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Se não sabe o significado de uma palavra, vá procurar no “pai dos burros”. O apelido irreverente, recorrente no imaginário popular, é uma alusão ao dicionário. Brincadeiras à parte, os dicionários são aliados essenciais no estudo de uma língua e requerem um trabalho de pesquisa minucioso. Pensando em contribuir para enriquecer a bibliografia na área, o projeto coordenado pelo professor Ricardo Cavaliere, pesquisador da Universidade Federal Fluminense (UFF), com recursos do programa de Apoio à Pesquisa (APQ 1), da FAPERJ, resultou na publicação de três dicionários com distintas abordagens para o estudo do idioma: Dicionário etimológico da língua portuguesa; Dicionário de Machado de Assis – língua, estilo, temas; e Dicionário de locuções e expressões da língua portuguesa.

“As três obras, de autores diferentes, se complementam para cobrir questões relativas à origem, evolução e expressividade de vocabulário e do uso da língua portuguesa”, resume Cavaliere, que trabalhou como coordenador editorial dos três dicionários – todos publicados pela editora Lexikon. A primeira delas, o Dicionário etimológico da língua portuguesa, de Antônio Geraldo da Cunha, reconhecido pesquisador do idioma, é uma reedição. Trata-se da 4ª edição, revista e atualizada segundo a nova ortografia, de uma obra de já consagrado sucesso editorial. “O livro é uma obra rara no conjunto dos dicionários brasileiros. Ele aborda o aspecto etimológico, que diz respeito à formação e à datação das palavras no idioma”, explica o pesquisador. As influências de outras línguas para a formação das palavras são destacadas. A palavra “taba”, de origem indígena, é assim descrita: "sf. aldeia dos índios do Brasil. c 1698. Do tupi taua”.

Outra obra que vem obtendo boa repercussão é o Dicionário de Machado de Assis – língua, estilo, temas, de Castelar de Carvalho, docente aposentado da Universidade Federal do Rio de Janeiro e membro da Academia Brasileira de Filologia. Nela, o autor discorre sobre a linguagem e o estilo adotados pelo bruxo do Cosme Velho, e também sobre os temas mais recorrentes do universo criado em seus nove livros. “Castelar Carvalho levanta uma série de fatos gramaticais e estilísticos presentes na obra de Machado de Assis. Ele cita o fato gramatical, como casos de metáfora, figuras de estilo ou inversões sintáticas, e aponta exemplos correspondentes na obra de Machado de Assis”, exemplifica Cavaliere, acentuando o ineditismo do dicionário. “É um trabalho sem par”, completa.

Com base na obra machadiana, o autor explica no dicionário, por exemplo, o que é metalinguagem. Como no trecho: “É um traço estilístico de Machado de Assis o hábito de enunciar opiniões ou emitir comentários sobre a linguagem empregada por ele em seus textos de ficção (e até mesmo nas crônicas).” Depois, Cavaliere parte para os exemplos de metalinguagem do próprio bruxo de Cosme Velho. De Memórias póstumas de Brás Cubas, cita a passagem: “Este livro e meu estilo são como os ébrios, guinam à direita e à esquerda, andam e param, resmungam, urram, gargalham, ameaçam o céu, escorregam e caem.”

Já o Dicionário de locuções e expressões da língua portuguesa, da dupla de autores mineiros Carlos Alberto de Macedo Rocha e Carlos Eduardo Penna de M. Rocha, reúne centenas de frases e expressões empregadas na linguagem coloquial, que têm registro em texto escrito e fazem parte do cotidiano de brasileiros das diversas regiões do País. “O dicionário traz quase 18 mil verbetes com locuções do dia a dia, incluindo as regionais”, destaca Cavaliere. Para o pesquisador, além de valorizar um patrimônio de regionalismos e reminiscências culturais, a obra se destaca pela atualidade. “Existem outros dicionários de locuções, mas essa versão é a mais atualizada, com locuções que ingressaram recentemente no idioma e um índice remissivo”, completa.

Entre os termos listados de A a Z no livro estão curiosidades, como “sentir gosto de chapéu de sol na boca”, explicada como “diz-se do mau gosto na boca no dia seguinte ao de exceder-se na comida ou na bebida; estar de ressaca. Var. 'sentir gosto de guarda-chuva na boca'". Outro exemplo é a expressão “mostrar com quantos pontos se cose uma jereba”, descrita como “mostrar o próprio valor, dizendo a expressão em tom de desafio ou de ameaça. Jereba = a acepção para esse termo na frase é: arreios”. Por sua vez, “olhos de sapiranga” são explicados como “olhos avermelhados”.

Os três dicionários estão disponíveis para a venda nas livrarias e para consulta nas bibliotecas de universidades públicas e nas bibliotecas municipais e estaduais do Rio de Janeiro, além da Biblioteca Nacional. “A bibliografia sobre o léxico do português fica mais completa com essas três obras. O público em geral e os estudantes de disciplinas relacionadas ao conhecimento da língua portuguesa ganham mais fontes de consulta para auxiliar suas atividades”, conclui Cavaliere.

Assessoria de Comunicação FAPERJ