Os trabalhos de preparação e estudo dos fósseis foram coordenados pelos paleontólogos Sergio Cabreira (Ulbra), Max Langer (USP) e Alexander Kellner (UFRJ).
Durante coletiva de imprensa, realizada simultaneamente na Ulbra Canoas e na USP-Ribeirão Preto, dia 10 de novembro, o pesquisador Sergio Cabreira apresentou as novas descobertas paleontológicas brasileiras, que passam a fazer parte da filogenia internacional dos dinossauros. De acordo com o paleontólogo, os esqueletos de um dinossauro e de outro pequeno animal, de um grupo que é considerado “precursor” dos dinossauros, foram encontrados juntos, em rochas do Período Carniano, de aproximadamente 237-227 milhões de anos atrás. Cabreira afirmou que o dinossauro carnívoro, agora chamado Buriolestes schultzi, está entre os mais completos dinossauros primitivos encontrados no mundo até hoje. Os seus ossos e dentes parecem intocados pelo tempo. Segundo os estudos, Buriolestes tem um crânio de apenas 13 centímetros (13 cm) e seus dentes são pontudos, muito recurvados para trás, com as bordas serrilhadas como facas de cortar carne. Buriolestes teria em torno de um metro e meio (150 cm) de comprimento e cinquenta centímetros (50 cm) de altura, pesando não mais que sete quilos (7 kg). Classificado como um sauropodomorfo, Buriolestes seria o único dinossauro deste grupo a ter hábitos alimentares carnívoros.
O segundo fóssil apresentado pelos pesquisadores é um diminuto animal bípede, do grupo dos lagerpetídeos, ao qual os pesquisadores batizaram de Ixalerpeton polesinensis. Este pequeno esqueleto é considerado como sendo de animais que precederam os dinossauros e apenas alguns poucos ossos isolados haviam sido encontrados até hoje. Neste caso, porém, foram encontradas partes do crânio, quase toda a coluna vertebral e parte da cauda. Também foram encontrados partes dos membros anteriores, da cintura pélvica e ossos dos membros inferiores de diversos espécimes. Isto evidenciaria que estes pequenos animais viveriam em bandos. Segundo os pesquisadores, Ixalerpeton seria um pequeno animal insetívoro, com uns quarenta centímetros (40 cm) de comprimento e quinze centímetros (15 cm) de altura. Pesando não mais que cento e cinquenta gramas (150 g), este veloz animal correria aos saltos, pelo fato de seus pés apresentarem ossos metatarsais extremamente longos.
Ainda durante a entrevista coletiva, o pesquisador Max Langer, um dos autores do artigo, referiu que pequenos detalhes nestes esqueletos bem preservados revelam características ósseas importantes para se compreender a anatomia ancestral dos dinossauros. Segundo Langer, as principais descobertas anatômicas sugerem que os ancestrais dos dinossauros sofreram adaptações dos ossos das vértebras, da pelve, do fêmur e das articulações do tornozelo, no sentido de tornar a locomoção bípede mais eficiente. O paleontólogo informou que a dentição altamente especializada de Buriolestes sugere que o ancestral de todos os dinossauros também deveria ser um animal pequeno e carnívoro. Para Langer, a origem dos dinossauros deve ter ocorrido antes de 230 milhões de anos e, provavelmente, no antigo supercontinente Gondwana, em terrenos que hoje viriam a ser a América do Sul (Brasil e Argentina).
Um dos autores do artigo, o pesquisador Alexander Kellner, do Museu Nacional da Universidade Federal do Rio de Janeiro, salienta que a pesquisa e importância científica dos achados não param com a publicação do artigo. "O fato de o dinossauro Buriolestes e o ‘precursor’ lagerpetídeo Ixalerpeton terem sido encontrados juntos, abre uma importante janela para a pesquisa das paleofaunas onde viviam dinossauros e espécies bem próximas.” Mas o achado se destaca não apenas nisso. Segundo Kellner, um dos pontos mais interessantes a serem pesquisados é o crânio de Ixalerpeton, algo que é considerado inédito. Ele afirma que um dos próximos passos da pesquisa é analisar o crânio deste “pré-dinossauro” com o micro tomógrafo computadorizado, tendo como objetivo revelar detalhes da caixa craniana (onde fica alojado o cérebro) de um animal proximamente relacionado aos dinossauros. “Será algo espetacular para a compreensão do surgimento desses répteis que dominaram a Era Mesozóica", garante.
A equipe de pesquisadores que participou nas diversas fases de estudo destes fósseis brasileiros pertence a nove universidades diferentes, e, de acordo com o paleontólogo Sergio Cabreira, coordenador dos trabalhos, isto é um fato muito significativo. “Os próximos passos da pesquisa trazem diversos desafios para a ciência brasileira”, afirma. De acordo com o pesquisador, além de responder vários questionamentos antigos, essas grandes descobertas abrem um universo de novas possibilidades e teorias sobre a origem e radiação dos primeiros dinossauros.
INFORMAÇÕES TÉCNICAS:
Revista Current Biology
. Periódico científico dos Estados Unidos dedicado a todas as áreas da biologia.
. Publicado quinzenalmente e somente aceita artigos revisados por profissionais da área de interesse do artigo.
. Fundado em 1991, desde 2001 é publicado pelo prestigiado grupo Cell Press.
. De acordo com o Journal Citation Reports, o jornal tem fator de impacto de quase 10 pontos, o fazendo um dos mais bem ranqueados globalmente na área de biologia evolutiva.
Título do Artigo Publicado
A Unique Late Triassic Dinosauromorph Assemblage Reveals Dinosaur Ancestral Anatomy and Diet
Data da publicação: 10 de novembro de 2016
www.cell.com/current-biology
Equipe de Pesquisadores que Participaram do Projeto de Descrição Científica em 2016:
Sergio Furtado Cabreira – Museu de Ciências Naturais, Ulbra Canoas, RS
Max Cardoso Langer - Laboratório de Paleontologia (FFCLRP/ USP), Ribeirão Preto, SP
Alexander Wilhelm Armin Kellner – Departamento de Geologia e Paleontologia, Museu Nacional da UFRJ, RJ
Sérgio Dias-da-Silva – Centro de Apoio à Pesquisa Paleontológica (CAPA/UFSM), Santa Maria, RS
Rodrigo Carrilho - Centro Universitário La Salle, Canoas, RS
André Brodt - Centro Universitário La Salle, Canoas, RS
Lúcio Roberto da Silva – Ulbra Cachoeira do Sul e Centro de Apoio à Pesquisa Paleontológica (CAPA/UFSM), Santa Maria, RS
Mario Bronzati – Centro de Estudos Ludwig-Maximilians - Universidade e Coleção do Estado da Baviera para a Paleontologia e Geologia, Munique, Alemanha
Júlio Cesar de Almeida Marsola - Laboratório de Paleontologia (FFCLRP/USP), Ribeirão Preto, SP / Escola de Geografia, Ciências da Terra e Ambientais da Universidade de Birmingham, Birmingham, Inglaterra
Rodrigo Temp Müller – Centro de Apoio à Pesquisa Paleontológica (CAPA), UFSM, Santa Maria, RS
Jonathas de Souza Bittencourt - Departamento de Geologia, UFMG, Belo Horizonte, MG
Brunna Jul’Armando Batista - Museu de Ciências Naturais, Ulbra Canoas, RS
Tiago Raugust - Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia Catarinense (IFC), Concórdia, SC
Nome Científico 1: Buriolestes schultzi
Classificação Filogenética do Dinossauro: Sauropodomorfo Carnívoro (Basal)
Origem do Nome:
Buriol – referência ao nome do proprietário do sítio fossilífero onde o fóssil foi encontrado + lestes: gr. Ladrão. Designando os seus hábitos predatórios carnívoros. Schultzi – referência ao grande pesquisador e paleontólogo gaúcho Dr. César Leandro Schultz, pela imensa contribuição à ciência paleontológica internacional.
Localidade da Descoberta:
Os fósseis foram descobertos e coletados no Sítio Buriol, durante expedições realizadas durante os anos de 2009 e 2010, em atividades que envolveram muitos pesquisadores. Este sítio fossilífero se localiza no município de São João do Polêsine, na região Central do estado do Rio Grande do Sul, Brasil.
Datação do Fóssil:
Este fóssil foi encontrado em rochas sedimentares do Período Triássico Superior, com idade Carniana de 237-228 milhões de anos.
Importância Científica:
É o primeiro sauropodomorfo carnívoro encontrado até hoje em todo o mundo. Seu esqueleto fóssil articulado é um dos mais completos e bem conservados dentre todos os achados paleontológicos do início da era dos dinossauros. O fóssil contém um crânio quase completo (13 cm), coluna vertebral, cintura escapular, membros anteriores e vértebras sacrais. Também foram encontrados ossos da cintura pélvica (ílio, ísquio e púbis), membros posteriores e uma pata traseira, além de toda a série de vértebras caudais. A boa preservação dos ossos permitirá futuros estudos comparativos anatômicos e histológicos com a utilização de equipamentos de alta tecnologia.
Tamanho do Fóssil:
Pequeno animal bípede, de apenas um metro e meio (150 cm) de comprimento e cinquenta centímetros (50 cm) de altura. Pesaria em torno de sete quilos (7 kg).
Hábitos Alimentares:
Buriolestes schultzi seria um pequeno dinossauro brasileiro carnívoro e predaria presas pequenas. Suas vítimas prováveis seriam os cinodontes, rincossauros, aetosáurios, procolofonídeos e peixes. Apresentando os ossos do esqueleto extremamente pneumatizados e leves, deveria ser um animal com alto metabolismo e um corredor veloz. Seu crânio era baixo e alongado. Tinha uma dentição repleta de dentes curvos e serrilhados, adaptados à predação de presas pequenas, que provavelmente seriam engolidas inteiras. Ele viveria em bandos, como pode ser deduzido pelo fato de que ossos de animais jovens e adultos foram encontrados agrupados em um único local. Uma característica interessante é que estes animais já teriam, provavelmente, comportamentos sociais complexos de cuidados parentais.
Nome Científico 2: Ixalerpeton polesinensis
Classificação Filogenética do Dinossauriforme: Lagerpetideo
Origem do Nome:
Ixalerpeton: lagarto saltador dos ossos brancos + polesinensis: referência ao município de São João do Polêsine, região Central do estado do Rio Grande do Sul, Brasil, local onde o fóssil foi encontrado.
Localidade da Descoberta:
Os fósseis foram descobertos e coletados no Sítio Buriol, durante expedições realizadas nos anos 2009 e 2010 nas quais participaram pesquisadores de várias universidades brasileiras. Este sítio fossilífero se localiza no município de São João do Polêsine, região Central do estado do Rio Grande do Sul, Brasil.
Datação do Fóssil: Este fóssil foi encontrado em rochas sedimentares do Período Triássico Superior, com idade Carniana de 237-228 milhões de anos.
Importância Científica:
É o mais completo esqueleto fóssil de lagerpetídeo encontrado até hoje no mundo. Seu fóssil contém partes do crânio, coluna vertebral, membros anteriores, vértebras sacrais, ossos da cintura pélvica (ílio, ísquio e púbis), membros posteriores e vértebras caudais. Os lagerpetídeos são considerados “precursores” dos dinossauros.
Tamanho do Fóssil:
Pequeno animal bípede e saltador, de apenas quarenta centímetros (40 cm) de comprimento e quinze centímetros (15 cm) de altura, pesando não mais que cento e cinquenta gramas (150 g).
Hábitos Alimentares:
Ixalerpeton polesinensis seria um pequeno carnívoro insetívoro. Este pequeno dinossauriforme brasileiro viveria em bandos, como pode ser deduzido pelo fato de que ossos de diversos animais foram encontrados agrupados em um único local. A característica mais interessante deste animal é que ele correria aos saltos, o que pode ser deduzido pelos ossos das patas traseiras (metatarsais) muito longos.