A mostra tem como referência principal a Flora Brasiliensis, obra do botânico alemão Carl Philipp von Martius (1794-1868), que mesmo 171 anos após ter seu primeiro volume publicado permanece como o mais completo levantamento da flora brasileira.
Com reproduções de imagens, ilustrações e textos explicativos, os 37 painéis que compõem a exposição foram concebidos com base nos dados provenientes de três projetos apoiados pela FAPESP: a Flora Brasiliensis On-line e Revisitada, a Flora Fanerogâmica do Estado de São Paulo e o programa BIOTA-FAPESP.
Representantes dos três projetos auxiliaram na compilação do conteúdo da mostra, que já foi apresentada com sucesso no Museu do Jardim Botânico de Berlim, em 2008, na Haus der Wissenschaft, em Bremen, em 2009, na Universidade de Leipzig e no Woodrow Wilson Center (Washington), em 2011.
A cerimônia de inauguração da exposição contou com a participação do diretor do Museu da Universidade de Heidelberg, Matthias Untermann, do diretor do Jardim Botânico, Marcus Koch, e do professor da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq) da Universidade de São Paulo (USP), Luciano Martins Verdade, membro da coordenação do Programa BIOTA-FAPESP.
Durante a cerimônia, Untermann destacou a alta qualidade da exposição, que reflete a excelência da produção científica brasileira no campo da biodiversidade. “Agradecemos à FAPESP pela iniciativa dessa exposição, que apresenta uma visão tão bela e interessante da biodiversidade brasileira”, disse.
O diretor do museu ressaltou também um caráter particular da exposição. “Embora seja uma exposição itinerante que tem sido apresentada em outros locais da Alemanha, em Heidelberg ela ganhou um aspecto especial. Foi agregada a ela a apresentação de alguns volumes originais do Flora Brasiliensis de Martius, fazendo uma ponte com a história”, destacou.
Koch, que é professor catedrático na área de Biologia da Universidade de Heidelberg, disse que a exposição não apenas reflete a imensa diversidade de organismos no Brasil, mas também a qualidade da pesquisa na área de biodiversidade.
“É notável observar a ampla gama de diferentes organismos estudados, indicando a originalidade e a qualidade da pesquisa brasileira sobre biodiversidade, que reflete o caráter único da natureza do país”, disse à Agência FAPESP.
Segundo ele, a diversidade biológica é um tema central nos dois países. “Na Alemanha, tivemos grandes perdas de biodiversidade com a destruição de ecossistemas como pântanos, várzeas e florestas. Assim, foram desenvolvidas estratégias nacionais de conservação, restauração e desenvolvimento da biodiversidade. Por outro lado, a biodiversidade brasileira tem um papel fundamental no funcionamento do ecossistema global. Por isso o debate sobre a biodiversidade é central nos dois países”, disse.
Verdade apresentou uma palestra sobre o papel da FAPESP e, em particular, do programa BIOTA no levantamento da biodiversidade e na formação de recursos humanos para gerenciá-la.
“Esse gerenciamento atualmente inclui não apenas o levantamento em si, mas também ações necessárias à conservação das espécies ameaçadas, ao uso sustentável das espécies com potencial econômico, ao controle de espécies danosas e ao monitoramento das demais. Isso também inclui a necessidade de transformação do conhecimento gerado em política pública”, afirmou.
Segundo ele, o BIOTA-FAPESP tem alcançado resultados expressivos em todos esses aspectos. Mas os desafios são crescentes, de forma especial no gerenciamento dos inúmeros e inevitáveis conflitos entre a produção de espécies domésticas e a conservação de espécies silvestres.
“Isso impõe a necessidade da contínua geração de riquezas pela agricultura no contexto da conservação da biodiversidade e vice-versa: a conservação da biodiversidade no contexto da produção agrícola”, disse Verdade.
Exposição em três vertentes
O projeto da Flora Brasiliensis On-line e Revisitada, que corresponde à primeira parte da exposição, representa uma continuidade ao trabalho de Martius, que teve seu último volume publicado depois da morte do autor, em 1906.
Em 2006, o projeto disponibilizou na internet a versão integral da obra de Martius, com 10.207 páginas com os textos das descrições das quase 23 mil espécies e as quase 4 mil ilustrações. O Flora Brasiliensis On-line e Revisitada inclui a atualização da nomenclatura utilizada no trabalho original de Martius e a inclusão de espécies descritas depois de sua publicação, com novas informações e ilustrações recentes.
O trabalho foi financiado por uma parceria entre FAPESP, Fundação Vitae e Natura Cosméticos e executado pelo Centro de Referência em Informação Ambiental (Cria), pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e pelo Jardim Botânico de Missouri, nos Estados Unidos. O Flora Brasiliensis On-line está disponível em http://florabrasiliensis.cria.org.br .
A segunda parte da exposição remete ao projeto Flora Fanerogâmica do Estado de São Paulo, iniciado em 1993 com a participação de mais de 200 pesquisadores. O projeto reúne pesquisadores da USP, da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), da Universidade Estadual Paulista (Unesp), dos institutos Botânico, Florestal e Agronômico e do Departamento de Parques e Áreas Verdes da Prefeitura de São Paulo. Pesquisadores da Embrapa, de outros estados brasileiros e de outros países também contribuem.
O terceiro elemento da exposição ultrapassa os limites da botânica e aborda a biodiversidade de forma mais geral, correspondendo ao programa BIOTA-FAPESP, cujos resultados têm sido aplicados como instrumento de preservação ambiental no território paulista.
Os painéis digitalizados da exposição Brazilian Nature podem ser vistos, com legendas em português, inglês e alemão, no endereço www.fapesp.br/publicacoes/braziliannature.
Agência FAPESP