Durante a mesa-redonda “Organization of Networks to Tackle the Zika Menace”, realizada na tarde desta terça-feira, 8 de novembro, o diretor do Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz) Wilson Savino, um dos organizadores do evento, destacou o pioneirismo da FAPERJ ao lançar, em dezembro de 2015, um edital específico para apoiar o estudo das arboviroses, que incluem a Zika e a Chikungunya. “A articulação de pesquisas científicas em redes, nacionais e internacionais, foi uma mudança de paradigmas no enfrentamento ao Zika vírus. Nesse sentido, o edital Pesquisa em Zika, Chikungunya e Dengue no Estado do Rio de Janeiro – 2015 contribuiu no sentido de unir a comunidade científica para gerar conhecimento e dar respostas à sociedade diante de uma emergência em saúde pública”, disse Savino, que é coordenador de uma das seis redes de pesquisa apoiadas no edital, intitulada “Microcefalia associada à infecção pelo vírus Zika: uma abordagem transdisciplinar.”
Com experiência na área de imunologia celular, ele destacou a importância da realização do simpósio. “Precisamos discutir os avanços e os desafios que temos no controle do Zika vírus. Houve avanços em relação ao diagnóstico da doença, e temos perspectivas positivas em relação a pesquisas que apontam, no futuro, para as primeiras alternativas de tratamento e a possibilidade de se pensar em uma vacina. Hoje, cerca de 30 instituições de pesquisa no mundo estão pesquisando o desenvolvimento de protótipos de vacinas para Zika”, ponderou Savino.
Mas também há desafios a serem superados em um prazo imediato, como a necessidade de um melhor controle do vetor – o mosquito Aedes aegypti. “Temos, por exemplo, um estudo coordenado por Luciano Moreira, da Fiocruz-Minas, com a participação de Ricardo Lorenzo, do IOC/Fiocruz, no Rio, sobre o uso da bactéria Wolbachia como uma alternativa natural, segura e autossustentável para o controle de dengue, Chikungunya e Zika. O estudo traz dados inéditos sobre a capacidade da Wolbachia de reduzir a replicação do vírus no organismo do mosquito”, completou.
Por sua vez, o diretor Científico da FAPERJ, Jerson Lima Silva, também pesquisador e professor do Instituto de Bioquímica Médica da Universidade Federal do Rio de Janeiro (IBqM/UFRJ), falou sobre a organização e o manejo da rede de "Pesquisa em Zika, Chikungunya e Dengue no Estado do Rio de Janeiro – 2015”, da FAPERJ. Ele destacou a importância da criação desse edital específico para a rápida articulação das comunidades científica e tecnológica no ano passado, quando ainda não estava confirmada a relação da infecção por Zika com os casos de microcefalia em bebês e outras alterações congênitas, bem como a Síndrome de Guillain-Barré. “Foi importante a ideia de formar redes de pesquisa, em vez de apoiar os grupos separadamente. A comunidade científica tem feito um trabalho impressionante de qualidade e em grande quantidade, como mostra o grande número de publicações brasileiras referentes a descobertas recentes sobre o Zika vírus. Por já ter uma base de pesquisa constituída nos anos anteriores, nossos cientistas puderam responder com agilidade”, reconheceu Silva.
Pelo programa, a FAPERJ apoia seis redes de pesquisa em arboviroses, que incluem aproximadamente 380 pesquisadores em diferentes instituições de ensino e pesquisa do estado, como a UFRJ, a Fiocruz, a Universidade Federal Fluminense (UFF), a Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (UniRio) e a Universidade Estadual do Norte Fluminense (Uenf). Com recursos previstos da ordem de R$ 12 milhões por dois anos, o programa prioriza a busca por respostas emergenciais sobre as doenças, incluindo o estudo de novas estratégias para o controle do mosquito Aedes aegypti, de prevenção da doença, de métodos de diagnóstico e dos casos de microcefalia.
Outra mesa-redonda realizada na terça-feira foi “Setting up and managing na international effort to cope with a human health crisis: the Zika outbreak in Brazil as a case”. A médica pediatra Maria Elisabeth Lopes Moreira, que é professora do Instituto Fernandes Figueira, da Fiocruz, compartilhou sua experiência. Ela coordena o projeto “Exposição vertical ao Zika vírus e suas consequências para o neurodesenvolvimento infantil”, apoiado pela FAPERJ. “Hoje, há cerca de 2000 casos confirmados de microcefalia associados à infecção pelo Zika vírus no Brasil”, afirmou.
A pesquisadora apresentou um panorama sobre o estudo “Zika in Infants and Pregnancy-ZIP” (Zika em Grávidas e Bebês), que tem o objetivo de acompanhar até 10 mil mulheres, a partir no primeiro trimestre de gravidez, para determinar se foram expostas ao Zika e avaliar as consequências da infecção para mãe e feto nos casos positivos. Os bebês das mães participantes serão acompanhados pelo menos ao longo de ano após o nascimento. O projeto conta com o suporte da Fiocruz e da instituição americana National Institutes of Health (NIH). “Mesmo os bebês que não tem microcefalia apresentam, muitas vezes, outras alterações neurológicas. Cerca de 42% dessas crianças, aparentemente normais, desenvolvem algum problema no neurodesenvolvimento ainda no primeiro ano de vida”, revelou.
Esse tema é apresentado no artigo Zika virus infection in pregnant woman, publicado no New England Journal of Medicine, que tem Elisabeth como uma das autoras (veja o artigo: http://www.nejm.org/doi/full/10.1056/NEJMoa1602412#t=article). Elizabeth lembrou que o conhecimento da história natural da transmissão vertical do Zika vírus e sua associação com alterações do neurodesenvolvimento fetal e nos primeiros anos de vida ainda é escasso e estudos sobre biomarcadores, mecanismos de resposta inflamatórias, evolução viral e desenvolvimento de testes sorológicos para identificação de infecção pelo Zika vírus, fatores que determinam gravidade e evolução clínica são necessários.
O simpósio é uma realização da ANM, Academia Brasileira de Ciências (ABC) e Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), com o apoio da FAPERJ, do IAP for Health (parceria internacional das academias de ciência para a saúde), da Bayer, e da Coordenação de Pessoal de Nível Superior (Capes). A Academia Nacional de Medicina fica na Av. General Justo, 365, 7º andar, no Centro (próximo ao aeroporto Santos Dumont). As inscrições podem ser realizadas no endereço: http://eventos.fiocruz.br/evento/zika-symposium.
Assessoria de Comunicação FAPERJ