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Ao desembarcar no Brasil, então colônia portuguesa, o príncipe regente Dom João logo tratou de criar uma escola para ensino da medicina. Na verdade, foram duas: em fevereiro de 1808, na capitania da Bahia, e em novembro do mesmo ano, na recém-criada corte do Rio de Janeiro. Iniciativa tomada por influência de seu médico particular, José Correia Picanço, que acabou se tornando patrono da fundação do ensino médico no País. Picanço também dá nome à medalha que será entregue durante a realização do XV Congresso Brasileiro de História da Medicina e do II Congresso de História da Medicina do Estado do Rio de Janeiro, sob a presidência do professor Carlos Alberto Brasílio-de-Oliveira.
Os dois eventos, que contam com o apoio de diversas instituições, entre elas a FAPERJ, terão lugar entre os dias 6 e 9 de outubro, nas dependências da Academia Nacional de Medicina, no centro da cidade.

O congresso, que é anual, este ano terá como tema as instituições médicas. Será também a segunda vez que o Rio de Janeiro sediará o encontro. "Isso se deve à importância da cidade, que foi onde surgiram as primeiras instituições médicas criadas no País. Muito da história da medicina brasileira se confunde com a história do Rio de Janeiro", explica Antonio Rodrigues Braga Neto, professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e secretário executivo do congresso. Como conta Antonio Braga, a própria Academia Nacional de Medicina, onde o congresso será realizado, foi fundada durante o império, com o nome de Academia Imperial de Medicina. Com a proclamação da República, passou a ter o nome que conserva até hoje. "Também manteve a mesma função, de assessorar as autoridades de saúde por ocasião de epidemias e casos de saúde pública. Foi assim durante a epidemia de febre amarela na cidade, no século XIX, e recentemente na epidemia de dengue de 2002 e na de gripe suína de 2009", fala.

Da mesma forma, a Santa Casa de Misericórdia do Rio de Janeiro (SCMRJ), o Colégio Brasileiro de Cirurgiões (CBC) e a Sociedade de Medicina e Cirurgia do Rio de Janeiro (SMCRJ) também figuram entre as primeiras instituições fundadas no país. "A Santa Casa, por exemplo, foi o segundo hospital criado no Brasil, em 1582. Em adição ao prédio original, da época de sua criação, foram inauguradas novas dependências em 1840, durante o império, com a presença do próprio D. Pedro II, para melhor atender a população que crescia. É onde a instituição funciona até hoje", esclarece Antonio Braga. Ele acrescenta: "As Santas Casas, ou as chamadas Casas de Deus, existem no mundo inteiro. A primeira foi criada em Lisboa, mercê das benesses da rainha Dona Leonor; no Brasil, a primeira foi erguida em Santos, e a segunda no Rio de Janeiro." Da mesma forma, Antonio Braga destaca que a Sociedade de Medicina e Cirurgia do Rio de Janeiro é também uma das associações mais antigas do país, valorizando a organização da categoria médica em torno das discussões específicas da saúde e de seu papel político.

Para contar essas e outras histórias, a programação do congresso apresentará painéis sobre temas diversos. Três deles falarão sobre a história das especialidades médicas, da oftalmologia à psiquiatria, da cirurgia oncológica à cirurgia plástica; outro debaterá sobre as instituições médicas e científico-culturais. E ainda outra palestra será dedicada às Santas Casas. Haverá também uma apresentação sobre a história dos medicamentos, contada por meio da propaganda. Paralelamente, serão abertas duas exposições: "Arte e Saúde", no museu da academia, e "Livros Raros", na biblioteca da mesma instituição. Antonio Braga antecipa ainda sobre as homenagens previstas durante o evento. Uma delas é a entrega da medalha José Correia Picanço, que agraciará três médicos de renome da sociedade carioca; outra será o prêmio Carlos Silva Lacaz, que selecionará a melhor monografia sobre o tema da história da medicina; e a terceira, o prêmio Francisco Fialho, que leva o nome de um grande nome da história da medicina, falecido há um mês, agraciará o melhor pôster do congresso.

Antonio Braga anima-se ao comentar sobre o número de inscritos, que vem crescendo ano a ano. Em 2010, já são esperadas cerca de 400 participantes. "É crescente o interesse pelo tema, assim como também vem aumentando o número de associados à Sociedade Brasileira de História da Medicina e suas regionais. Ele também ressalta como a história da medicina está, progressivamente, voltando a fazer parte dos currículos das faculdades. "Temos um curso pré-congresso, sobre métodos e fundamentos da história da medicina, que muito deverá ajudar os professores e alunos interessados no assunto." O secretário executivo frisa que uma das palestras traçará um panorama do ensino da matéria na graduação e na pós-graduação dos cursos de medicina no Brasil.

"Nos primórdios, a história da medicina era uma disciplina integrante e obrigatória dos cursos médicos, mas que, com o correr do tempo, foi sendo deixada de lado. Nos últimos anos, no entanto, várias universidades – como a UFRJ, a Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (UniRio), a Universidade Federal Fluminense (UFF) e a Universidade Severino Sombra (USS) – vêm retomando a inclusão da cadeira, por entenderem sua importância na formação de um clínico", defende Antonio Braga. Como ele explica, um médico que não conhece o passado "é também incapaz de reconhecer o valor das conquistas que o antecederam, de ver os erros que o precederam e macularam o exercício da arte de Hipócrates, e de vislumbrar um futuro mais venturoso para os herdeiros de Esculápio, o deus da medicina. Estudar essa história é compreender a prática médica, como Hipócrates recomendava: a medicina a serviço dos que sofrem. Em outras palavras, humanista, generalista, crítica, reflexiva, inserida e cidadã."

Assessoria de Comunicação FAPERJ