O processo no qual as células malignas se desprendem do tumor e se distribuem pelo organismo através da corrente sanguínea é conhecido como Metástase e faz com que essas células se instalem primeiramente no linfonodo sentinela*, um gânglio (pequena estrutura) presente em várias regiões do corpo humano (principalmente no tronco, nas axilas, nas virilhas e no pescoço) que drena a linfa, uma substância que, nesse caso, é composta tanto pelas células saudáveis como pelas malignas. Após se instalarem nesse linfonodo, as células cancerígenas podem se espalhar por todo o corpo e originar novos tumores.
Mas como saber se já ocorreu a Metástase? Para esclarecer essa dúvida, é necessário retirar o linfonodo sentinela através de uma biópsia e fazer uma análise patológica, na qual se identifica a presença das células metastáticas. Quando não há o comprometimento do linfonodo sentinela, o sistema linfático pode ser preservado, reduzindo os efeitos colaterais.
O método mais comum utilizado nesse tipo de detecção é o rádio-fármaco, em que se injeta uma substância radioativa no paciente, que é drenada junto com as células malignas, permitindo localizar o linfonodo no qual elas estão instaladas. Porém, apesar de ser muito sensível, a precisão dessa técnica não é tão elevada. Por isso, às vezes, um cirurgião pode encontrar diversos linfonodos e não saber ao certo qual é aquele que está abrigando as células malignas, tendo que dissecar uma grande extensão de tecido, o que aumenta os efeitos colaterais e as complicações pós-operatórias. "No caso da biópsia em pacientes com câncer de mama, por exemplo, são retirados e analisados os linfonodos axilares. O método pode ocasionar efeitos indesejados, como dores no braço e limitação de movimento, além de parestesia [que pode causar formigamento, queimação, frio e outras sensações]", explica Angelo Biasi Govone, pesquisador do IFSC que desenvolveu o protótipo do aparelho durante seu projeto de mestrado, que foi orientado pela Profa. Dra. Cristina Kurachi (IFSC/USP).
O equipamento criado no Grupo de Óptica é constituído por duas câmeras (uma que capta imagens em preto e branco e outra que permite visualizar imagens coloridas), um conjunto de LED's infravermelhos e brancos que ajuda a detectar as células e a captar as imagens, um monitor que permite visualizar as cenas captadas no instante em que se realiza a operação, e por uma manopla que pode ser manuseada pelo próprio cirurgião. "No mercado, há um equipamento semelhante ao nosso, mas que necessita de um outro profissional para manuseá-lo, enquanto o cirurgião opera o paciente. Pelo fato do nosso aparelho ter uma manopla, o próprio cirurgião pode manuseá-lo durante o procedimento cirúrgico, aumentando a precisão e o acerto durante a localização do linfonodo sentinela", diz Angelo, que realizou os testes de localização em dezesseis pacientes com câncer de língua, cabeça e pescoço, e de pele (melanoma), no Hospital de Câncer de Barretos, no interior de São Paulo.
A funcionalização desse aparelho é baseada em um sistema de fluorescência. Ou seja, para localizar o linfonodo sentinela, injeta-se um corante com propriedades fluorescentes ao redor do tumor. Quando é excitado pelos LED's, o corante emite uma fluorescência que é observada através do equipamento em questão, permitindo localizar o linfonodo sentinela. Após a localização do linfonodo que abriga as células cancerígenas, são realizadas a dissecção e a análise patológica do tumor.
O custo do novo aparelho, segundo Angelo Govone, deverá ser inferior à média de valores dos equipamentos já comercializados atualmente. Ainda de acordo com o pesquisador do IFSC/USP, já existem serviços de saúde interessados em adquirir o novo sistema, cuja patente está em andamento.
*O linfonodo sentinela é uma parte do sistema linfático. Este sistema é uma rede composta por gânglios e vasos linfáticos que tem como uma de suas funções a defesa do corpo humano contra agressões, como infecções por microorganismos e células defeituosas.