Com uma câmera digital simples, Martins captura imagens como a da mesa nº 13, no pub Eagle, na Saint Benet Street, onde, numa tarde fria de 1953, Francis Crick, tendo concluído a investigação sobre o DNA, disse a James Watson acreditar terem eles descoberto “o segredo da vida”.
Sua câmera registra também o Varsity, pequeno restaurante Cipriota onde Rajiv Ghandi conheceu a garçonete italiana, Edvige Màino, que se tornaria Sonia Gandhi, figura central do Partido do Congresso, na Índia. Flagra também imagem de uma macieira, “neta” daquela de onde se desprendeu a maçã reveladora da teoria da gravidade a Isaac Newton.
“Em Cambridge não há um só canto que não tenha a ver com as grandes mudanças e com a transformação do mundo moderno”, disse Martins. “Não se dá um passo pela Sidney Street, pela Trinity Street ou pela Trinity Lane que não seja pelos mesmos cenários de sábio que protagonizaram vários dos mais importantes momentos da história do conhecimento.”
Meditações solitárias
Muitas das 30 fotos coloridas e 10 em P&B têm como cenário os jardins de vários dos 31 Colleges e da Universidade de Cambridge, fundada em 1209 e que já chegou ao 90º Prêmio Nobel.
Os jardins são lugares de “meditações solitárias, de casamentos de ex-alunos, de encontros celebrativos, de leitura de poesia”, escreveu Martins no texto de apresentação da exposição. “Tão admiráveis são esses jardins que Mr.Brian, jardineiro do Clare College, foi condecorado pela Rainha Elizabeth II por seu belo, moderno e criativo jardim.”
A exposição, aberta ao público até o dia 13 de dezembro, comemora o acordo de cooperação firmado entre a FAPESP e a Universidade de Cambridge em setembro deste ano, com o objetivo de incrementar a cooperação científica e tecnológica entre pesquisadores por meio do financiamento de projetos de pesquisa conjuntos. “A ideia é mostrar o que é Cambridge, um lugar onde a ciência está nas paredes e onde música e poesia fazem parte da paisagem. Será muito bom que as universidades paulistas enviem seus alunos para lá”, afirmou.
“Sociologia enraizada”
Em comemoração aos seus 75 anos, Martins será homenageado na terça-feira (19/11) pelo Departamento de Sociologia da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciência Humanas (FFLCH), da USP, com a Jornada Internacional “A atualidade da ´sociologia enraizada´de José de Souza Martins”.
Autor de mais de duas dezenas de livros, recebeu três Prêmios Jabuti de Ciências Humanas pelas obras Subúrbio (1993), A Chegada do Estranho (1993) e A Aparição do Demônio na Fábrica (2009), além de clássicos da sociologia como Imigração e Crise no Brasil Agrário (1973), Conde Matarazzo, o empresário e a empresa (1976) e Sociologia da Fotografia e da Imagem (2011).
O evento realizado pela USP promoverá discussões sobre as obras de Souza Martins, ressaltando sua contribuição para os estudos da Sociologia no Brasil. Margarida Maria Moura, da USP, participará da mesa “Sociologia no mundo rural” e Carlos Rodrigues Brandão, da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), fará parte da mesa “Sociologia da Imagem (fotográfica)”.
Mais informações e inscrições no site http://sociologia.fflch.usp.br/node/647
A exposição Cambridge, entre santos e sábios está aberta ao público até o dia 13 de dezembro, das 8 às 17 horas, na Rua Pio XI, 1500, Alto da Lapa, em São Paulo.
Agência FAPESP