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Estudantes de pós-graduação e pesquisadores em início de carreira de 35 países participam, até 15 de julho, no Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas da Universidade de São Paulo (IAG-USP), da “São Paulo School of Advanced Science on Climate Change: Scientific basis, adaptation, vulnerability and mitigation”. Organizada pelo Núcleo de Apoio à Pesquisa em Mudanças Climáticas (INnter-disciplinary CLimate INvestigation cEnter) – INCLINE – um núcleo da Pró-Reitoria de Pesquisa da Universidade de São Paulo (USP)
que tem como objetivo promover a interdisciplinaridade das diversas áreas de pesquisa científica relacionadas às mudanças climáticas – e pelo Instituto Interamericano para Pesquisa em Mudanças Globais (IAI) – uma organização intergovernamental constituída por 19 países das Américas, sediada em Montevidéu, no Uruguai –, a Escola é apoiada pela FAPESP, por meio da modalidade Escola São Paulo de Ciência Avançada (ESPCA).

Foram selecionados 123 alunos – dos quais 58 são do exterior, 45 de São Paulo e 20 de outros estados brasileiros, entre mais de 400 inscritos –, entre estudantes de mestrado e doutorado, pós-doutores e pesquisadores em início de carreira, de diferentes disciplinas acadêmicas, tais como Ciências Naturais, Sociais, Humanas e Engenharia, com trabalhos e pesquisas relacionados aos temas da Escola.

“A programação da Escola cobre todos os temas relacionados às mudanças climáticas, que incluem observações e futuras projeções, vulnerabilidade, adaptação e mitigação, de modo que os participantes possam ter uma visão global dos três relatórios do IPCC [Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas, da Organização das Nações Unidas (ONU)] e observar que esses temas estão interligados”, disse Tércio Ambrizzi, professor do IAG-USP e coordenador do evento, à Agência FAPESP.

“Não é possível falar sobre aumento de temperatura do planeta sem abordar os impactos econômicos, sociais e nos ecossistemas e a adaptação a esses problemas. São temas interligados”, afirmou.

De acordo com o pesquisador, os relatórios do IPCC são divididos em três partes resultantes das contribuições de três grupos de trabalhos diferentes: a primeira relacionada às bases científicas, a segunda parte sobre impactos, adaptação e vulnerabilidade e a terceira sobre mitigação das mudanças climáticas.

Apesar de os três temas estarem interligados, estas diferentes partes do relatório acabam sendo lidas por públicos distintos. Os pesquisadores da área de Ciências Naturais, por exemplo, acabam detendo-se na parte sobre as bases científicas. Já os cientistas sociais e de outras áreas relacionadas à área de Humanas, por exemplo, acabam restringindo seus focos à segunda parte, sobre impactos, adaptação e vulnerabilidade, e à terceira, sobre mitigação das mudanças climáticas, exemplificou.

“Nos dois primeiros relatórios do IPCC esses temas estavam mais compartimentados. No último, a integração entre eles melhorou um pouco, mas havia muitas coisas repetidas. Na parte de adaptação é abordada a questão da circulação atmosférica e regional, por exemplo. Mas isso também aparece de forma muito similar no relatório 1”, comparou Ambrizzi.

Segundo o pesquisador, que participou como revisor dos dois últimos relatórios de avaliação do IPCC – o AR4, lançado em 2007, e o AR5, publicado em 2013 –, tem sido feito um esforço para que a interação entre esses três temas seja muito maior no próximo relatório do Painel, o AR6, previsto para ser lançado em 2021.

“Na reunião para redigir o esboço do AR6 [realizada no início de maio em Addis Abeba, na Etiópia], da qual participei, houve uma orientação clara para os autores líderes dos três grupos de trabalho conversarem mais”, disse Ambrizzi.

“Os participantes do grupo de bases científicas terão que interagir mais com os da parte de adaptação e vulnerabilidade e o relatório terá que mostrar essa interação”, ressaltou.

Modelos mais realistas

Os modelos climáticos que serão utilizados no AR6 para fazer as projeções do clima também deverão ser melhores do que os usados nos relatórios anteriores, avaliou Iracema Cavalcanti, pesquisadora do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe).

“No AR5 já foi possível observar uma grande melhoria nos modelos e nos resultados compilados pelo CMIP5 [Projeto de Intercomparação de Modelos Acoplados, Fase 5, do Programa Mundial de Pesquisa Climática (WCRP, na sigla em inglês)], avaliou a pesquisadora.

O projeto reuniu centenas de pesquisadores do clima, de centros de modelagem de 14 países, que compartilharam as análises e comparações dos últimos resultados de seus modelos globais.

O Brasil participou do CMIP5 com projeções computadas em uma versão aprimorada do Modelo Brasileiro do Sistema Terrestre (BESM, na sigla em inglês).

Desenvolvido por pesquisadores de diversas instituições, integrantes do Programa FAPESP de Pesquisa sobre Mudanças Climáticas Globais (PFPMCG),da Rede Brasileira de Pesquisa em Mudanças Climáticas Globais (Rede Clima) e do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia sobre Mudanças Climáticas (INCT-MC), o modelo consegue estabelecer – em intervalos determinados de tempo – a influência das combinações entre temperatura da superfície do mar, intensidade dos ventos, temperatura do ar, precipitação pluviométrica e radiação solar, entre outras variáveis.

Esse conjunto de informações permite prever o impacto das interações oceano-atmosfera sobre a distribuição de chuvas e temperaturas sobre o Brasil e o planeta.

“Agora estamos partindo para uma nova geração de modelos climáticos, que é o CMIP6. Com isso, esperamos uma melhora ainda maior nas representações e nas projeções do AR6 em comparação com as que foram feitas no AR5”, afirmou Cavalcanti.

Além do AR6, o IPCC produzirá nos próximos anos mais três relatórios especiais e um relatório metodológico sobre os inventários nacionais de gases de efeito estufa.

Um dos relatórios especiais, denominado SR1.5, será sobre os impactos do aquecimento global de 1,5 °C acima dos níveis pré-industriais, que deverá ser concluído em setembro de 2018.

O segundo relatório especial, batizado de SR2, será sobre as alterações climáticas, a desertificação, a degradação das terras, a gestão sustentável das terras, a segurança alimentar e os fluxos de gases de efeito de estufa nos ecossistemas terrestres e tem previsão de conclusão em setembro de 2019.

E o terceiro relatório especial – o SROCC –, que será sobre as alterações climáticas e os oceanos e a criosfera, também deverá ser concluído em setembro de 2019.

As contribuições dos três grupos de trabalho para o AR6 serão finalizadas em 2021, e o relatório de síntese será concluído no primeiro semestre de 2022, a tempo para a primeira ação global, em 2023, da Convenção-Quadro das Nações Unidas (UNFCCC), estabelecida no Acordo climático de Paris.

No Acordo, estabelecido em dezembro de 2015 durante a 21ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP21), realizada na capital francesa, os países signatários se comprometeram a cortar suas emissões de gases de efeito estufa com o objetivo de conter o aumento da temperatura do planeta em até 2 ºC até 2100.

Cientistas integrantes do IPCC, contudo, indicaram que o aumento da temperatura mundial deve ser limitado a 1,5 °C, uma vez que, com uma elevação da temperatura do planeta em 2 ºC, diversos países no Pacífico, por exemplo, situados muito próximos da costa, poderiam ser prejudicados em razão de um aumento do nível do mar causado pelo incremento da temperatura global.

“Reservamos o último dia da Escola para promover uma discussão final sobre como o aumento de 1,5 °C na temperatura global poderia efetivamente afetar o sistema atmosférico e oceânico como um todo”, disse Ambrizzi.

Agência FAPESP