Algumas ideias foram apresentadas por pesquisadores da University of California em Berkeley e Santa Cruz, nos Estados Unidos, em workshops realizados entre os dias 20 e 22 de março no Instituto Oceanográfico da Universidade de São Paulo (IO-USP).
Promovido pelo projeto internacional “Global learning for local solutions: Reducing vulnerability of marine-dependent coastal communities” (GULLS, na sigla em inglês), apoiado pelo Belmont Forum – grupo formado por algumas das principais agências financiadoras de projetos de pesquisa sobre mudanças ambientais no mundo, entre as quais a FAPESP –, o objetivo do evento foi melhorar as habilidades dos participantes para comunicar e ensinar melhor sobre mudanças climáticas e o papel dos oceanos.
Durante um dia inteiro, professores universitários, estudantes de graduação e pós-graduação, além de instrutores, técnicos e monitores de museus e centros de divulgação científica, participaram de oficinas que combinaram instruções sobre métodos de ensino baseados em perguntas científicas e em demonstrações de atividades práticas do tipo hands-on science – ou “ciência com a mão na massa”.
“Tivemos um número excepcional de inscritos e manifestação de interesse em participar do workshop de pessoas de diferentes áreas, como Biologia, Física e Geologia, por exemplo, que atuam em escolas, museus, universidades e instituições de pesquisa”, disse Maria Gasalla, professora do IO-USP e organizadora do evento, à Agência FAPESP.
“São pessoas à procura de ideias práticas para explicar mais facilmente para o público em geral as mudanças no clima e seus impactos nos oceanos e nas comunidades costeiras de modo a fazê-las pensar sobre isso”, avaliou.
De acordo com a pesquisadora, o workshop é a principal atividade programada pelo componente de educação do projeto GULLS.
Integrado por cientistas da África do Sul, Austrália, Brasil, Estados Unidos, Índia, Madagascar, Moçambique, Nova Zelândia e Reino Unido, o objetivo do projeto é caracterizar, avaliar e estimar o futuro dos recursos marinhos de forma a identificar opções de adaptação e estratégias para melhorar a resiliência de comunidades costeiras às mudanças climáticas.
O foco do projeto está em hotspots regionais de mudanças climáticas e sociais – como são definidas áreas marinhas de rápido aquecimento e que sofrem algum tipo de tensão social causada pelas alterações no clima. Além de requererem atenção mais urgente, esses hotspots são tidos como “laboratórios naturais” para a observação de mudanças e para o desenvolvimento de ações de adaptação e estratégias de manejo que podem ser replicadas em outras regiões do mundo.
As cinco áreas marinhas e costeiras selecionadas para estudo estão no Hemisfério Sul e incluem o sudeste da Austrália, Brasil, Índia, África do Sul (Benguela Meridional) e o Canal de Moçambique (Oceano Índico Ocidental) e países adjacentes de Moçambique e Madagascar.
“Idealizamos um componente de educação no âmbito do projeto porque achamos que essas questões científicas sobre os oceanos e as mudanças climáticas têm que começar a ser incluídas nos currículos das escolas e universidades, pois ainda são tópicos pouco cobertos”, afirmou Gasalla.
“A ideia do workshop é justamente ajudar os participantes a pensar em atividades e em estratégias que possam ser desenvolvidas em sala de aula de modo simples para relacionar e discutir essas questões”, afirmou.
Práticas baseadas em evidências
Além do Brasil, eventos semelhantes já foram realizados na África do Sul e na Austrália, também por especialistas da University of California em Berkeley e Santa Cruz.
A universidade norte-americana, que é membro do consórcio GULLS, possui um museu de ciências e um centro de pesquisa em divulgação científica situado em seu campus em Berkeley. Chamado Lawrence Hall of Science, o centro desenvolve, entre outras atividades, materiais de ensino de ciência que, de acordo com a instituição, são utilizados por mais de 7,6 milhões de jovens nos 50 estados americanos e em todo o mundo.
“O objetivo de workshops como esse que realizamos no Brasil é de fornecer experiências e estratégias de ensino e aprendizagem relacionadas ao clima e oceano, baseadas em pesquisa, além de materiais de instrução que possam ser usados para ensinar ciência utilizando práticas eficazes baseadas em evidências”, disse Adina Paytan, professora do Instituto de Ciências Marinhas da University of California em Santa Cruz e uma das instrutoras do workshop.
“O que fazemos durante as oficinas é propor métodos de ensino dinâmicos e dar exemplos de como ensinar questões científicas para o público em geral, de modo que os participantes possam ser mais efetivos em sua comunicação”, explicou Paytan na abertura do evento.
Uma das atividades propostas pelos pesquisadores foi estimular os participantes a identificar o tipo de ambiente aquático em que vivem algumas espécies de peixes brasileiros, como a sardinha (Sardinella brasiliensis) e a tainha (Mugil liza), e do que se alimentam, por exemplo, analisando suas características morfológicas, como o formato da cauda, do corpo, o padrão de coloração e a forma e a orientação da boca.
O objetivo da atividade foi incitar a reflexão sobre como as mudanças climáticas nos oceanos envolvem um contexto mais amplo, afetando recursos vivos e as comunidades humanas que dependem deles.
“Nossa ideia com a realização desses workshops educativos foi conhecer as estratégias, materiais e experiências aplicadas pelos pesquisadores da Universidade da Califórnia, ver como a relação entre as mudanças climáticas e oceanos é ensinada lá fora e verificar o que pode nos servir e o que poderia ser adaptado à nossa cultura, além de ter ideias para produzir nossos próprios materiais a serem usados em sala de aula de modo simples, tanto no ensino médio como na graduação, e em locais que não dispõem de um laboratório de ciências, por exemplo”, disse Gasalla.
“Queríamos, em um primeiro momento, ouvir os três públicos-alvo diferentes do evento para avaliar se as atividades propostas são válidas e efetivas para as práticas deles”, afirmou.
Uma dos participantes das oficinas foi o estudante do terceiro ano do curso de oceanografia no IO-USP Piero Alateri Dias.
“O que me despertou o interesse pelo evento foi a possibilidade de melhorar minhas habilidades em educação porque pretendo ser professor no futuro”, contou. “Se o conhecimento sobre mudanças climáticas e oceanos for melhor transmitido para a sociedade e se as pessoas conhecerem melhor os ecossistemas e seu funcionamento, elas podem adquirir uma maior consciência ambiental”, avaliou.
Agência FAPESP