“Parece haver consenso de que, entre os muitos tópicos suscitados, a restauração é um dos mais importantes. Em parte porque ambos os grupos contam com expertise para fazer funcionar projetos nessa área. Ainda vamos definir se o foco será na Mata Atlântica, Amazônia, Cerrado ou sistemas aquáticos. Devemos focar em áreas realmente ameaçadas”, disse à Agência FAPESP Koos Biesmeijer, diretor científico do Naturalis Biodiversity Center – fundação que mantém o Museu Nacional de História Natural da Holanda e também um centro de pesquisa sobre biodiversidade que congrega cientistas das principais universidades do país.
“No que se refere à restauração de ambientes degradados, mais do que recompor a biodiversidade perdida, tarefa impraticável no tempo de vida de uma geração, o objetivo é restaurar os serviços ecossistêmicos essenciais que dão suporte à sobrevivência da humanidade”, explicou Carlos Alfredo Joly, coordenador do BIOTA e pesquisador da Universidade Estadual de Campinas.
“Imagine o impacto econômico e na alimentação das pessoas se perdermos, por exemplo, os polinizadores. A restauração, se bem planejada, pode ser de fundamental importância para manter as populações de polinizadores, como bem demonstram artigos publicados nas revistas Science [Leia mais em: http://science.sciencemag.org/content/354/6315/975] e Nature [Leia mais em: http://www.nature.com/nature/journal/vaop/ncurrent/full/nature20588.html] recentemente”, acrescentou Joly.
Segundo Mariana Cabral de Oliveira, professora da Universidade de São Paulo (USP) e membro da coordenação do BIOTA, com base nas discussões realizadas no encontro, será redigida uma proposta a ser submetida à FAPESP e à Netherlands Organization for Scientific Research (NWO). A ideia é que as iniciativas colaborativas sejam financiadas conjuntamente no âmbito do acordo de cooperação entre as duas instituições.
“Ficou claro durante as discussões que a descrição de novas espécies é uma tarefa demorada e precisamos de ferramentas que tornem esse processo mais rápido e mais eficiente. Há uma corrida contra o tempo, pois há muitas espécies que estão sendo extintas antes mesmo de serem descritas”, comentou Oliveira.
Com as espécies identificadas, acrescentou a pesquisadora da USP, torna-se possível compreender melhor o funcionamento dos ecossistemas e estimar como podem ser alterados com a eventual perda de biodiversidade.
“Queremos medir a resiliência dos ecossistemas e o quanto ela depende da biodiversidade. Como a perda de espécies afeta a resiliência às mudanças climáticas. Os ecossistemas mais diversos são mais resilientes? Podemos realizar projetos para comparar ecossistemas brasileiros e holandeses, onde a variedade de espécies é menor”, disse Oliveira.
Na avaliação de Biesmeijer, muitas dessas questões levantadas são grandes demais para serem estudadas, de maneira isolada, por um único grupo de pesquisa.
“Assim como os astrônomos se unem para conseguir um grande telescópio ou os físicos para conseguir o grande colisor de hádrons (LHC, na sigla em inglês), nós que estudamos a biodiversidade precisamos nos unir para fazer estudos de maior impacto. Criar uma agenda comum e mostrar a importância desses temas para a sociedade”, defendeu o holandês.
Agência FAPESP