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Discussões terminam em morte no DFA maioria dos homicídios cometidos no Distrito Federal (DF) é fruto de brigas de trânsito, discussões de bar ou desavenças familiares. Esses conflitos aparentemente banais são responsáveis por mais de 70% dos assassinatos cometidos na cidade, de acordo com uma pesquisa coordenada pelo professor Arthur Trindade, coordenador do Núcleo de Estudos sobre Violência e Segurança (Nevis) da Universidade de Brasília (UnB). Pior: metade dos conflitos que terminaram em homicídio ocorreu entre pessoas que se conheciam, ou seja, eram evitáveis.

Trindade, que é professor do Departamento de Sociologia (SOL) da UnB, analisou os 620 inquéritos policiais de homicídio abertos de 2005 a 2007 no DF e percebeu que os crimes contra o patrimônio (roubos, assaltos) e as contravenções ligadas ao crime organizado respondem por uma parcela muito pequena das mortes por aqui. “Em 2005, menos de 8% dos homicídios foram fruto de latrocínio, e menos de 15% derivaram de acertos de contas”, relatou o professor na tarde desta quarta-feira (30/04), durante palestra do programa Ofício do Ócio, do SOL.

Durante a palestra Violências e Conflitos Intersubjetivos no Brasil Contemporâneo, o professor defendeu a criação de políticas públicas para diminuir o número de homicídios na cidade. “A violência intersubjetiva (entre pessoas que se conhecem) é a mais dramática e a que menos recebe atenção do Estado”, lamentou Trindade. De acordo com o professor, é possível elaborar políticas públicas para prevenir essas mortes. Ele lembra que medidas como essa reduziram em quase 70% o número de mortes em Bogotá, capital da Colômbia.

POLÍCIA – A pesquisa coordenada por Trindade também mostrou que a polícia do DF está entre as mais bem aparelhadas do país. Aqui, os policiais conseguiram esclarecer 70% dos inquéritos de homicídio abertos de 2005 a 2007. No Rio de Janeiro, o percentual é de apenas 5% – em São Paulo e Minas Gerais não passa de 10%.

“O sucesso da polícia local se deve à organização das investigações e à qualidade da perícia técnica, que antecedeu historicamente a perícia da Polícia Federal”, explicou o professor, com uma ressalva: “Os dados não indicam que a polícia daqui é melhor” – o raio de atuação no DF é bem menor do que a dos outros estados, por exemplo. Toda essa força policial, contudo, não adianta nada se os problemas não forem solucionados em sua origem, indica Trindade.

Em um dos inquéritos analisados pelo especialista, um homem matou seu vizinho porque, um ano depois de ambos terem acertado um serviço de construção, o dinheiro não tinha sido pago. Como a obra para o quarto do filho do vizinho foi entregue com atraso e malfeita, não houve pagamento. Contrariado, o pedreiro procurou a polícia para solucionar o caso, mas não havia crime e o caso ficou pendente até o homicídio. “Precisamos de um serviço de administração de conflitos, e não apenas de uma força de combate ao crime”, resumiu Trindade.


Rodolfo Borges
UnB Agência