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A borracha natural, produzida no Acre a partir de tecnologia desenvolvida pelo Laboratório de Tecnologia Química (Lateq) da UnB, poderá ser vista em solo europeu. Mais precisamente, nos pés dos europeus. A empresa francesa Veja foi até a Reserva Extrativista Chico Mendes, em Assis Brasil, para comprar 30 toneladas do material. A Folha de Defumação Líquida (FDL) será usada na confecção de solados de tênis.
Os executivos da empresa negociaram diretamente com os fornecedores e trouxeram parte da equipe para que conhecessem de perto todas as etapas de produção da borracha. Os tênis são vendidos por preços que variam entre 65 e 160 euros.

Esse é o segundo contrato assinado entre a Associação de Moradores e Produtores da Reserva Extrativista de Assis Brasil (Amopreab), que representa os seringueiros. A FDL foi comercializada por R$ 7 o quilo. Os seringueiros também recebem um subsídio do estado e do município. A assistência governamental é de R$ 1,40 por quilo.

Floriano Pastore, professor do Lateq responsável pelo projeto, conta que a borracha produzida pelo laboratório possui valor ambiental e social – o que a diferencia dos demais produtos do mercado. “Eles produzem calçados orgânicos. Então, é importante que utilizem um material que não agrida ao meio ambiente e reestruture a sociedade”, contou. Os calçados da empresa francesa utilizam outros produtos brasileiros. O algodão é produzido na Paraíba e o solado é feito no Rio Grande do Sul.

O processo produção da borracha natural é dividido em quatro partes. Na primeira, os seringueiros retiram o látex da árvore. Em seguida, são adicionados ácidos e outros componentes químicos que são responsáveis pela coagulação do látex. Após coagular, o látex fica em repouso por 12h. Na terceira fase, a manta grossa de borracha é transformada em uma lâmina fina. O objetivo é acelerar a secagem do material.  As lâminas de borracha passam por um processo de secagem, que dura de 5 a 7 dias. Após secar, a Folha de Defumação Líquida fica pronta para o uso.

O projeto também incorpora a mão-de-obra familiar. Os homens são instruídos a colher o látex e as mulheres e os filhos a trabalharem na preparação da FDL. A intenção é assegurar que o seringueiro possa produzir de maneira independente, sem deixar a floresta.
O professor, que em razão dos seringueiros já chegou a viajar 10 vezes ao ano para a Amazônia, conta que o reconhecimento de empresas e do governo é primordial para a vida dos seringueiros e para o trabalho de sua equipe.“É muito difícil tirar um projeto de dentro da universidade e trazer para a realidade. Estamos dando poder a essas pessoas”.  Leia mais aqui.

INTERNET NA FLORESTA – Em abril, os seringueiros de Assis Brasil e do seringal Icuriã, comunidade de difícil acesso do município, tiveram, pela primeira vez, acesso à internet. O projeto do Lateq chamou atenção da embaixatriz Ana Maria Amorim, esposa do chanceler Celso Amorim. Juntamente com Paul Singer, secretário nacional de Economia Solidária do Ministério do Trabalho e Emprego,  ela resolveu instalar dois telecentros com dez computadores ligados à internet nas localidades.

Uma antena do Sistema de Vigilância da Amazônia (Sivam) garante o acesso à internet. Os seringueiros vão eleger um conselho para preservar os telecentros. “É o fim do isolamento dessas pessoas”, comemorou Pastore.

Segundo o professor, a região é muito vulnerável. Como faz fronteira com a Bolívia e o Peru, a cidade facilita a invasão de terras para o plantio de drogas. “É de interesse do governo federal preservar as famílias da região e criar condições de crescimento para eles”, conta Pastore.

FOLHA DE DEFUMAÇÃO LÍQUIDA – A lâmina de borracha produzida pelo seringueiro é chamada de Folha de Defumação Líquida (FDL). O material é classificado e misturado com folhas de outros seringueiros para que seja formado um lote homogêneo. A folha chega à indústria pronta para o uso. Como cada lâmina é marcada com as iniciais do seringueiro e as três primeiras letras do nome da cidade em que foi produzida, é possível verificar de onde foi retirada a matéria-prima e quais são suas características. O processo não requer energia elétrica ou uso excessivo de água nem faz uso de produtos prejudiciais à saúde e ao meio ambiente.

PROJETO – As pesquisas em laboratório foram feitas entre janeiro de 1995 e abril de 1997. Em seguida, de junho de 1997 a fevereiro de 1999, foi implantada a fase piloto. Um kit experimental foi desenvolvido e implantado junto a 60 famílias em cidades do Acre, Pará e de Rondônia. Aproximadamente 3,8 toneladas de FDL foram produzidas. Em seguida, a equipe do projeto começou a conduzir a difusão da tecnologia. Cerca de 463 famílias de 11 cidades da região Norte foram beneficiadas com os kits de produção da FDL.

UnB Agência