O “novo prédio” no Ibirapuera – projetado por Oscar Niemeyer e inaugurado em 1954 como Palácio da Agricultura e que até 2008 sediou o Detran – vai ficar pronto em setembro. Mas os pesquisadores, professores e curadores do MAC já estão organizando a exposição inaugural para recepcionar São Paulo no dia 4 de dezembro. Desde abril, quando assumiu a direção, o professor, historiador e crítico Tadeu Chiarelli vem travando o desafio dessa mudança. O MAC será o maior museu de arte contemporânea da América do Sul. Porém, Chiarelli procura conter a inquietação, repetindo: “Eu não vou precisar inventar a roda”.
Prof.essor Tadeu Chiarelli, diretor do MAC
Mas quase. Além dos 27 anos de experiência como professor do Departamento de Artes Plásticas da Escola de Comunicações e Artes (ECA) da USP, autor de diversos livros e curador-chefe do Museu de Arte Moderna (MAM), Tadeu Chiarelli recorre à experiência de grandes mestres. Pensando nas ações de Walter Zanini na direção do MAC (entre 1963 e 1978) e de outros diretores que pontuaram a trajetória do museu, ele se volta à história para priorizar a apresentação do acervo do museu.
“Nós estabelecemos uma diretriz de trabalho para o museu pautada na inauguração do novo prédio, que vai poder dar, em primeiro lugar, a dimensão do acervo para a cidade”, afirma Chiarelli. “E, ao mesmo tempo, temos a responsabilidade de projetar não só o MAC, mas também o nome da Universidade de São Paulo.”
Exposição inaugural
Enquanto explica, Chiarelli mostra os croquis do novo prédio que estão pregados nas paredes de sua sala. São 34 mil metros quadrados. O prédio principal tem sete andares, sendo que está previsto, na cobertura, um restaurante, que irá oferecer a visão privilegiada do Parque do Ibirapuera e dos arredores da cidade.
Chiarelli esboça no papel o esquema da ocupação e da exposição inaugural que vem desenvolvendo com a equipe do museu. “No térreo, serão instalados os serviços ligados à administração e à arte-educação. Todos os outros andares serão dedicados às exposições. Nós temos, em cada andar, uma grande sala e outra um pouco menor. Quando as pessoas saírem do elevador, poderão optar por ambos os lados. A sugestão é de que o público vá até o sétimo e vá descendo pelas grandes salas, destinadas à exposição do acervo”, diz o professor. “A sugestão é de que o visitante comece a fazer a leitura subindo até o sétimo para percorrer a história da arte desde o século 19 pelas grandes salas. Quando o visitante chegar no terceiro andar, terá uma surpresa. Irá se deparar com os jovens artistas surgidos a partir do ano 2000. Nós iremos dedicar dois andares só para o pessoal jovem. Já estamos selecionando esses artistas, que, a princípio, serão todos brasileiros. Nossa ideia é resgatar a proposta de Zanini, o movimento da Jovem Arte Contemporânea, JAC, que incentivou o aparecimento de pintores que hoje são destaque na arte brasileira. Neste prédio principal, o público vai ver tanto os clássicos como os jovens talentosos que estão iniciando.”
As salas menores serão dedicadas às exposições individuais, que permitem um mergulho maior na obra do artista. O visitante conhecerá o percurso de Di Cavalcanti, Julio Plaza, Léon Ferrari, Rafael França, José Antonio da Silva e Yolanda Mohalyi. Próximo ao prédio principal há um anexo que, segundo Chiarelli, “revela o melhor de Niemeyer”. Esse espaço, priorizado pelo pé-direito amplo, vai apresentar, no térreo, a instalação de Carlito Carvalhosa e, no mezanino, o fotógrafo Mauro Restiffe mostrará a documentação da reforma do prédio e a sua transformação na sede do MAC em 13 grandes painéis.
O desafio de Chiarelli e equipe na montagem é apresentar a história da arte contemporânea brasileira com o viés do conhecimento e das pesquisas da USP. “Ao contrário de outros espaços, nós não precisamos correr atrás da dinâmica acelerada de outras instituições. Ou seja, fazer uma exposição a cada dois meses. Queremos propiciar um espaço de extroversão do conhecimento artístico filtrada pelas interpretações da Universidade.”
O diretor destaca que, através desse projeto de exposições, ele pretende, ao mesmo tempo, trabalhar com a história e também com a prospecção. “O MAC irá apresentar o seu acervo, mas vai retomar a prática de Zanini, que era de prospectar, levantar e sinalizar a produção mais emergente e significativa do País”, observa. “Também não iremos trabalhar com a cronologia tradicional. Pretendemos tornar explícitas as questões que estavam mobilizando os artistas de cada período. Mostrar os problemas e discussões que geraram tantas obras importantes, para que o público possa perceber a dinâmica da arte dentro de uma visão menos previsível.”
A Secretaria de Estado da Cultura está se responsabilizando por toda a restauração do prédio e readequação para o MAC. A reforma que deveria ser feita pelo escritório do arquiteto Oscar Niemeyer foi vetada pelo Conpresp, órgão municipal responsável pelo patrimônio histórico. O arquiteto propôs um novo desenho para o edifício que alteraria o seu próprio projeto. A obra de readequação ficou, então, sob a responsabilidade da Companhia Paulista de Obras e Serviços, do governo estadual. Toda a reforma está avaliada em R$ 61 milhões. Estão sendo construídos também outros dois novos anexos para os serviços de administração e restauro, porém, por exigência do Iphan, esses prédios foram construídos para não serem confundidos com o projeto de Niemeyer.
Jornal da USP