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A mudança climática global, com seu cortejo de eventos extremos, é um processo de tão vastas implicações que obscurece o fenômeno menor das chamadas “ilhas urbanas de calor”. No entanto, esse fenômeno, que faz com que as cidades sejam em média mais quentes do que o seu entorno, não apenas contribui para o aquecimento do planeta como torna seus efeitos ainda mais sensíveis para os moradores das cidades, que constituem hoje mais da metade da população mundial. No Brasil, quase 85,7% da população já vivia em cidades em 2015, de acordo com indicadores do Banco Mundial.
Variação de temperatura entre área urbana e regiões adjacentesCom o título “Energy saving by mitigating urban heat islands in cities”, um estudo sobre as ilhas urbanas de calor e sua mitigação foi apresentado pela pesquisadora Sahar Sodoudi, do Departamento de Ciências da Terra da Freie Universität, de Berlim, Alemanha, durante o 5º Diálogo Brasil-Alemanha de Ciência, Pesquisa e Inovação, realizado em 29 e 30 de novembro, na Câmara Municipal de São Paulo. Promovido pelo Centro Alemão de Ciência e Inovação – São Paulo (Deutsche Wissenschafts- und Innovationshaus – São Paulo – DWIH-SP), o encontro teve o apoio da FAPESP (leia mais em http://agencia.fapesp.br/24459)

“As principais causas dessas ilhas de calor são a urbanização e suas consequentes mudanças no uso da terra. A remoção da vegetação, a pavimentação de avenidas e ruas e a construção de edifícios fazem com que extensas áreas fiquem com pouca ou nenhuma cobertura natural”, disse Sodoudi à Agência FAPESP. “Os materiais utilizados, como o asfalto e o concreto, possuem alta capacidade de armazenar energia térmica, que é retida durante o dia e devolvida à atmosfera depois do pôr-do-sol. É essa energia, liberada pelas superfícies horizontais e verticais, que leva à formação das ilhas de calor.”

Além disso, sublinhou a pesquisadora, a impermeabilização do solo faz com que as águas sejam rapidamente enviadas para a rede de esgotos, reduzindo a evaporação, que poderia arrefecer a temperatura. Pesquisa conduzida por ela e colaboradores em área densamente edificada do sexto distrito urbano da megacidade de Teerã, no Irã, revelou quase 97,4% de superfície impermeável e apenas pouco mais de 2,4% de superfície coberta por vegetação, arbórea ou rasteira. “O aquecimento é ainda mais intensificado pela energia térmica de origem antrópica, liberada nas chaminés das fábricas e nos escapamentos dos veículos”, acrescentou.

A pesquisa simulou várias estratégias de mitigação para as ilhas de calor. A melhor opção foi proporcionada por um cenário híbrido, combinando o uso de materiais com elevado coeficiente de reflexão (high albedo material – HAM) na pavimentação das ruas e revestimento dos edifícios e o plantio de árvores frondosas no espaço entre os prédios. “Nesse cenário, obtivemos uma redução média de aproximadamente 1,67 kelvin às 15 horas e de 1,10 kelvin às 3 horas. O máximo de resfriamento calculado foi de 4,20 kelvin na área arborizada entre os edifícios”, informou Sodoudi.

Outra variável considerada nas simulações foi a orientação espacial das avenidas e ruas. “No caso de Teerã, o alinhamento na direção Leste-Oeste mostrou-se mais eficiente do que o alinhamento na direção Norte-Sul”, afirmou a pesquisadora.

A pesquisa pode ser acessada em www.researchgate.net/publication/265412542_Mitigating_the_Urban_Heat_Island_Effect_in_Megacity_Tehran.

Agência FAPESP