A Europa, a América do Norte e os demais continentes também estão presentes no projeto, ainda que na condição de coadjuvantes.
O coordenador considera ter sido uma interessante coincidência histórica que o projeto, chamado “América Latina na História Contemporânea”, tenha se iniciado em 2008, quando a crise financeira global começava a rearranjar a geopolítica mundial de forma que as economias emergentes da América Latina passaram a dar a ela um papel mais proeminente e as dos países da União Europeia a relegaram a uma função mais secundária.
No caso do Brasil, a coleção de livros História do Brasil Nação: 1808-2010, coeditada pela Editora Objetiva, é composta de seis volumes, que serão publicados até o 1º semestre de 2013, sob a coordenação da historiadora e antropóloga Lilia Moritz Schwarcz e a participação de 28 autores.
O terceiro volume da coleção brasileira, História do Brasil Nação – A abertura para o mundo: 1889-1930, foi lançado em setembro deste ano. O primeiro se chama Crise Colonial e Independência: 1808-1830 e o segundo, A construção nacional: 1830-1889.
Também fazem parte do projeto, que é patrocinado pela Fundación Mapfre e pelo grupo Santilana, exposições de fotos, como a que está em exibição atualmente no Instituto Tomie Ohtake, em São Paulo: Um olhar sobre o Brasil: A fotografia na construção da imagem da nação, com curadoria do historiador e fotógrafo Boris Kossoy.
Na mesma sessão do simpósio em Madri, Marcelo Ridenti, professor de sociologia da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), falou sobre o tema “Caleidoscópio da cultura brasileira – 1964-2000”, que se integra no Projeto Temático da FAPESP intitulado “Formação do campo intelectual e da indústria cultural no Brasil contemporâneo”.
Ridenti falou como nesse período ocorreram conjuntamente processos de grande impacto sobre a sociedade, em especial os das rápidas industrialização e urbanização e da democratização e massificação da cultura, marcados pela contradição da convivência do moderno com o arcaico, do progresso com o atraso, do desenvolvimento com as desigualdades.
“O campo intelectual e a indústria cultural no Brasil se formam e se fortalecem concomitantemente, diferentemente do que aconteceu na Espanha, na França e nos demais países da Europa, onde aquele já estava estabelecido quando a segunda começou a se estruturar”, disse.
Assim, aconteceu nessa época uma crescente profissionalização dos produtores de cultura no Brasil, com todas as consequentes vantagens e desvantagens dessa situação típica de desenvolvimento desigual e combinado que caracteriza fortemente a atividade intelectual brasileira.
Ridenti mostrou à audiência diversas tabelas sobre o crescimento rápido e intenso de aparelhos de TV no Brasil, assim como do aumento extraordinário de admissões no ensino superior e decréscimo do analfabetismo formal (mas não do funcional) ocorridos nos 46 anos englobados em sua pesquisa.
Em especial durante o regime militar, ressaltou Ridenti, as contradições eram frequentes: artistas premiados pelo Estado tinham muitos de seus trabalhos censurados, acadêmicos com bolsas de entidades estatais iam para o exterior estudar e lá desenvolviam atividades de oposição política ao regime, por exemplo.
Agência FAPESP