro no Brasil e o de maior abrangência. Seu grande diferencial é que não valoriza apenas os escritores, mas destaca a qualidade do trabalho de todas as áreas envolvidas na criação e produção de um livro. A edição deste ano bateu recorde de interesse, com mais de duas mil inscrições.

O casal de finalistas

Natural do Mato Grosso do Sul e radicado em Santa Catarina há 10 anos, Medeiros foi Finalista do Jabuti também em 2008, com Popol Vuh, obra de tradução, e concorreu à última edição do Prêmio Portugal Telecom de Literatura com O sexo vegetal. Traduzido para o inglês, o livro será publicado em janeiro pela Universidade de Orleans. Nele, a prosa poética do autor explora a descrição de paisagens, onde insere seres humanos que se sentem tocados e, às vezes, também invadidos pelos vegetais. O homem e a mulher são deslocados para a periferia do mundo natural, que assume a centralidade habitualmente outorgada aos seres racionais. O autor adota uma escrita sucinta e veloz, propondo ao leitor uma sucessão vertiginosa de imagens brasileiras, que vão do litoral passando ainda pelo cerrado e pelos ambientes urbanos, até a floresta amazônica. Em todas as paisagens, o vegetal rouba a cena, literalmente, revelando a influência da noção de apelo sexual do inorgânico, do filósofo Mário Perniola, e dos conceitos de pós-humano e inumano de François Lyotard.

Graduada em Direito, mestre e doutora em Literatura pela UFSC, tradutora especializada em James Joyce, Dirce também já tem várias obras publicadas. Em Para Ler Finnegans Wake de James Joyce, Dirce se preocupa em trazer possibilidades de interpretação e em desvendar o novo conceito de leitura inventado pelo autor irlandês para que o leitor possa aproveitar sua última e grandiosa obra, considerada por muitos como um texto ilegível. "Finnegans Wake é uma longa aventura onírica, que explora à exaustão as ambiguidades das imagens e da linguagem literárias”, defende a ensaísta. O estudo de Dirce explica, de maneira didática e acessível, as estratégias narrativas de Joyce com as quais reiventou o romance moderno. Essa análise do romance vem acompanhada, ainda, de uma tradução inédita para o português do capítulo oitavo do romance, “Ana Lívia Plurabelle”, que Joyce queria transformar em filme e peça teatral. A tradução está arquivada pela Fundação James Joyce de Zurique e pelo Centro de Estudos de James Joyce, em Dublin.

Sobre a distinção entre os finalistas, Dirce salienta a sensação de reconhecimento por um verdadeiro trabalho de garimpo, leitura, inventário bibliográfico e tradução que já dura mais de uma década. “Parece um momento de glória tão rápido, mas por trás de cada livro há muitos anos de pesquisa para poder entregar o melhor material ao leitor”. Para Medeiros, o Jabuti proporciona um reconhecimento geral ao livro, que do contrário acaba sendo mais pontual, da parte de um ou outro crítico e leitor. “Espero que essas indicações abram portas para publicarmos outros livros mais facilmente dentro e fora do país”, diz ele. Seu próximo livro de poesia, "Figurantes", uma descrição alucinatória da Ilha de Santa Catarina, sairá em outubro também pela Iluminuras. Os figurantes são turistas inumanos que invadem a Ilha, quando está abandonada às moscas.

Raquel Wandelli (jornalista na SeCarte/UFSC)