e Luciana Varanda Rizzo, professora do Instituto de Ciências Ambientais, Químicas e Farmacêuticas da Unifesp.
“Se continuarmos destruindo as florestas no ritmo atual – cerca de 7 mil km2 por ano no caso da Amazônia –, daqui a três ou quatro décadas teremos uma grande perda acumulada. E isso vai intensificar o processo de aquecimento do planeta independentemente do esforço feito para reduzir as emissões de gases de efeito estufa”, disse Artaxo à Agência FAPESP.
As conclusões do estudo se baseiam em trabalhos de modelagem computacional e medidas coletadas em florestas sob a coordenação de Catherine Scott, pesquisadora na Universidade de Leeds, no Reino Unido.
Após anos coletando informações sobre o funcionamento das florestas tropicais e temperadas, os gases emitidos pela vegetação e seus impactos na regulação do clima, o grupo foi capaz de reproduzir matematicamente as condições atmosféricas atuais do planeta, incluindo concentrações de aerossóis, compostos orgânicos voláteis (VOCs, na sigla em inglês) antropogênicos e biogênicos, ozônio, dióxido de carbono, metano e também os demais fatores que influenciam na temperatura global – entre eles o chamado albedo de superfície (a fração da radiação solar refletida de volta para o espaço em comparação à fração absorvida, que muda de acordo com o tipo de cobertura da superfície).
Foi usado no estudo um modelo numérico da atmosfera desenvolvido no Met Office, agência nacional de meteorologia do Reino Unido.
“Depois que conseguimos regular o modelo para reproduzir as condições atuais da atmosfera terrestre e o aumento da temperatura do planeta ocorrido desde 1850, fizemos uma simulação em que o mesmo cenário era mantido, mas todas as florestas eram eliminadas. O resultado foi uma elevação significativa de 0,8 ºC na temperatura média. Ou seja, hoje o planeta estaria em média quase 1 ºC mais quente se não houvesse mais florestas”, comentou Artaxo.
Os estudos revelaram ainda que a diferença observada nas simulações se deve principalmente às emissões de BVOCs (compostos orgânicos voláteis biogênicos) pelas florestas tropicais.
“Ao serem oxidados, os BVOCs dão origem a partículas de aerossol que esfriam o clima refletindo parte da radiação solar de volta ao espaço. Uma vez que a floresta é derrubada, ela deixa de emitir BVOCs e este resfriamento deixa de existir, levando a um aquecimento futuro. Este efeito não estava sendo levado em conta em modelagens anteriores”, comentou Artaxo.
Segundo o pesquisador, as florestas temperadas produzem VOCs diferentes e com menor capacidade de dar origem a essas partículas esfriadoras.
Coleta de dados
Como destacado no artigo, atualmente a vegetação cobre um terço da área continental do planeta – fração bem menor do que a existente antes da intervenção humana. Grandes áreas florestais na Europa, Ásia, África e América já foram derrubadas.
As informações sobre o funcionamento das florestas tropicais começaram a ser coletadas em 2009 na Amazônia, sob a coordenação de Artaxo, no âmbito de dois Projetos Temáticos apoiados pela FAPESP: “GoAmazon: interação da pluma urbana de Manaus com emissões biogênicas da Floresta Amazônica” e “Aeroclima: efeitos diretos e indiretos de aerossóis no clima da Amazônia e Pantanal”.
Os dados sobre as florestas temperadas foram obtidos na Suécia, na Finlândia e na Rússia, sob a coordenação de Erik Swietlicki, da Universidade de Lund (Suécia).
“Vale ressaltar que não tratamos neste artigo do impacto direto e imediato das queimadas, como a emissão do carbono negro [considerada um fator importante no aquecimento global devido à alta capacidade dessa partícula de absorver a radiação solar]. Ele existe, mas dura somente algumas semanas. Estamos olhando para efeitos de longo prazo na variação da temperatura”, afirmou Artaxo.
Segundo o professor do IFUSP, o desmatamento altera em definitivo a quantidade de aerossóis e de ozônio na atmosfera do planeta, o que muda todo o balanço radiativo da atmosfera.
“A partir deste estudo aumentou a importância relativa de se manter a floresta em pé. Não só é urgente parar a destruição, como também pensar em políticas de reflorestamento em larga escala, principalmente em regiões tropicais. Caso contrário, pouco vai adiantar o esforço para reduzir as emissões de gases estufa provenientes da queima de combustíveis fósseis”, disse Artaxo.
O artigo Impact on short-lived climate forcers increases projected warming due to deforestation (doi:10.1038/s41467-017-02412-4), de C. E. Scott, S. A. Monks, D. V. Spracklen, S. R. Arnold, P. M. Forster, A. Rap, M. Äijälä, P. Artaxo, K. S. Carslaw, M. P. Chipperfield, M. Ehn, S. Gilardoni, L. Heikkinen, M. Kulmala, T. Petäjä, C. L. S. Reddington, L. V. Rizzo, E. Swietlicki, E. Vignati e C. Wilson, pode ser lido em: www.nature.com/articles/s41467-017-02412-4.
Agência FAPESP