Investigar tripletos de galáxias e entender como seus integrantes interagem entre si é o foco de um estudo feito pelo pós-doutorando Marcus Vinícius Costa-Duarte e seu supervisor, Sodré Jr., e que acaba de ser publicado no Monthly Notices of the Royal Astronomical Society (MNRAS). O estudo é apoiado pela FAPESP.
“A gente sabe que a evolução de uma galáxia depende basicamente de duas variáveis, sua massa e o ambiente em que ela se situa”, diz Costa-Duarte. “Neste estudo, a gente quis saber como as galáxias se formam em ambientes de tripletos. Concluímos que as galáxias mais massivas dos tripletos desempenham um papel fundamental na evolução das outras duas, e do sistema como um todo.”
A investigação astronômica foi feita a partir dos dados do Data Release 10 do Sloan Digital Sky Survey (SDSS-DR10), com centenas de milhões de galáxias. Os astrônomos usaram um algoritmo de computador para fazer a busca automática de tripletos de galáxias, cuja galáxia principal possuísse massa equivalente ou superior a 10 bilhões de estrelas como o nosso Sol.
Para se ter uma ideia, esta é a massa da Grande Nuvem de Magalhães, a maior das galáxias-satélites da Via Láctea. A nossa galáxia, por sua vez, tem uma massa estimada de 850 bilhões de sóis (não confundir este valor com o total de estrelas da Via Láctea, estimado hoje em 400 bilhões).
Além de divergir em tamanho, as galáxias também variam segundo a sua forma. Todo mundo reconhece a espiral majestosa de galáxias como a Via Láctea. Mas as galáxias também podem ser gigantes elípticas, ou mesmo exibir contornos irregulares, como é o caso da Grande Nuvem de Magalhães.
Muitas vezes o formato de uma galáxia é produto do seu material constituinte: estrelas, planetas, poeira interestelar e da chamada matéria escura – além de vastas nuvens de gás primordial. Tais nuvens são compostas pelo hidrogênio e hélio produzidos no Big Bang há quase 13,8 bilhões de anos. Este hidrogênio primordial é a matéria-prima e o combustível para a formação de novas estrelas.
Galáxias espirais e irregulares são aquelas que ainda possuem nuvens de gás primordial e que, portanto, têm a capacidade de forjar novas gerações de estrelas.
As maiores galáxias do Universo são em sua maioria elípticas. Nelas, o gás primordial foi consumido e a formação de estrelas cessou. Não obstante, sua massa gigantesca exerce atração gravitacional tremenda sobre a sua vizinhança. É justamente aí que entram os tripletos investigados por Costa-Duarte e Sodré Jr.
O algoritmo selecionou na base da dados do Sloan Digital Sky Survey 80 tripletos de galáxias, todos situados numa faixa entre 550 e 1.370 milhões de anos-luz de distância da Terra – para se ter uma ideia, Andrômeda, vizinha da Via Láctea, fica a “apenas” 2,5 milhões de anos daqui.
A luz dos tripletos de galáxias analisados foi emitida entre 1,37 bilhão e 550 milhões de anos atrás, época em que a vida multicelular, ou seja, os primeiros animais, apenas começava a surgir nos oceanos terrestres.
“Entre os 80 tripletos investigados poderíamos ter um sistema com três galáxias de massas iguais. Mas não foi o que observamos”, diz Costa-Duarte. As maiores galáxias de cada sistema são as mais brilhantes, as que têm o maior número de estrelas e, por conseguinte, as de maior massa. Quase sempre são gigantes elípticas.
“São galáxias aposentadas”, diz Costa-Duarte. “Elas formaram estrelas muito rápido e consumiram todo hidrogênio disponível. Não formam mais estrelas. São formadas quase exclusivamente por estrelas antigas.”
Já no caso das duas companheiras da galáxia principal em cada tripleto há de tudo: espirais, irregulares e pequenas elípticas.
O estudo revelou que as galáxias menores sofrem uma interação gravitacional devido à atração da galáxia principal, de maior massa. Então, pelo mesmo princípio que faz a Lua girar em torno da Terra e a Terra orbitar o Sol, a galáxia principal atrai suas companheiras.
Tal atração tem o poder de deslocar as nuvens de gás das vizinhas. E esse deslocamento é o que provoca a formação de novas estrelas. Na medida em que as nuvens de gás se movem, aquelas regiões da nuvem com maior densidade de gás tendem a atrair e acumular cada vez mais gás, iniciando um processo que leva a um surto de formação estelar capaz de formar centenas a milhares de estrelas simultaneamente.
“Os tripletos são estruturas mais simples para entender as principais características da formação de galáxias”, diz Sodré Jr. O próximo passo da pesquisa é comparar os resultados da análise dos tripletos com o que se observa nos grupos galácticos, com algumas dezenas de membros. “São entidades cósmicas bem mais complexas”, diz Sodré Jr.
O artigo Dissecting galaxy triplets in the Sloan Digital Sky Survey Data Release 10: I. Stellar populations and emission line analysis (doi: 10.1093/mnras/stw816), assinado por Costa-Duarte e Sodré Jr., entre outros, e publicado no MNRAS, pode ser lido em http://mnras.oxfordjournals.org/content/459/3/2539.
Agência FAPESP