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Os estudos científicos sobre raios começaram com Benjamin Franklin, o primeiro a propor um experimento para comprovar que o fenômeno era causado por uma descarga elétrica.
Mais de 250 anos se passaram desde então, e o desenvolvimento da tecnologia permitiu a criação de projetos como a Starnet, uma rede internacional de detecção de descargas elétricas atmosféricas que consegue cobrir uma área de dezenas de milhares de quilômetros quadrados com menos de uma dezena de sensores.

A Starnet, composta por diversas instituições de ensino e pesquisa do Brasil e do exterior, é coordenada pelo Laboratório de Sensoriamento Remoto Meteorológico de Tempestades (Storm-T) do Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas (IAG) da USP, e pela Universidade de Connecticut, dos Estados Unidos. Hoje a rede possui oito antenas, que captam os ruídos de rádio emitidos pelas descargas elétricas que ocorrem na atmosfera, chamados de sferics. Carlos Augusto Morales, coordenador do Storm-T, explica que essas ondas eletromagnéticas, de freqüência muito baixa, podem se propagar por milhares de quilômetros. “Conseqüentemente, em vez de ter muitos sensores para monitorar onde estão os raios, eu preciso de 4 ou 5 para fazer isso em uma área de 10 mil por 10 mil quilômetros.” 

Das oito antenas em operação, seis estão instaladas no Brasil. As outras ficam na cidade de Bethlehem, na África do Sul, e na ilha de Guadalupe, uma possessão francesa no Caribe. Com esse pequeno número de sensores os cientistas monitoram a ocorrência de raios em toda a América Latina, no Atlântico Sul e na costa oeste da África. Segundo Morales, a rede capta cerca de 70% das descargas elétricas ocorridas na América do Sul.

Os dados obtidos pela Starnet podem ser utilizados para auxiliar na previsão do tempo, já que o padrão de distribuição dos raios no espaço e no tempo fornece aos cientistas informações sobre a intensidade e o deslocamento das tempestades. “Tendo um sistema [de detecção] de raios, tem-se uma informação a mais, que às vezes os instrumentos de temperatura, pressão e chuva não dão”, afirma Morales. Além disso, diferentemente dos dados obtidos por satélite, as informações da Starnet estão disponíveis em tempo real. “A cada 15 minutos o satélite faz uma varredura e você tem uma imagem da nebulosidade. Só que para chegar até a gente demora 30 minutos.” 

Ocorrência de raios neste verão
Saber onde caem essas descargas elétricas é muito importante para as empresas de energia, que sofrem grandes prejuízos por causa dos raios. Segundo dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), cerca de 70% dos desligamentos na transmissão e 40% dos desligamentos na distribuição de energia são provocados por raios. Por isso o setor elétrico é um dos que mais investe em sistemas de detecção como a Starnet.

A rede ganhará uma nova antena em breve. O equipamento já foi adquirido e será instalado em Brasilia. Morales tem planos de instalar futuramente mais duas antenas no país, uma no Nordeste e outra no norte da Amazônia. O professor também pretende transferir dois sensores desativados, que estão hoje na África, para Cabo Verde, Panamá ou Miami, para o monitoramento da formação de furacões.

Os dados coletados pela Starnet são de domínio público e podem ser acessados gratuitamente pelo site do projeto.

Satélite nacional
O Storm-T também está envolvido com o núcleo brasileiro do Programa Internacional de Medidas de Precipitação (GPM, da sigla em inglês). O GPM é um projeto das agências espaciais americana (NASA) e japonesa (JAXA) que pretende colocar em órbita um conjunto de oito satélites para medir a distribuição de chuvas pelo globo a cada três horas, com uma resolução de 25 por 25 quilômetros.

Satélite
A princípio, o Brasil participaria apenas da elaboração de algoritmos e na validação das medidas obtidas pelo GPM, mas a Agência Espacial Brasileira (AEB) e o INPE estão coordenando a construção de um dos satélites do programa.“É um satélite brasileiro com instrumentação americana ou francesa. Se der tudo certo, pode ser que um dos instrumentos seja brasileiro”, afirma Morales, que faz parte do Comitê de Coordenação do GPM-Brasil. Esse instrumento seria para a medição de raios e seria adaptado a partir da câmera de alta resolução do satélite CBERS, operado pelo INPE.

Assessoria de Imprensa da USP