O pesquisador Carlos Augusto de Medeiros explica que as chances de entrada dos jovens nas universidades públicas estão diretamente ligadas à formação recebida no ensino médio. “O boom das faculdades particulares, que reforçam a lógica da educação como mercadoria, é um reflexo de problemas na educação de adolescentes”, afirma o professor colaborador da Faculdade de Educação. Dados do MEC revelam que, de cada 100 universitários brasileiros, apenas 20 estão matriculados em universidades federais. A meta é chegar aos 30% até 2012. Meta que se distancia dos 104.760 estudantes matriculados no ensino médio do Distrito Federal em 2009, segundo dados do Censo Escolar.
Sandra Zité, doutora da Faculdade de Educação, aponta três problemas básicos do ensino médio brasileiro, em especial do DF: a má formação de professores, um currículo que não atende às necessidades dos alunos e uma forma de avaliação equivocada. “Falta identidade para o período. Em linhas gerais, o ensino fundamental serve para alfabetizar e o superior para profissionalizar. E o médio, serve para que?”, provoca a especialista, que está à frente da gerência de ensino médio da secretaria de Educação do DF.
Apesar de ter ficado acima da média estipulada pelo MEC, que é de 3,5, o Distrito Federal caiu de 4 para 3,8 no desempenho dos alunos. “Essa queda afunila a entrada no ensino público superior e fomenta o mercado das particulares”, comenta.
Sandra Zité conhece bem o assunto. Em sua tese de doutorado na FE ela fez uma etnografia da principal escola pública de ensino médio do Guará. “Os alunos não conseguem ver significado no conteúdo passado em sala de aula”, comenta. “Em boa parte isso se deve ao despreparo dos professores para lidar com a singularidade do período e com um currículo segregado que não preza pela interdisciplinaridade e que, por isso, não aproxima o conteúdo da realidade do aluno”, completa a especialista. A questão, segundo a especialista, é: em que nível superior nosso jovens estão ingressando? “Não há comparação entre o público e o particular”, diz.
AVALIAÇÃO - A manutenção de 16 estados abaixo da média – 12 deles do Norte e Nordeste – vão contra o objetivo do governo federal de ampliar o acesso às universidades públicas. “Dos níveis de educação básica – 1ª a 4ª série, 5ª a 8ª série e ensino médio - a educação de adolescentes é a que recebe menos atenção”, observa Sandra. Os números do Ideb comprovam a afirmação. Apesar de a média geral nos três níveis ter subido, a do ensino médio teve a menor variação e o menor valor absoluto (de 3,5 para 3,6).
As formas padronizadas de avaliação também reforçam o atraso do ensino médio brasileiro, segundo o professor Carlos Augusto. “É preciso buscar outras dinâmicas e outras formas de avaliação”, afirma. “Hoje as provas são vistas como um fim e não como um meio. Por isso não são uma boa ferramenta para medir a aprendizagem dos estudantes. O Ideb traduz tudo isso”, completa o professor, que classifica o cenário atual do ensino médio como “catastrófico”.
UnB Agência