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Muito se fala das consequências da exposição ao sol e dos riscos de câncer de pele. A recomendação dos dermatologistas é para o uso diário de protetor solar, sobretudo para os que têm pele muito clara. Em alguns países da Europa, no entanto, muitos fabricantes estão mudando a formulação de seus produtos e deles excluindo os parabenos, usados como conservantes.
Segundo o farmacêutico Bryan Hudson Hossy, recém-doutor pelo Programa de Pós-graduação em Clínica Médica da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), mestre em Ciências Farmacêuticas pela mesma universidade e doutorando "Nota Dez", da FAPERJ, essa restrição, cada vez mais adotada mundialmente, também deveria ser seguida no Brasil, já que o uso repetido e constante dessas substâncias pode deixar danos na pele humana.

Em geral, os protetores solares contêm em sua fórmula filtros solares e substâncias conservantes – entre eles, metilparabeno, propilparabeno e aminometilpropanol. “Os parabenos são conservantes bastante comuns em cosméticos. Atualmente, no entanto, um número crescente de ensaios clínicos vêm alertando para seu potencial alergênico, que afetaria até 1% da população mundial”, adverte Hossy. Ainda não se preconiza complementar estes ensaios com a observação de possíveis alterações histológicas e moleculares. “Mas os pesquisadores têm voltado seus estudos para avaliar a segurança desses conservantes e seus possíveis efeitos fotossensibilizantes. É nesse caso que se enquadram os parabenos. Alguns autores apontam, por exemplo, que o metilparabeno pode induzir estresse oxidativo, produção de óxido nítrico, oxidação lipídica das células e sua consequente morte quando submetidos à radiação UV”, explica.

Para embasar seu trabalho, Hossy analisou a fórmula de um dos protetores solares comercializados no Rio de Janeiro, com Fator de Proteção Solar (FPS) 30, contendo em sua composição parabenos (metil e propilparabeno) e outras substâncias. A pesquisa, coordenada por ele, sob a orientação das professoras Nádia Campos de Oliveira Miguel, do Instituto de Ciências Biomédicas (ICB) e Márcia Ramos e Silva, do Serviço de Dermatologia, da Faculdade de Medicina, contou ainda com a colaboração do professor Marcelo de Pádula, da Faculdade de Farmácia, todos da UFRJ.

No laboratório, Hossy submeteu o produto a testes in vivo, usando para isso camundongos hairless de seis semanas de vida, e posteriormente procedeu a análises in vitro, empregando cepas de Saccharomyces cerevisiae, um tipo de levedura bastante utilizada como microrganismo-modelo alternativo para ensaios pré-clínicos na indústria farmacêutica e cosmética. Como essas leveduras são unicelulares, têm estrutura relativamente semelhante à das células humanas e podem crescer em meios de cultura definidos, elas permitem ao pesquisador controlar todos os parâmetros ambientais. Versáteis, também são comumente empregadas na produção do pão, da cerveja e até do etanol.

Foram separados quatro grupos de camundongos hairless para um teste comparativo: no grupo 1, animais, usando fotoprotetor e sem exposição à luz solar simulada (radiação UV); no grupo 2, os animais, sem proteção, foram expostos à luz solar simulada; no grupo 3, os camundongos foram tratados com protetor solar e expostos à luz solar simulada; enquanto no grupo 4, os animais receberam somente um gel creme contendo substâncias conservantes, entre elas os parabenos.

“Vimos que o grupo de animais tratados apenas com substâncias conservantes (grupo 4) e expostos à luz solar simulada foram os que tiveram as alterações de pele mais acentuadas, com alterações morfológicas mais pronunciadas do que os demais grupos. Para confirmar qual das substâncias veículo poderia estar causando essas alterações, os pesquisadores lançaram mão do modelo in vitro, as Saccharomyces cerevisiae. “Utilizamos os conservantes presentes na formulação dos fotoprotetores (mitil e propilparabeno) e um agente alcalinizante (aminometilpropanol), sozinhos ou associados, sobre estas células, expondo-as à luz solar simulada. Percebemos que cada um desses compostos tinha algum nível de fototoxicidade, e que o propilparabeno era, entre eles, o mais fototóxico”, afirma o pesquisador.

Extrapolando para os humanos, Hossy explica que, como a aplicação do produto sobre a pele dificilmente é regular – o que significa que sempre há camadas mais densas em determinados pontos –, pode acontecer de uma maior quantidade de conservante ficar concentrada em uma área mais sensível da pele. Isso pode levar a dermatites de contato e alergias, gerando também fototoxicidade. “Como se indica que o uso do protetor solar seja diário, e muitas vezes sua aplicação acontece mais de uma vez por dia, pode haver uma repetição dessas dermatites e alergias. E isso pode acabar levando exatamente ao que se deseja prevenir, ou seja, à formação de fotodermatoses e, em casos extremos, a câncer de pele”, afirma o pesquisador.

Segundo Hossy, a pele humana conta com a proteção natural biológica da melanina, da ação antioxidante da melatonina e do ácido urocânico. “No caso de exposições extremas, como a de pessoas que trabalham ao ar livre, por exemplo, e para indivíduos de pele muito clara ou com histórico familiar de câncer de pele, a foto proteção é necessária e indispensável. Já pessoas de pele escura, que têm maior concentração de melanina e uma maior capacidade eritematosa – ou seja, o quanto de radiação solar aquela pele mais resistente é capaz de suportar –, não precisam de um uso tão constante de protetores solares”, afirma o pesquisador.

E para todos, sejam os de pele clara ou pele escura, o melhor é procurarem produtos que não contenham parabenos. “Embora seja uma alternativa barata de conservante para a indústria e esteja presente em diversos produtos, como as pastas de dentes, os parabenos estão sendo progressivamente substituídos nas formulações, como consequência dos estudos que vêm sendo feitos. “Em alguns países europeus, marcas como a francesa L'Oreal, já excluem os parabenos de seus fotoprotetores. E, mesmo sem ter o uso proibido, várias delas alardeiam no rótulo e em sua publicidade que seus produtos são ‘livres de parabeno’. Pelo que estamos vendo, a tendência é de retirá-los das fórmulas.”

Segundo o pesquisador, no Brasil, estamos num momento de transição. “Embora 63% de marcas de protetores solares no País tenham feito um movimento de mudança de conduta, ainda há 36% que fazem uso de parabenos em suas fórmulas. Mas a tendência é de que progressivamente isso mude”, acredita Hossy, que também acha que isso não acontecerá a curto ou a médio prazo. “Até porque é preciso que antes haja uma mudança na nossa legislação sanitária. Metilparabeno, propilparabeno e aminometilpropanol sequer constam das listas de risco da legislação brasileira. Ao contrário, estão presentes em diversos cosméticos comercializados no País, como xampus e maquiagens." De acordo com o pesquisador, o Brasil movimenta o quarto maior mercado mundial no setor, atrás de Estados Unidos, na primeira posição nesse ranking, a China, o segundo colocado, e o Japão, que ocupa o terceiro lugar. "Sendo um mercado tão importante, o mais provável é que, a exemplo do que já vem acontecendo na Europa, isso também aconteça com a indústria brasileira.”

Hossy ressalta ainda que, mesmo com a possibilidade de fototoxicidade, o uso de protetores solares ainda se impõe como umas das únicas estratégias eficazes e consideradas seguras para a prevenção dos danos causados pela radiação solar. Diante de exposição aguda e prolongada ao sol, indivíduos de pele clara e sensível, portadores de doenças induzidas pelo sol – como erupção polimórfica à luz e ceratose actínica crônica –, pacientes com risco potencial de desenvolvimento de câncer de pele, bem como aqueles que já tenham removido lesões e estejam curados – precisam ser orientados por um profissional quanto ao uso de fotoprotetores de alta proteção solar. Nesses casos, como orienta a Sociedade Brasileira de Dermatologia, recomendam-se os de FPS 30, usados com critério e parcimônia para evitar-se os excessos.

Assessoria de Comunicação FAPERJ