Amorim abordou também o processo político dos últimos anos do Brasil. De acordo com o ex-ministro, a eleição de Luiz Inácio Lula da Silva e, posteriormente, de Dilma Rousseff, primeira mulher a ocupar o cargo, é a representação da democratização, relativamente tranqüila, pela qual o país vem passando. “A gestão iniciada em 2003 está sendo levada adiante até hoje e tem como peça-chave a grande capacidade de articulação com países como Índia, China e África do Sul”, afirmou.
Citando reportagem do francês Le Monde, Amorim reforçou a importância da diversidade das parcerias internacionais brasileiras. “A política externa brasileira foi imaginativa. Pensamos o que antes não era pensado”, disse. “Do ponto de vista intelectual, temos muito a aprender, mas, também, bastante a ensinar para outras nações”, completou.
Após o discurso de Amorim, teve início a palestra do professor e doutor em Socio-economia do Desenvolvimento Carlos Milani, do Departamento de Estudos Políticos da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (UniRio), sobre educação superior como ferramenta de cooperação internacional. De acordo com o docente, as inovações nas tecnologias e nas formas de se ensinar são de extrema importância. “Os novos fluxos, as universidades virtuais e o ensino à distância são fatores que merecem atenção”, defendeu.
Milani expôs, com dados da Unesco, as regulamentações da Educação Superior em países como Argentina e México, que possuem um limite de 20% para o número de universidades privadas. Em contraposição, no Brasil, a mesma porcentagem equivale às instituições públicas. Com base nisso, o professor apontou os interesses econômicos por trás do ensino. “Existe uma economia política da educação superior e isso tem que ser levado em consideração, mesmo que se tenha opiniões e posições políticas e ideológicas contrárias”, afirmou.
Ainda segundo Milani, apesar desse peso da economia, questões não econômicas também são cruciais para estabelecer relações vantajosas de ensino e pesquisa do Brasil com outros países. Para isso, o docente propõe uma atenção do Ministério da Educação (MEC) e a Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) com os editais voltados para projetos com outros países lusófonos.
Carlos Milani também ressaltou questões como os desafios para o intercâmbio das universidades brasileiras com as estrangeiras: a qualidade das articulações, parcerias e concursos promovidos; assuntos referentes à técnica docente, como quantidade de professores estrangeiros ou que dominem outras línguas além do português; questões discentes, como a preparação dos estudantes locais para receberem os estrangeiros e vice-versa; a administração financeira, voltada para contratos de pesquisas internacionais e, por fim, os principais atores de cooperação interna, como as organizações multilaterais universais e regionais e as organizações não-governamentais (ONGs).
ANNA LETÍCIA VELASCO - AGÊNCIA UFRJ DE NOTÍCIAS - PRAIA VERMELHA