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chemistryA população mundial deverá saltar do atual patamar de 7 bilhões de pessoas para 9 bilhões até 2050. Esse aumento trará desafios globais, como o de possibilitar o acesso a alimentos a esse contingente de pessoas, de forma sustentável. A maior parte das soluções para esse e outros problemas globais poderá vir da Química, avaliou Adriano Defini Andricopulo, professor do Instituto de Física de São Carlos da Universidade de São Paulo (IFSC-USP) em conferência durante a 68ª Reunião Anual da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC).
Com o tema “Sustentabilidade, tecnologia e integração social”, o evento ocorre até a próxima sexta-feira (09/07) no campus de Porto Seguro da Universidade Federal do Sul da Bahia (UFSB).

“A Química, sem dúvida, deve dar a maior contribuição para solucionar os desafios globais no século 21”, estimou Andricopulo, que é membro do comitê executivo e coordenador de transferência de tecnologia do Centro de Pesquisa e Inovação em Biodiversidade e Fármacos (CIBFar) – um dos Centros de Pesquisa, Inovação e Difusão (CEPIDs) apoiados pela FAPESP.

De acordo com dados apresentados pelo pesquisador, em 1960 um hectare de terra alimentava duas pessoas. Em 2050 a mesma quantidade de terra terá de alimentar mais de seis pessoas.

Esse desafio é agravado pelo fato de que hoje não se consegue alimentar nem os 7 bilhões de pessoas existentes no mundo, ponderou. “Será preciso desenvolver novos produtos para proteger as culturas agrícolas contra pragas e doenças”, apontou Andricopulo. “Nesse sentido, a síntese química terá um papel fundamental."

Cerca de 40% dos alimentos existentes no mundo hoje não existiriam se não houvesse agroquímicos para protegê-los do ataque de organismos causadores de doenças em plantas (fitopatógenos), disse o pesquisador.

A fim de desenvolver novos princípios ativos para pesticidas e herbicidas voltados a controlar ervas daninhas, pragas e doenças fúngicas – uma vez que com o passar do tempo os organismos podem desenvolver resistência a elas –, os químicos têm buscado cada vez mais inspiração em compostos naturais.

Muitas plantas produzem misturas complexas de substâncias químicas que afetam o comportamento de insetos, influenciando onde vão se alimentar ou procriar, afirmou o pesquisador. “Essa informação pode ser usada para desenvolver métodos práticos para o controle de pragas”, disse.

Já o aumento do conhecimento sobre a nutrição vegetal pode resultar na melhoria de plantas para absorver nutrientes vitais, como nitrogênio, de forma mais eficiente, indicou Andricopulo.

Um elemento essencial para o desenvolvimento das plantas, uma vez que é usado em uma série de processos metabólicos, o nitrogênio é abundante na atmosfera, mas não tem nenhuma utilidade biológica direta e precisa ser convertido em outras formas, como nitratos, que as plantas são capazes de usar.

As plantas, contudo, não podem absorvê-lo diretamente do ar, mas somente nas formas de amônia solúvel em água ou nitrato, em que são convertidas por bactérias que vivem no solo.

A fim de fornecer esses compostos para as plantas, têm sido usados fertilizantes, como nitrato de amônio. O uso indiscriminado de fertilizantes, contudo, pode causar a degradação da qualidade do solo, a poluição das fontes de água e da atmosfera e o aumento da resistência de pragas.

“A Química pode contribuir na produção de catalisadores mais baratos, por exemplo, que poderiam ajudar as plantas a fixar nitrogênio de forma mais eficiente”, avaliou Andricopulo.

Outro elemento essencial para as plantas – que, em alguns anos, até 80% dele estarão disponíveis em formas que não podem ser absorvidas e usadas – é o fósforo.

A fim de disponibilizá-lo para as plantas são usados comumente fertilizantes criados a partir de fosfato extraído de depósitos de rocha sedimentária e tratado quimicamente para aumentar sua concentração e torná-lo mais solúvel, de forma a facilitar sua absorção.

O problema, contudo, é que os depósitos de fosfato no mundo podem se esgotar nos próximos 50 a 100 anos. “A Química pode desempenhar um papel importante no desenvolvimento de novas tecnologias para recuperar o fósforo a partir de resíduos para potencial reutilização”, apontou Andricopulo.

Congresso Mundial de Química

O pesquisador destacou que, em julho de 2017, o Brasil será o primeiro país da América do Sul a sediar o Congresso Mundial de Química da União Internacional para a Química Pura e Aplicada (IUPAC, na sigla em inglês).

Uma instituição científica global, criada em 1919 por químicos acadêmicos e industriais, e reconhecida como autoridade em nomenclatura, terminologia, padronização de métodos de pesos e medidas, peso atômico e outros dados químicos, a IUPAC realiza a cada dois anos um congresso mundial.

Até então, somente países da Europa, Ásia, Oceania e América do Norte sediaram o evento.

“A realização do Congresso Mundial da IUPAC no Brasil será o maior evento de Química na América do Sul”, estimou Andricopulo.

O congresso será realizado entre os dias 9 e 14 de julho no World Trade Center, em São Paulo.

Mais informações e inscrições: www.iupac2017.org.

Agência FAPESP