“Importante ressaltar que o vírus não é um ser vivo e, portanto, não é capaz de se multiplicar nos alimentos, como fazem as bactérias. Vírus precisam infectar células para se replicar. O alimento ou sua embalagem são apenas veículos, ou seja, podem ter a superfície contaminada caso tenham sido manipulados por alguém com a doença, assim como uma maçaneta de porta ou qualquer outro objeto. Basta higienizar que não há problema”, explica Franco à Agência FAPESP.
Como explicam os pesquisadores, a transmissão do novo coronavírus ocorre principalmente por meio de gotículas e secreções que saem do trato respiratório superior (boca e nariz) de uma pessoa infectada (com ou sem sintomas) e atingem as mucosas (olhos, nariz e boca) de outros indivíduos. Pode ocorrer também pelo contato das mãos com superfícies contaminadas com o vírus, que pode ser transferido para os olhos, nariz e boca.
Nos surtos anteriores causados por coronavírus (SARS-CoV e MERS-CoV) não houve transmissão pelos alimentos e, segundo os cientistas do FoRC, não há razão para pensar que isso venha a acontecer no caso da COVID-19. “A ciência ainda não conseguiu determinar a origem do SARS-CoV-2, mas há cenários sugerindo que o vírus tenha se espalhado a partir de hospedeiros animais, como o morcego e o pangolim, talvez devido ao contato com esses animais ou mesmo sua ingestão. Mas não há qualquer evidência científica de que os animais de corte para consumo humano, como bovinos, aves ou suínos, sejam portadores ou tenham a doença causada pelo novo coronavírus. Mesmo assim, a Organização Mundial da Saúde recomenda que o consumo de carnes cruas ou malprocessadas seja evitado”, dizem.
Medidas de proteção
A equipe do FoRC elencou medidas simples que podem ajudar a manter o SARS-CoV-2 longe da cozinha e da comida. Higienizar as mãos antes de comer ou manusear qualquer alimento é fundamental.
“Em tempo de COVID-19, as recomendações de higiene e limpeza são as mesmas de sempre e devem ser seguidas criteriosamente. Bancadas, pias, louças e demais utensílios devem estar sempre limpos e secos, sem resíduos de alimentos. Geladeiras, freezers, fornos, fogão e demais eletrodomésticos devem ser limpos e higienizados com regularidade, com água, sabão e sanitizantes ou água sanitária. O mesmo vale para as paredes, chão e teto. Esses procedimentos evitam a presença dos microrganismos indesejáveis na cozinha, inclusive o coronavírus, e evitam a contaminação cruzada, ou seja, transferência de microrganismos de alimentos ou superfícies contaminados para alimentos não contaminados”, diz o texto.
As informações sobre o tempo de persistência do SARS-CoV-2 em diferentes superfícies são ainda controversas. Alguns estudos científicos com outros coronavírus indicam sua permanência em metal, plástico e vidro por até nove dias, enquanto outros estudos indicam tempos menores: 24 hora em papelão e três dias em metal ou plástico. No entanto, esses vírus são inativados em cerca de um minuto pelo contato com álcool etílico 62-71%, água oxigenada 0,5% ou hipoclorito de sódio 0,1%.
Para alimentos que serão consumidos crus, como os vegetais folhosos, a recomendação do FoRC é remover as folhas externas ou danificadas, separar as folhas uma a uma, lavá-las com água tratada abundante e deixá-las em imersão, por 15 minutos, em uma solução de água sanitária (uma colher de sopa diluída em um litro de água), lavando-as depois com água tratada corrente novamente. Para vegetais não folhosos e frutas, mesmo as que serão consumidas sem a casca, o procedimento deve ser o mesmo. Os produtos comerciais à base de cloro para desinfecção de vegetais são eficientes para eliminar a contaminação microbiana e prevenir a contaminação cruzada. Esses procedimentos são eficientes contra bactérias e vírus. Não usar água sanitária que contenha outras substâncias na sua composição, pois podem ser tóxicas para o organismo humano. “O vinagre para fins culinários não tem efeito sanitizante”, esclarece o grupo.
O tratamento dos alimentos pelo calor, como cozimento e fritura, quando feito corretamente, elimina os vírus caso estejam contaminando o produto cru. No entanto, é preciso evitar uma nova contaminação após o aquecimento, principalmente se o alimento não for aquecido novamente antes de ser consumido. É importante também não deixar alimentos cozidos em contato com alimentos crus, para evitar a contaminação cruzada.
O consumo de refeições prontas entregues em domicílio, retiradas em balcões de atendimento ou por drive-thru requer cuidados extras. Recomenda-se optar por empresas de confiança e fazer a encomenda diretamente, por telefone ou aplicativos, evitando a interferência de intermediários desconhecidos. Sempre que possível, optar por embalagens de papelão, pois acredita-se que o vírus resiste por menos tempo em papel do que em plástico ou alumínio. Deve ser feita a desinfecção das embalagens antes de abri-las, com água e sabão ou álcool em gel. Não consumir produtos com embalagem violada.
Os pesquisadores recomendam ainda evitar o contato pessoal com o entregador das refeições. As empresas de entregas a domicílio estão recomendando que os entregadores higienizem suas mãos com álcool em gel, um cuidado que diminui o risco, mas não o reduz a zero. O pagamento deve ser preferencialmente feito remotamente, por aplicativo. Deve-se evitar manusear dinheiro e ter cautela com uso de máquinas de cartão de crédito, que podem estar contaminadas, e higienizar as mãos ao finalizar.
Ao comprar produtos alimentícios – seja nos pontos de venda ou on-line – higienizar todas as embalagens e superfícies antes de guardá-los na geladeira ou na despensa e lavar muito bem as mãos ao terminar.
Mais informações estão disponíveis nos sites www.usp.br/forc e www.alimentossemmitos.com.br.
Agência FAPESP