Submit to FacebookSubmit to Google PlusSubmit to TwitterSubmit to LinkedIn
A construção institucional do Museu Paraense no contexto das transformações sociopolíticas decorrentes da passagem do Império para a República: este é o tema explorado pelo historiador Nelson Sanjad no livro A Coruja de Minerva, publicado em coedição pelo Instituto Brasileiro de Museus (Ibram), pelo Museu Paraense Emílio Goeldi e pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), por meio da Editora Fiocruz. O autor defende o argumento de que o regime republicano e o sistema federativo foram marcos fundamentais para a trajetória do Museu e sua consolidação no cenário científico.
Não se trata, porém, de descrever, de modo simplista, o regime imperial como pré-científico e o republicano como científico. Longe disso, Sanjad se propõe a investigar os mecanismos republicanos que possibilitaram (ou não) maior inserção da ciência e dos cientistas na sociedade. A atenção do pesquisador se dirige a temas como os projetos modernizantes locais, as mudanças institucionais, o contato entre gerações de intelectuais e o discurso cientificista da nova elite dirigente do Pará.

De acordo com o historiador, o período após a Proclamação da República se caracterizou por transformações importantes no cenário científico brasileiro, associadas ao fortalecimento político e financeiro dos estados. “Em pouco mais de dez anos e em alguns estados, o sistema federalista transformou significativamente o cenário científico por meio da ampliação dos espaços e das políticas que permitiram a afirmação profissional do cientista”, escreve Sanjad. Contudo, o autor chama a atenção para o fato de que o apoio à ciência não foi homogêneo. Enquanto São Paulo teve um grande impulso, por exemplo, as políticas de incentivo à ciência no Rio Grande do Sul foram limitadas.

Entretanto, “em alguns casos, como no dos museus de história natural, pode-se afirmar que houve uma desconcentração científica com a criação ou fortalecimento de instituições localizadas fora da capital do país”, salienta o autor. “O Museu Paulista e o Museu Paraense passaram a dividir com o Museu Nacional do Rio de Janeiro, na década de 1890, a liderança nas ciências naturais brasileiras”, avalia. No livro, os esforços de pesquisa de Sanjad se voltam para o caso do Museu Paraense, que se destacou, especialmente, sob a administração do cientista suíço Emílio Goeldi, de 1894 a 1907. A partir de uma diversidade de fontes documentais, algumas inéditas, o autor analisa criticamente a história que vai da idealização do Museu, em 1860, à sua transformação, em 1890.

Ainda no período imperial, o primeiro personagem destacado é Domingos Soares Ferreira Penna, secretário de Governo, que idealizou um museu cujos estudos fossem concentrados na região de Belém. A semente do Museu Paraense foi, portanto, um projeto institucional de intelectuais e educadores no Império, mas este projeto não chegou a ser instalado e estruturado por razões políticas. Após a Proclamação da República, outro personagem central da história, José Veríssimo Dias de Mattos, diretor de Instrução Pública, ‘resgatou’ o projeto de Ferreira Penna. Na sequência, a iniciativa de Veríssimo foi perpetuada pelo governador Lauro Sodré, em cuja gestão Goeldi foi contratado e o Museu Paraense, reformado.

Ao assumir a difícil tarefa de caracterizar a agenda científica do Museu Paraense sob a administração de Goeldi, Sanjad se depara com a enorme produção científica do Museu e com a grande diversidade de temas e disciplinas estudadas por Goeldi e seus colegas. O autor se concentra, então, na figura de Goeldi: trabalhos em ornitologia, entomologia médica e etiologia da febre amarela; alguns estudos evolucionistas; interlocução com o Museu Britânico; e envolvimento na disputa entre Brasil e França pela maior parte do território do Amapá. “O Museu Paraense era uma instituição integrada à sociedade local, seu diretor identificava-se com as questões nacionais e sua agenda científica era permeável às contingências políticas”, resume o historiador.

O livro A Coruja de Minerva: o Museu Paraense entre o Império e a República (1866-1907) vem preencher uma lacuna nos debates acadêmicos, ainda relativamente restritos, sobre museus de história natural do século 19. Ele é fruto da tese de doutorado homônima defendida por Sanjad no Programa de Pós-Graduação em História das Ciências e da Saúde da Casa de Oswaldo Cruz (COC/Fiocruz). O trabalho foi eleito a melhor tese do Programa em 2006. Foi também o grande vencedor da categoria Teses do I Prêmio Mário de Andrade, realizado em 2008 por iniciativa do então Departamento de Museus e Centros Culturais do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Demu/Iphan), hoje Ibram, e da Associação Brasileira de Antropologia (ABA).

Assessoria de comunicação
Editora da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz)