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O método, desenvolvido pela ex-aluna do Instituto de Física e Química de São Carlos (IFQSC/USP), atualmente docente e pesquisadora do Instituto de Química de São Carlos (IQSC/USP), Agnieszka Pawlicka Maule, poderá ser instalado em tanques de guerra e outros veículos terrestres, funcionando como uma espécie de camaleão, que altera as cores do verde ao amarelo, em diversas tonalidades, de modo instantâneo.
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Esta pesquisa começou em 2009, quando Agnieszka Pawlicka Maule participou de um workshop que ocorreu em Porto Rico, no Caribe, acompanhada de sua amiga, a pesquisadora Anna Samoc, que, embora tenha nascido na Polônia, vive há algum tempo na Austrália. No evento, ambas começaram a conversar a respeito de pesquisas que utilizavam macromoléculas de DNA em dispositivos eletrocrômicos. Durante a conversa, Anna Samoc comentou que conhecia um docente polonês, chamado Adam Januszko, que atuava no Instituto Militar de Engenharia Tecnológica (WITI) da Polônia e que tinha interesse nesse tipo de dispositivo, e que iria colocá-la em contato com ele.
No citado evento, em uma conversa bastante rápida que teve com Agnieszka, Januszko destacou o desejo que tinha em desenvolver um dispositivo que pudesse ser aplicado na área militar, camuflando veículos, trajes e instalações, em tons que "imitassem" as cores da natureza (verde, amarelo, branco, marrom...). Até então, os únicos dispositivos já criados faziam a camuflagem apenas no espectro do infravermelho, que não permite camuflagens em luz visível.
Posteriormente, após ministrar um seminário no citado instituto militar, a docente estabeleceu, então, uma parceria com o Prof. Januszko, que já tinha um sistema de reconhecimento e transposição de cor que mapeava os tons de um ambiente e os imprimia. "Meu objetivo era desenvolver um sistema que, ao invés de apenas imprimir cores para camuflar tecidos, pudesse mudar os tons em tempo real. Foi um desafio desenvolver o dispositivo camaleão, porque não havia nada relacionado a esse tipo específico de metodologia na literatura científica", explica Agnieszka Maule.
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Para provocar as reações químicas neste dispositivo, foi preciso aplicar um potencial elétrico (fenômeno físico), resultando na mudança da cor do filme. Em outras palavras, para camuflar um veículo, é necessário aplicar um campo elétrico entre os eletrodos, para promover o deslocamento dos elétrons e íons para dentro do filme eletrocrômico.
Ao contrário da já conhecida tecnologia utilizada em óculos fotocromáticos, que escurece as lentes automaticamente, a metodologia do novo dispositivo eletrocrômico poderá ser controlada pelo motorista do veículo, que por sua vez decidirá em qual momento o efeito da camuflagem será ativado e exibido a partir de pixels com dimensões de, aproximadamente, um a cinco centímetros quadrados.
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Capa da invisibilidade
Da mesma forma como o personagem Harry Potter pode andar escondido sob uma manta invisível pelos corredores do castelo de Hogwarts, no futuro, militares também poderão andar por diversos cenários sem serem vistos. Além do material vítreo usado para criar o dispositivo para veículos, Agnieszka tem estudado também substratos de plásticos que poderão futuramente integrar o dispositivo em roupas. "Temos tido alguns pequenos problemas para inserir a metodologia nesse tipo de material, mas estamos trabalhando nisso. Porém, a parte de vestuário é um objetivo que temos para um futuro ainda mais longínquo", diz ela, que trabalha com dispositivos eletrocrômicos desde 1993, quando iniciou o seu pós-doutorado no IFQSC/USP.
Embora a tecnologia esteja finalizada, os pesquisadores envolvidos neste projeto estão trabalhando ainda para melhorar a qualidade do sistema e desenvolver, talvez daqui a alguns meses, um protótipo, tendo em vista que já há uma empresa militar europeia interessada em adquirir a patente, para fabricá-lo e comercializá-lo futuramente.
(Imagens e ilustração do dispositivo: Lucas M. N. de Assis e Agnieszka Pawlicka Maule)