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A Editora Unesp publicou em junho a versão em português do livro Poesia Completa de Yu Xuanji. É a segunda obra que a editora lança a partir de uma tradução direta do chinês para o português, um trabalho pioneiro no Brasil entre as editoras universitárias. A ação é resultado de uma cooperação com o Instituto Confúcio na Unesp, de São Paulo, órgão vinculado ao governo Chinês que tem como objetivo difundir a cultura e a língua chinesa.
A tradução do livro demorou dois anos e foi realizada em parceria pelo poeta e diplomata brasileiro Ricardo Primo Portugal, do consulado do Brasil em Cantão (Guangzhou), na China, e por sua esposa, a chinesa Tan Xiao, intérprete, professora e mestranda em ensino de chinês para estrangeiros. “É a primeira vez que um poeta chinês tem sua obra completa traduzida no Brasil, e diretamente do mandarim, em edição bilíngue”, afirma Portugal. Ele explica que há muito poucas traduções de poesia chinesa, e, em geral, elas são feitas a partir de versões anteriores para outras línguas ocidentais.

Yu Xuanji (844 – 869 d.C.) é uma das principais poetas da Dinastia Tang (618 – 905 d.C.), considerada a “Idade de Ouro” da cultura e da poesia clássica chinesa. Esse período teve mais de 2.200 poetas - 190 deles mulheres.

Segundo Jézio Gutierre, editor executivo da Editora Unesp, a participação feminina nessa época não encontra paralelo na história de países ocidentais. “Havia muita repressão às mulheres em todo o mundo, mas na China elas acharam na literatura clássica um espaço que puderam ocupar e onde foram muito bem sucedidas.”

Ex-concubina, monja taoísta e cortesã, Yo Xuanji era uma mulher de vida livre para os padrões da época. Sua poesia reflete seu espírito precursor, rompendo com a tradicional voz feminina associada à humildade e à submissão. Perseguida e acusada de assassinato, a poeta morreu aos 26 anos. Historiadores associam as condições de sua morte à polêmica gerada pelos conceitos libertários que disseminava.

Para Portugal, sua obra valoriza o desejo e a sensualidade, além de questionar explicitamente as limitações da condição subalterna da mulher na sociedade. “Também era a primeira vez que a poesia lírico-amorosa encontrava uma expressão autobiográfica.”

Outras publicações

A parceria do Instituto Confúcio na Unesp com universidades chinesas já rendeu diferentes projetos de publicação, entre eles Desafios Brasileiros em Época de Gigantes, do embaixador Samuel Pinheiro Guimarães, lançado este ano pela Editora Unesp, em Pequim. A tradução da obra para o mandarim foi realizada por uma equipe do Centro de Estudos Brasileiros do Instituto de Estudos Latino Americanos da Academia Chinesa de Ciências Sociais, sob a coordenação do diretor do centro, o embaixador da China no Brasil Chen Duquing.

A Editora Unesp lançou também a tradução direta para o português de Os Analectos, atribuídos ao filósofo Confúcio (551 a.C. a 479 a.C.) e a seus discípulos. É o livro doutrinal mais importante do confucionismo e foi tão lido na China quanto a Bíblia no Ocidente, sendo considerado o único registro confiável dos ensinamentos desse pensador. “Planejamos novas publicações em breve, que devem aumentar o intercâmbio cultural entre os dois países”, afirma Jézio.