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Quando se pensa em Amazônia, o que vem à cabeça é a floresta, considerada como o pulmão verde do planeta. Mas o que poucos sabem é que a aproximadamente 500m de profundidade no oceano, na costa entre o Maranhão e o Amapá, uma enorme extensão de recifes de coral abriga um ecossistema marinho igualmente rico em biodiversidade de fauna e flora. A descoberta foi relatada em artigo publicado no final de abril, por pesquisadores brasileiros, na revista Frontiers in Marine Science
O interesse da comunidade científica internacional foi imediato: em apenas dois dias, a publicação bateu o recorde de visualizações e downloads da revista: cerca de 400 mil. Segundo um dos autores da pesquisa, o professor Carlos Eduardo de Rezende, do Laboratório de Ciências Ambientais do Centro de Biociências e Biotecnologia da Universidade Estadual do Norte Fluminense (Uenf), esses recifes de corais formam uma espécie de corredor submerso, que até onde os pesquisadores puderam analisar, se espalha por cerca 56 mil quilômetros quadrados.

“Mas há indícios de que essa área seja ainda maior e que se estenda até o Caribe. Trata-se de um ecossistema único, que abriga uma grande riqueza da fauna e flora, além de recursos minerais”, afirma Rezende, que é Cientista do Nosso Estado, da FAPERJ. Ele assina o artigo, que recebeu o título Perspectives on the Great Amazon Reef: Extension, Biodiversity, and Threats, ao lado de pesquisadores de diversas instituições brasileiras e do Greenpeace.

Iniciado em 2015, o projeto a princípio contou com uma parceria com as universidades americanas de Washington e da Geórgia. O interesse dos pesquisadores americanos era estudar o fictoplâncton – aqueles pequenos organismos marinhos, que têm o mesmo papel das florestas: fazem fotossíntese e são os responsáveis pela produtividade primária do oceano. Mas os brasileiros resolveram ir além e estudar também os sedimentos de fundo.

Como já havia sido relatada a ocorrência de um parcel (material rochoso) na costa em frente ao Pará e Maranhão, os pesquisadores resolveram percorrer a costa de mar entre Barbados e Belém. “Na ocasião, puderam constatar uma grande extensão de formações calcáreas, os chamados rodolitos, e a presença de espécies que caracterizariam formações coralinas”, conta Rezende.

Embora a amostragem inicial tenha sido pequena, aquele foi um ponto de partida para novos projetos. Terminado o trabalho com os americanos, os brasileiros decidiram partir numa segunda campanha, com um navio da Marinha Brasileira. O projeto resultou no artigo An extensive reef system at the Amazon River mouth, publicado na revista Science Advances. Além da projeção internacional que conquistou, o trabalho chamou a atenção do pessoal do Greenpeace.

“O primeiro artigo foi publicado em 2016, descrevendo a ocorrência desse recife de coral e de algumas espécies. Fizemos essa estimativa de ocorrência inicial, procurando delimitar o banco de coral, mas como tínhamos pouquíssimas informações, sabíamos que precisávamos voltar ao local. O que se tornou possível com uma parceria com o pessoal do Greenpeace, que nos possibilitou um aporte maior de equipamentos e, desse modo, ampliar o trabalho”, afirma Rezende.

No início de 2017, a bordo do Esperanza, o navio do Greenpeace, os pesquisadores fizeram uma nova viagem à região, e mais outra entre abril e maio de 2018. “O trabalho com o Greenpeace permitiu reconstruir topograficamente o fundo do oceano e estabelecer as fronteiras do recife de coral ao longo da região. Com o apoio de um submarino, também foi possível filmar, pela primeira vez, o local”, fala o pesquisador.

Apesar da descoberta de toda essa riqueza, a magnitude de toda essa diversidade local pode desaparecer antes mesmo de ser conhecida. A região foi leiloada para a exploração de petróleo, o que coloca em risco os recifes de coral, assim como a fauna e a flora marinha locais. “A questão é que no estudo de impacto ambiental da empresa petrolífera não se menciona a presença desse corredor de recifes de coral. Como o Ministério Público do Amapá entrou com ação civil pública para suspender a licença de exploração, houve uma audiência pública no Congresso Nacional e o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) decidiu mandar refazer os estudos ambientais”, afirma o pesquisador.

Como aponta Rezende, esses estudos exigem uma supervisão científica de qualidade não somente em função deste enorme habitat recém-descoberto, mas também por conta dos manguezais que existem naquela região. “Um vazamento prejudicaria milhares de espécies”, alerta. Para Rezende, a expectativa era de que os pesquisadores tivessem um apoio mais efetivo por parte do governo brasileiro. “Embora o projeto tenha uma fantástica repercussão internacional, falta apoio em nosso País”, conclui.

Para mais informações, veja também

Frontiers in Marine Science

Science Advances

Recifes amazônicos: uma descoberta que parecia improvável http://www.faperj.br/downloads/revista/Rio_Pesquisa_37/biologia.pdf

Descoberta de um novo biona marinho: os incríveis recifes amazônicos
http://www.faperj.br/?id=3188.2.6

*Com informações de Assessoria de Comunicação da Universidade Estadual do Norte Fluminense Darcy Ribeiro (Uenf)

Por Ascom FAPERJ*