Dados divulgados pelo Departamento de HIV da Organização Mundial da Saúde (World Health Organization – WHO) evidenciam que, em 2015, 36,7 milhões de pessoas viviam com HIV. Geralmente, o vírus, que acarreta AIDS (nível avançado da infecção), pode ser transmitido a partir de relações sexuais sem uso de preservativos; uso compartilhado de seringa, agulha ou até de instrumentos cortantes não esterilizados; transfusão sanguínea; e dos processos de gestação, parto ou amamentação.
O HIV se instala nos glóbulos brancos (leucócitos), células do sistema imunológico que defendem o organismo contra doenças, infecções e outras complicações, liberando proteínas que se distribuem na membrana externa dos leucócitos para enganar o sistema de defesa, transmitindo a mensagem de que as células infectadas estão sadias.
Existem medicamentos antirretrovirais que atuam na estabilidade do sistema imunológico. Mas, com base em informações divulgadas no portal do Departamento de Vigilância, Prevenção e Controle das IST, do HIV/AIDS e dos Hepatites Virais, o tratamento do HIV/AIDS é complexo, porque, embora aumentem a sobrevida e melhorem a qualidade de vida dos pacientes, os medicamentos que o compõem “precisam ser muito fortes para impedir a multiplicação do vírus no organismo”, podendo ocasionar efeitos colaterais, como, por exemplo, diarreia, vômitos, náuseas, manchas avermelhadas pelo corpo, agitação e insônia.
A conjugação dos anticorpos com a Pulchellina e os estudos com as células infectadas com HIV foram executados pelo doutorando do Grupo de Óptica do Instituto de Física de São Carlos (IFSC/USP), Mohammad Sadraeian, em parceria com um laboratório específico para o desenvolvimento de pesquisas com HIV, no Health Sciences Center da Louisiana State University (EUA). Os anticorpos foram cedidos pelo NIH AIDS Research and Reference Reagent Program, enquanto a linhagem de células infectadas foi doada por Bing Chen, docente do Department of Pediatrics da Harvard Medical School (EUA). Assim que a Pulchellina foi conjugada aos anticorpos, estes a guiaram para dentro dos glóbulos brancos infectados, os combatendo pela ação tóxica da proteína.
Antes desse estudo ser iniciado, o docente do Grupo de Óptica do IFSC e orientador de Sadraeian, Prof. Dr. Francisco Eduardo Gontijo Guimarães, já estudava a Pulchellina, em colaboração com a Profa. Dra. Ana Paula Ulian de Araújo, do Grupo de Biofísica Molecular “Sérgio Mascarenhas” do Instituto, sendo que Sadraeian trabalhava com imunoterapia – tratamento fundamentado na aplicação de anticorpos -, no mestrado que desenvolveu na Universidade de Teerã (Irã). Guimarães diz que a ideia de associar a proteína a uma tentativa de combate ao HIV foi uma intuição aparentemente certeira, através da qual Sadraeian iniciará um pós-doutorado no IFSC, visando à avaliação dessa estratégia de combate em escala in vivo, a partir de uma parceria que envolverá o IFSC e a Louisiana State University – neste caso, através de uma colaboração com o docente Seth H. Pincus.
Mais do que isso, o doutorado de Sadraeian culminará na abertura de uma nova linha de pesquisa no Grupo de Óptica, que por sua vez passará a estudar estratégias para tentar combater o HIV/AIDS e outras complicações, como câncer, associando anticorpos à Terapia Fotodinâmica (TFD), uma técnica que se baseia no uso de luz. O intuito dos pesquisadores de São Carlos, segundo o Prof. Guimarães, é combater o HIV no próprio sangue: a proposta é retirar o sangue infectado do paciente, tratar esse material com anticorpos e aplicação de luz e, então, inserir o sangue tratado no organismo.
Neste mês, os resultados da pesquisa de doutorado de Sadraeian foram divulgados na Scientific Reports, da Nature.
Acesse o artigo no link https://www.nature.com/articles/s41598-017-08037-3.epdf?author_access_token=UH_PpFNW2HbI8_06ETJbrdRgN0jAjWel9jnR3ZoTv0Om-Jqpcs327c7CghLGqwtimpYoJtmgl5UZkl-HYxVvzS2s1BKwjZu3RUd7izkuNBNtZdfpIhw8VO6_hbz9UsV2_A4buarJQLtZjjH6qrFhWw%3D%3D
(Rui Sintra & Thierry Santos – IFSC/USP)