Parte da pesquisa foi desenvolvida com apoio da FAPESP durante o pós-doutorado de Cláudia Quintino da Rocha, no Instituto de Química da Unesp, em Araraquara, e no laboratório da Universidade de Genebra, na Suíça, com supervisão dos professores Jean-Luc Wolfender e Emerson Queiroz. Na Unesp, a pesquisa teve orientação de Wagner Vilegas, atualmente docente no Instituto de Biociências da Unesp no Litoral Paulista.
Em seu doutorado, Rocha isolou uma molécula inédita da planta presente no cerrado brasileiro e a testou em modelos in vitro e in vivo. A substância apresentou uma alta atividade contra o parasita Trypanosoma cruzi, causador da doença de Chagas.
O estudo foi desenvolvido no âmbito do Projeto Temático “Fitoterápicos padronizados como alvo para o tratamento de doenças crônicas”, coordenado por Vilegas (Leia mais em: http://agencia.fapesp.br/17244/), e também contou com apoio do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq).
“Ao olhar para essa planta, nas pastagens de Minas Gerais, as pessoas nem imaginam que ela pode ter um grande potencial terapêutico”, ressalta Vilegas, especialista em química de produtos naturais. “Trata-se de uma atividade promissora, mas ainda são necessários mais testes até que se chegue ao uso em humanos. São etapas longas, complicadas, custosas, mas que precisam ser feitas”, avalia.
Um dado importante da pesquisa é que, nas doses testadas até o momento, o composto não apresentou toxicidade significativa. Atualmente, existem no mercado apenas dois medicamentos para tratamento da doença de Chagas: o nifurtmox e o benzonidazol. O primeiro apresenta reduzido poder tripanocida (capacidade de matar o parasita), uma vez que é eliminado rapidamente no plasma e deve ser administrado continuamente. Além disso, apresenta inúmeros efeitos colaterais como náuseas, vômitos, dores estomacais, entre outros. Já o benzonidazol não pode ser usado no tratamento pediátrico e causa fortes reações adversas, semelhantes ao nifurtmox.
Rocha, que hoje é professora da Universidade Federal do Maranhão (UFMA), contou que os efeitos colaterais desses medicamentos são muito fortes e, por isso, muitos pacientes precisam suspender o tratamento.
“Cerca de 30 % dos infectados que não tratam a doença na fase aguda vão desenvolver os sintomas da fase crônica.” Nesta última etapa, a grande preocupação é a insuficiência cardíaca, que pode causar morte súbita.
Além disso, 40% dos pacientes sentem fortes efeitos colaterais, como dores de cabeça, fadiga, insuficiência renal, diarreia, enjoos e vômitos. “O uso da nova substância poderá tornar o tratamento da doença tão eficaz quanto os que já existem, porém sem efeitos colaterais”, finaliza Rocha.
O passo seguinte será realizar novos ensaios in vivo para atestar a segurança da molécula. Em seguida, pretende-se desenvolver formulações farmacêuticas com o composto. Um pedido de patente foi depositado no Instituto Nacional da Propriedade Industrial (INPI) sobre a descoberta e aplicação da nova molécula.
Vilegas lembrou que as doenças crônicas são responsáveis por cerca de 40% das enfermidades na população adulta brasileira, segundo dados mais recentes da Pesquisa Nacional de Saúde, feita pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) em 2013.
De acordo com o pesquisador, o Brasil tem uma biodiversidade enorme mas ainda pouco explorada. “Meu objetivo é tentar buscar na natureza alternativas para as doenças crônicas que sejam mais viáveis, menos tóxicas, mais baratas e que estejam à disposição da população”, acrescentou.
Agência FAPESP