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Com o tema “Smart Cities – Cidades Inteligentes”, foi realizado no dia 11 de novembro, no Centro de Convenções Rebouças, o Encontro Internacional de Tecnologia e Inovação para Pessoas com Deficiência. Em sua oitava edição, o evento organizado pela Secretaria de Estado dos Direitos da Pessoa com Deficiência de São Paulo contou com a participação do coordenador adjunto de Pesquisa para Inovação da FAPESP, Fabio Kon, que apresentou as oportunidades de financiamento no âmbito do programa Pesquisa Inovativa em Pequenas Empresas (PIPE).
“O PIPE é uma ferramenta excepcional para apoiar o desenvolvimento de novas tecnologias. E as tecnologias voltadas a pessoas com deficiência, em particular, são muito bem-vindas. Poderíamos ter muito mais [projetos apoiados com esse objetivo] do que temos no momento”, afirmou Kon, que também é professor do Instituto de Matemática e Estatística da Universidade de São Paulo (IME-USP).

Segundo o coordenador adjunto da FAPESP, o Brasil vive hoje um paradoxo: embora o país tenha se destacado nos últimos 20 anos em relação ao volume de sua produção científica, houve poucos avanços em termos de inovação. Segundo Kon, ainda é difícil fazer com que a ciência gere uma tecnologia capaz de chegar ao mercado.

“Uma das formas de mudar esse panorama é investir em startups, as pequenas empresas de cunho tecnológico. É um modelo cada vez mais usado para transferência de tecnologia, inovação e experimentação. Testar várias possibilidades de tecnologia por meio de uma startup é muito mais barato que em uma grande empresa ou por meio do poder público”, afirmou.

Kon explicou que, por meio do PIPE, a FAPESP busca promover a inovação tecnológica, o desenvolvimento empresarial e aumentar a competitividade das pequenas empresas do Estado de São Paulo. “O programa está crescendo. Bateu o recorde de projetos aprovados em 2014, em 2015 e, este ano, já temos 170. Nossa meta para 2017 é chegar a 200”, disse.

Roberto Speiceys Cardoso, fundador de uma das startups gestadas com apoio do PIPE, foi um dos palestrantes do encontro. A empresa, conhecida como Scipopulis, tem como missão melhorar a experiência de usuários do transporte público, inclusive aqueles com deficiências.

“Existem vários tipos de informação sobre as coisas que se mexem em uma cidade. Mas esses dados estão espalhados, desestruturados. Nosso trabalho é analisar essa massa de dados e tirar informações que ajudem o gestor, o passageiro – todos os envolvidos na comunidade – a tomar decisões baseadas em fatos e evidências”, contou.

Cardoso destacou que hoje há pouca informação disponível para o usuário e as que existem não são acessíveis a pessoas com necessidades especiais. O grupo desenvolve há dois anos um aplicativo para smartphones para oferecer informações de transporte em tempo real baseadas no conhecimento coletivo (Leia mais: agencia.fapesp.br/23243/).

Sensibilização

Conforme explicou Cid Torquato, secretário adjunto dos Direitos da Pessoa com Deficiência e um dos organizadores do encontro, o evento anual tem como objetivo discutir novas tendências e fomentar a cadeia produtiva de tecnologias assistivas – desde os setores de pesquisa e inovação até os intermediários por meio dos quais o produto chega ao usuário final – seja pelo mercado ou pelo poder público, por meio de dispensação.

“Embora exista uma grande demanda, o mercado brasileiro de tecnologias assistivas ainda é pouco desenvolvido. Além de promover uma conversa entre todos os elos dessa cadeia, o evento tem o intuito de incluir na discussão pessoas que não participam desse universo. Fazer com que a sociedade, como um todo, entenda mais sobre o tema e dê mais importância para essas questões”, disse.

Torquato destacou a importância do papel educativo do evento. “A deficiência hoje permeia a sociedade. Muitos têm alguém próximo com deficiência. Além disso, com o envelhecimento da sociedade, é comum as pessoas desenvolverem limitações e deficiências ao longo da vida. Essas informações também são úteis para uso próprio”, destacou.

Entre os palestrantes do setor de pesquisa e inovação estava o professor Eduardo de Senzi Zancul, da Escola Politécnica (Poli) da USP, que falou sobre os métodos que tem adotado para compreender melhor as necessidades das pessoas com deficiência e, assim, aprimorar os projetos desenvolvidos em seu laboratório.

“O engenheiro é formado para criar coisas novas para os outros e um dos desafios é entender as necessidades desse público-alvo. Uma das ferramentas que tem nos ajudado é o Design Thinking [abordagem que propõe olhar para os usuários no ponto final do processo e entender suas necessidades reais antes de inovar]. Também tem sido fundamental trabalhar em equipes multidisciplinares”, contou.

Outra estratégia adotada pelo grupo de Zancul na USP é o desenvolvimento de diversos protótipos virtuais e físicos para que usuários possam avaliar e criticar – antes que seja construído um protótipo final para ser apresentado à indústria. Como exemplo ele citou o projeto que desenvolve uma cadeira de rodas específica para auxiliar no embarque de aeronaves, já no terceiro protótipo, e outro de um lavatório acessível para aviões.

“Começamos com algo bem simples, feito com cartolina e massinha, e depois vamos sofisticando”, disse.

Para falar de políticas públicas esteve presente James Thurston, vice-presidente da Iniciativa Global para Tecnologias de Informação e Comunicação Inclusivas (G3ict, na sigla em inglês). Ele apresentou dados de uma pesquisa feita com os 106 países – entre eles o Brasil – que ratificaram a Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência, adotada pela Organização das Nações Unidas (ONU).

“O mundo não é tão acessível quanto deveria em termos de tecnologia. Apenas 40% dos países que ratificaram a convenção, por exemplo, contam com websites governamentais acessíveis. No setor privado o índice é de 18% apenas. Criar uma política pública é bom, mas de nada adianta se ela não for de fato implementada e muitas vezes o que falta é capacitação”, avaliou.

Alessandro Bueno Tavares, gerente do Time de Desenvolvimento de Negócios com Foco em Inovação da Microsoft Brasil, falou sobre os chamados serviços cognitivos – novos aplicativos que estão surgindo com grande potencial para auxiliar pessoas com deficiência. Como exemplo ele mencionou óculos capazes de tirar fotos em tempo real e descrever as imagens para auxiliar nas atividades de deficientes visuais.

O encontro ainda contou com a participação de representantes de movimentos sociais, como a Organização Minha Sampa; entidades governamentais como a Fundação de Apoio à Capacitação em Tecnologia da Informação (Facti), profissionais da área de design, engenharia, tecnologia da informação, arquitetura e urbanismo, entre outros.

Paralelamente, entre os dias 11 e 13, foi realizada também no Centro de Convenções Rebouças a terceira edição brasileira do TOM São Paulo. Como nos anos anteriores, o evento reuniu estudantes, professores e pesquisadores de colégios, escolas técnicas, faculdades, universidades e centros de pesquisa em um espaço para que pudessem demonstrar suas ideias e projetos de tecnologia assistiva voltados a todos os tipos de deficiência (física, visual, auditiva, intelectual ou múltipla).

A iniciativa foi inspirada no projeto TOM Israel, realizado originalmente na cidade de Nazaré em 2014. Este ano estiveram em destaque as tecnologias digitais acessíveis e que contribuam para a qualidade de vida de pessoas com e sem deficiência.

Agência FAPESP