Um projeto de pesquisa do Laboratório de Química Analítica Ambiental, da Faculdade de Química da PUCRS, vem buscando um método de otimização para sintetizar zeólitas a partir de resíduos de cinzas de carvão, transformando uma substância tóxica num material de alto desempenho para o tratamento de efluentes.
O trabalho foi defendido em março pelo mestrando em Engenharia de Materiais Alexandre Paprocki, orientado pelo professor Marçal Pires, da Faculdade de Química. Paprocki conta que utilizou na pesquisa cinzas cedidas pela Usina Termelétrica de Presidente Médici (Candiota-RS). A quantidade de cinzas gerada nessa região é muito elevada, sendo apenas uma pequena parte desse material destinada ao uso industrial.
O restante é disposto em bacias de cinzas ou utilizado para tapar poços de minas esgotados, que sob ação da chuva acaba tornando-se um poluidor potencial para águas superficiais ou subterrâneas. O objetivo principal do trabalho é tornar o uso do carvão sustentável, ou seja, tratar a água e o solo próximo de usinas utilizando os próprios resíduos gerados por elas.
Existem cerca de 40 tipos de zeólitas naturais catalogadas e 133 sintéticas. Além da utilização na construção civil, também têm uso industrial na fabricação de produtos como detergente e gasolina. "As naturais nem sempre são puras, e demandam exploração, o que eleva o custo. As sintéticas, feitas a partir de resíduos de cinzas de carvão, além do custo mais baixo, têm a vantagem de podermos controlar a sua pureza e características", explica o professor Pires.
Os resultados da pesquisa apontam que é viável produzir zeólitas específicas para o tratamento de efluentes que também podem ser usadas na captura de gás carbônico e outros gases poluentes. "Após o tratamento dos efluentes elas podem ser regeneradas para a recuperação de alguns compostos de interesse industrial, principalmente metais", observa Paprocki. Na segunda fase da pesquisa, a equipe formada também por pesquisadores das Faculdades de Química, Física e do Instituto do Meio Ambiente pretende passar para a escala piloto de produção.
Programa busca desenvolvimento da energia limpa
O carvão mineral é uma das fontes de energia mais utilizadas no mundo. Quando se fala em carvão, geralmente vincula-se à imagem de poluidor, mas alguns pesquisadores estão trabalhando para que isso comece a mudar. O Centro de Excelência em Pesquisa sobre Armazenamento de Carbono (Cepac) conta com Programa de Tecnologias Limpas de Carvão (Procarbo), que realiza pesquisas na área do uso energético limpo e não convencional desse recurso. Em março, com apoio da Petrobras, o Programa reuniu pesquisadores para um workshop sobre produção regional de combustíveis limpos a partir do carvão no Rio Grande do Sul, em que discutiram sobre o suprimento da demanda energética atual e futura da indústria gaúcha, regionalização da matriz energética brasileira e aplicação das tecnologias limpas de carvão para autossuficiência energética no Estado. Não é de se surpreender a preocupação dos gaúchos com o assunto: 88% das reservas nacionais de carvão estão localizadas no RS.
O coordenador do Procarbo, professor Roberto Heemann, observa que as pesquisas, além do objetivo energético, têm preocupação ambiental e econômica. "As reservas precisam ser melhor aproveitadas para que a matriz energética brasileira seja fortalecida e se diversifique", destaca.
O Programa realiza projetos com diversas empresas, incluindo um que visa testar o processo de injeção de CO2 (dióxido de carbono) em camadas de carvão não mineráveis. Além do benefício de armazenamento desse gás poluente, possibilitaria a vantagem econômica da extração de metano presente nessas camadas. Paralelamente é feito o estudo da integridade desses poços para que não haja um futuro vazamento de gás. As pesquisas de campo têm sido realizadas no Rio Grande do Sul, com previsão de se estenderem para Santa Catarina e Paraná.
Assessoria de Comunicação Social - PUCRS / ASCOM



