A informação é de um estudo de pesquisadores da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq) da Universidade de São Paulo (USP) e da Universidade Estadual de Londrina (UEL), apoiado pela FAPESP e publicado no periódico científico internacional Biomass and Bioenergy.
O trabalho focou na indústria dos estados de São Paulo, Minas Gerais, Mato Grosso do Sul, Mato Grosso e Goiás, além do Distrito Federal, cuja produção representa aproximadamente 84% da nacional.
“O Brasil é um país de dimensões continentais cujas condições socioeconômicas variam consideravelmente entre as suas regiões geográficas. A maioria dos estudos sobre os efeitos da indústria da cana tem se concentrado no Estado de São Paulo, mas, para uma avaliação mais abrangente, é essencial expandir essa análise às outras regiões do país, contemplando estados menos industrializados”, disse Márcia Azanha Ferraz Dias de Moraes, do Departamento de Economia, Sociologia e Administração da Esalq-USP.
A partir do ano 2000, impulsionada pelas demandas dos mercados interno e externo, iniciou-se uma aceleração acentuada da taxa de crescimento da indústria da cana-de-açúcar no Brasil, cuja produção cresceu 124,6% até 2008, de acordo com dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) apresentados no estudo. A quantidade de terras dedicadas ao cultivo também teve acréscimo no período, de 68,2%.
Isso, dizem os pesquisadores, levou à construção de novas usinas e ao aumento das exportações de açúcar e etanol, que cresceram 199,4% e 2152,3%, respectivamente.
De acordo com o estudo, as exportações brasileiras de açúcar aumentaram de cerca de 6,5 milhões de toneladas (mt) em 2000 para 19,4 mt em 2008. De forma ainda mais intensa, no mesmo período, as exportações de etanol aumentaram de cerca de 0,22 hectômetro cúbico (hm3) para 5,11 hm3. Por conta disso, os ganhos cambiais da exportação de açúcar e álcool foram de US$ 31 bilhões e US$ 7,18 bilhões, respectivamente, fazendo com que ambos, juntos, representassem 10,4% das exportações de todo o setor do agronegócio brasileiro (8,5% para o açúcar e 1,9% para o etanol).
Os dados são algumas das variáveis que compuseram o modelo econométrico com o qual os pesquisadores trabalharam para obter os impactos do setor no PIB municipal. O modelo, denominado espacial dinâmico por considerar os efeitos temporais e regionais dos processos avaliados, foi adaptado à realidade do setor sucroenergético da região. Ele abrange variáveis ligadas à produção de açúcar e álcool – como a proporção da área agrícola, o papel da cana em relação a outras culturas e a presença de usinas, entre outras – e outras variáveis não diretamente relacionadas, mas que impactam no PIB, como, por exemplo, a renda média dos trabalhadores.
Foram considerados dados de todos os 2.363 municípios dos estados estudados, obtidos de fontes como o IBGE e a Relação Anual de Informações Sociais (Rais) do Ministério do Trabalho e Previdência Social, entre outras. A composição do banco de dados e as estimativas foram realizadas por Luiz Fernando Satolo e supervisionadas por Moraes no âmbito da bolsa de pós-doutorado apoiada pela FAPESP – "Efeitos da expansão do setor sucroenergético sobre o PIB per capita municipal: modelos, métodos e contrafactuais".
Os resultados do estudo também indicam que a produção de cana-de-açúcar e a existência de usinas de açúcar e de etanol têm impacto positivo sobre o PIB médio per capita não só dos municípios onde estão localizadas, mas também nos 15 municípios mais próximos.
“Em um cenário de 10% de aumento da área de cana-de-açúcar, observou-se que o PIB médio per capita cresceu US$ 76. A existência de uma planta de etanol no município eleva o PIB médio per capita no ano de instalação da usina em US$ 1.098, enquanto o dos 15 municípios mais próximos têm acréscimo médio de US$ 475. Os efeitos positivos também são observados ao longo do tempo. Por exemplo, após 10 anos de instalação da planta de açúcar ou de etanol, o aumento no PIB médio per capita é de US$ 1.028 no próprio município e de US$ 324 para os 15 municípios mais próximos”, disse Moraes.
Os pesquisadores concluem que a produção em larga escala de etanol e de açúcar a partir de cana-de-açúcar no Brasil tem efeitos socioeconômicos positivos na região Centro-Sul, percebidos pelo aumento do PIB municipal per capita médio. Para Moraes, “os resultados do estudo podem auxiliar no desenho da política energética brasileira, visto que, além dos impactos ambientais positivos da produção de etanol de cana, é importante considerar os efeitos positivos ao desenvolvimento regional”.
Apesar da crise pós-2009, as exportações de açúcar e etanol ainda são relevantes para o agronegócio brasileiro. De acordo com o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, as exportações no setor totalizaram US$ 99,97 bilhões em 2013, dos quais a indústria da cana foi responsável por 13,70%, compreendendo as exportações de açúcar (US$ 11,84 bi) e de etanol (US$ 1,86 bi), destaca o estudo.
“Os resultados do modelo sugerem que, no sentido oposto, uma redução no número de usinas e uma retração da área de cana-de-açúcar poderiam ter impactos negativos, causando um efeito contrário do que foi observado no PIB municipal per capita”, disse Moraes.
O artigo Accelerated growth of the sugarcane, sugar, and ethanol sectors in Brazil (2000 - 2008): Effects on municipal gross domestic product per capita in the south-central region (doi:10.1016/j.biombioe.2016.05.004), de Márcia Azanha Ferraz Dias de Moraes e Mírian Rumenos Piedade Bacchi, do Departamento de Economia, Administração e Sociologia da Esalq-USP, e Carlos Eduardo Caldarelli, do Departamento de Economia da UEL, pode ser lido em: www.sciencedirect.com/science/article/pii/S0961953416301489.
Agência FAPESP